Tolkien encontra Bernard Cornwell – estampa a quarta capa do livro.
Estratégias publicitárias desse tipo são um tanto duvidosas, pois os fãs costumam ficar irritados com um novato comparando-se aos seus monstros sagrados. Neste caso, porém, vale a pena ignorar qualquer preconceito inicial, pois A Companhia Negra rapidamente define uma identidade própria no gênero da fantasia medieval, inclusive passando longe dos autores citados.
No primeiro de uma série de dez livros, iniciada nos anos 1980 e que finalmente chega ao Brasil através da editora Record, o autor Glen Cook nos joga em seu universo sem qualquer aviso ou preparação. A Companhia Negra é um grupo de mercenários, cujos tempos de glória há muito passaram. Reduzidos a um pequeno contingente, eles se veem envolvidos num grandioso conflito entre a Dama, a mais poderosa feiticeira que já existiu, e um numeroso exército rebelde. Recrutados por um dos dez Tomados, principais servos da Dama (outrora ferrenhos adversários dela, corrompidos por uma espécie de lavagem cerebral mágica), os membros da Companhia logo se destacam por sua destreza, ao mesmo tempo em que passam a questionar se estão do lado certo dessa luta.
O estilo do autor já de início surpreende os leitores experientes no gênero. Como citado anteriormente, Cook começa a contar sua história como se o cenário e os personagens já tivessem sido apresentados. Sua preocupação em situar o leitor na geografia, história e política daquele universo é mínima, pra não dizer nula.
Sabemos o que precisamos saber, e QUANDO precisamos saber. Pra alguém habituado a Tolkien, ou mesmo George R. R. Martin, é um choque e tanto. Mas, passada a estranheza inicial, é fácil e prazeroso embarcar na história, também porque a escrita em si é a mais direta e objetiva possível. O livro é narrado em primeira pessoa pelo médico Chagas, o responsável por registrar os anais da Companhia. Um detalhe divertido é que ele mesmo censura-se quando começa a ter alguma divagação mais filosófica, dizendo algo como “Ei, diabos, eu sou um mercenário, não um poeta”. Dessa forma, a linguagem dos personagens nada tem do lirismo tipicamente medieval, soando incrivelmente contemporânea. Também no quesito desenvolvimento dos personagens não há nada muito aprofundado. Eles são definidos por suas características mais marcantes, virando estereótipos. Isso e a forma como se relacionam entre si torna a Companhia Negra comparável, muito mais do que a qualquer obra literária, a filmes de ação com militares, em especial os oitentistas. O que faz muito sentido, sabendo que Glen Cook foi fuzileiro da Marinha norte-americana.
O resultado de toda essa simplicidade (que passa longe de mediocridade, porém) é uma obra que se pode chamar de única no gênero. Com pouco mais de 300 páginas, A Companhia Negra é uma leitura rápida e agradável, uma grata surpresa e uma novidade muito bem-vinda no campo da fantasia medieval. Recomendável até para os não-apreciadores desse estilo, que não suportam longas descrições e enrolações. Fica a expectativa pelo lançamento dos demais livros da saga o mais breve possível.
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Texto de autoria de Jackson Good.
justamente como você disse, o autor não descreve quase nada. e isso foi um fator crucial que eu não tinha levado em conta antes de comprá-lo. é muito confuso e raso. prefiro me ambientar na história e cenários juntos, para ter uma experiência mais completa da obra,o que não aconteceu no livro. por ter faltas de descrições, até a história acaba sendo confusa. um livro de 300 páginas que poderia ter facilmente mais de 600, 700. eu,pessoalmente, não indico a compra do livro.
Um livro pouco descritivo ser apontado como falha para algumas pessoas é uma coisa, daí pra ele ter mais de 600 ou 700 páginas pra ser bom, desculpa aí, mas tem algo errado.
Agora todo mundo precisa ser George Martin…
É, de cara já entendi que isso seria uma faca de dois gumes, até falamos mais sobre isso no podcast. Mas acho que CONFUSO ele só é no começo, depois que vc se situa e entende a proposta, acho que dá pra aproveitar bem a história. Fora que o estilo de escrita diferente do padrão do gênero por si só já é um atrativo, se o cara optasse por ser mais descritivo, vc nao acha que seria encher linguiça e acabaria com o fator que dá mais identidade a essa obra?
Nao gostar, direito de cada um. Mas condenar algo por discordar da proposta inicial (ou nao entende-la) me parece injusto. Como disse o Flavio, nem todo mundo precisa ser um Martin ou Tolkien…
lembramdo q foi o Cook q criou esse genero de dark fantasy como vemos hj.
e a maioria dos autores contemporâneos admitem a influencia dele. menos alguns como o Martin q querem passar a imagem de gênio da originalidade.
em que podcast vcs falam da companhia negra?
Na agenda 44:
http://www.vortexcultural.com.br/podcast/agenda-cultural-44-vingadores-cs-e-o-vingador-do-futuro/
Para complementar o exemplo dos amigos acima.
Essa descrição que você pede, para mim, seria algo que afastaria. O excesso de páginas por si só, não significa qualidade. Hoje em dia eu até penso de forma contrária. Sempre dou preferência a um autor que saiba dizer muito, falando pouco.
shadows linger livro 2 da companhia negra traduzido do espanhol para vc que como eu não consegue esperar pela publicaçao no brasil. não sou espscialista em tradução mas esta totalmente compreensivel.
https://www.facebook.com/groups/theblackcompanybrasil/