As crônicas de Luis Fernando Veríssimo, em As Mentiras Que as Mulheres Contam (Editora Objetiva), transporta as situações-problemas-cotidianas de um dos seus livros mais famosos, a saber As Mentiras Que os Homens Contam (compre aqui), ao sexo feminino. O resultado é aquilo que o autor sabe fazer melhor: análise da vida privada com aquele toque de humor, ironia e até certas doses de estranhamento. Tudo conforme essa quimera que atende por cotidiano.
O riso nunca é a finalidade da crônica, contudo o hilário sempre perpassa por esse estilo de texto. A explicação para esse fenômeno talvez resida no principal objeto de prazer desse gênero literário: o cotidiano desenfreado. Ao se ater às situações-problema do dia-a-dia nos mais diferentes níveis de classes sociais, a crônica isola cenas, reais ou não, do comportamento humano e desenvolve-as de uma forma inusitada, mas sem perder o toque de verossimilhança que lhe é característica.
Resultam das cenas diárias, principalmente as captadas na longeva carreira de cronista de Veríssimo, situações irracionais que beiram o estranhamento e incitam o riso. A chave para se alcançar isso está nas corretas doses de ironia e até simplicidade que abundam nos textos. Cito a simplicidade não por conta das frases curtas, objetivas e certeiras escritas pelo autor, mas pela escalada dos acontecimentos.
As crônicas começam ingênuas, pueris, como uma conversa de bar onde um garçom com tempo sobrando ou feito às amizades, puxa um papo despretensioso e você, talvez sem reação, ouve. Daí em diante, o autor, gradualmente, aumenta a intensidade da situação até beirar o absurdo. O mérito do escritor reside aí: na facilidade de transmitir o inusitado cotidiano.
Em As Mentiras Que As Mulheres Contam temos flertes despropositados, amores mal resolvidos, amores bem-resolvidos, traições, aniversários e aniversariantes, paixão, sexo, o impacto da diferença de idade entre os sexos, mães, pais, surpresas, gastronomia, filhas, cunhadas, desentendimentos, etc, tudo simpaticamente bem feito. Aliás, ler cada crônica desperta sempre alguma simpatia, como se fosse algo próximo de nós.
Leitura mais do que recomendada, Veríssimo é um dos maiores expoentes da crônica brasileira. Um exímio analista dos tipos que fazem o cotidiano nacional e, sobretudo, um mestre em contar boas e deliciosas histórias.
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Texto de autoria de José Fontenele.
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