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  • Resenha | Guia de Sobrevivência do Exilado no Próprio País – Alexandre Meira

    Resenha | Guia de Sobrevivência do Exilado no Próprio País – Alexandre Meira

    “O seu país, o nosso país, é racista, misógino, homofóbico e, principalmente, covarde”. A excelente frase faz parte do Guia de Sobrevivência do Exilado no Próprio País (Editora Penalux), do escritor Alexandre Meira, um livro com cinco potentes crônicas que destrincham as origens do cotidiano político medíocre que impera no status quo nacional. Ambicioso, Alexandre estima em suas crônicas monólogos com informações preciosas para outros brasileiros que também se sentem reféns da necropolítica federal. Além da natureza urgente do assunto em si, grande parte do sucesso do livro está na forma como o autor maneja bem a produção das próprias crônicas.

    Crônicas, por onde começar? A crônica é um gênero híbrido por excelência, engloba tanto informações de caráter não-ficcional, jornalístico, quanto momentos de beleza literária, herança da Literatura e dos primeiros cronistas nacionais que também eram escritores de mão cheia, como Lima Barreto, Machado de Assis, João do Rio, só para citar alguns. No meio desse tempero encontramos ironias, provocações, variedade de referências (Alexandre vai do Futebol a Nelson Rodrigues, de Pizarro ao tribunal da Lava Jato, por exemplo), informações históricas (sobretudo dos anos de 1990 ao tempo atual), fatos jornalísticos, tudo muito bem costurado por eloquentes e claras frases.

    Sobre as cinco crônicas, são elas: O golpe na amendoeira; O gol da Alemanha e a revanche dos vira-latas; Pizarro, cavalos, ovos e o fim da Lava Jato; Por que eu matei Marielle?; Chão de Amêndoas. Quero destacar alguns pontos de três delas. Em “O golpe na amendoeira”, o cronista toca em primeiro plano o processo de impeachment sofrido pela presidenta Dilma por conta das “pedaladas fiscais”. Mas em segundo plano, o que chama atenção é a disputa acirrada entre dois amigos que discutem se ela cometeu ou não os crimes econômicos. “Disputa” e “Discussão” porque, como o cronista bem observa neste e em outros pontos do livro, estamos em uma época que o diálogo está morto por uma corrente política que chegou ao poder pregando a polarização dos discursos. Isso não é diálogo, é discurso com a intenção de calar correntes opostas, e Alexandre explica como esses golpes duros contra o diálogo matam também a própria ideia de democracia, que pressupõe, por excelência, o espaço para todas as pessoas dialogarem pelo bem público.

    “Por que eu matei Marielle?” é outra crônica com um assunto mais evidente, a saber, a morte da vereadora Marielle Franco em março de 2018 (até hoje ainda sem mandantes conhecidos), mas com dois assuntos secundários importantes para discussão: a banalização da violência (seja ela contra as mulheres, minorias, ou por conta de sexualidades), e como há um sistema perverso no país que trabalha incansavelmente para exterminar representantes de camadas menos privilegiadas (Marielle era negra, homossexual e de pobre origem) do país. É um sistema que tem ojeriza à mudança do status quo, que luta para manter tudo como está, com elevadores de serviço e piadas homofóbicas e racistas em cada esquina. Como bem escreve o cronista: “Nunca houve nada mais perigoso para quem tem medo de uma verdadeira mudança do que algo que abra a fórceps sua estreita visão de mundo ante um futuro viável e livre de seus preconceitos. (…) Ela [Marielle] representava justamente essa verdadeira mudança.” Quem mandou matar Marielle?

    Última crônica do livro “Chão de Amêndoas” acompanha as mudanças políticas, econômicas e sociais desde a primeira eleição democrática brasileira, em 1989, pelos olhos do autor, intercalando com a própria infância e crescimento dele. Alexandre colhe fatos históricos ao seu lado, desde a TV de tubo onde acompanhou os primeiros horários políticos em 1989, às transformações no próprio bairro e no novo cotidiano do país. Uma crônica potente que abarca história nacional, o ponto de vista humano, as transformações políticas e sociais, o nascimento de um poder paralelo na Zona Oeste carioca (milícias), exemplos de fundamentalismo religioso, entre outros pontos. Um verdadeiro exemplo de narrativa, informação e texto em sincronia.

    Guia de Sobrevivência do Exilado no Próprio País consegue atingir o que almeja: um manual atualizado para quem se propõe deixar o obscurantismo de lado e dialogar com os principais acontecimentos que nos trouxeram até o pessimista momento político atual. Este livro não possui apenas crônicas, mas monólogos que buscam fortalecer diálogos nesse espaço (em tese) democrático da política nacional. Leitura muito recomendada.

    Compre: Guia de Sobrevivência do Exilado no Próprio País.

    Texto de autoria de José Fontenele

     

     

  • Resenha | Todas as Histórias do Analista Bagé – Luis Fernando Veríssimo

    Resenha | Todas as Histórias do Analista Bagé – Luis Fernando Veríssimo

    “- Como é que tu ficou desse jeito, tchê?

    – Um trauma.

    – Pois toma outro!”

    O tal analista de Bagé já entrou para a história da literatura brasileira dos anos 80, a chamada década perdida devido a tormenta de fatores políticos, econômicos e culturais que o Brasil enfrentou, e permanece traumatizado desde então. Enquanto o céu desabava em forma de ditadura militar, um homem de métodos não muito ortodoxos (por mais que negue isso) andava a revirar, com grande prazer, todos os recantos do espírito humano da forma mais sarcástica possível, em um consultório com uma secretária espertinha, e um pelego para se deitar, expondo toda sorte de loucuras e desamores não-resolvidos. Afinal, o doutor só pegava os piores casos, já que “cavalo manso, só para levar a missa”. Adepto de Freud, nosso Senhor, e mais mulherengo que marido de mulher barbada, seu nome é Analista de Bagé, e as crônicas que protagoniza tem o que há de melhor na criatividade deliciosa de Luis Fernando Veríssimo, de A Mesa Voadora e outras belezas.

    Belezas essas que tais crônicas, tão rápidas quanto marcantes, tratam de retratar com um vigor e um sarcasmo a toda prova. Veríssimo é autor de excentricidades e saborosas ironias bem brasileiras, com um humor inconfundível a impregnar suas criações e reflexões até o talo, de cabo a rabo. Fato é que um livro seu, por mais breve que seja, vale como a mais gostosa conversa de boteco numa tarde de primavera que se possa ter, rindo da vida como se esta fosse um hospício que tratamos de levar a sério demais. O Analista de Bagé reconhece e encarna essa visão, já tendo suas peripécias adaptadas para o teatro e as HQ’s também, e contando com sua fiel secretária Lindaura, separa para sua análise no divã os “melhores” tipos de esquizofrênicos e complexados do Rio Grande do Sul – e sem poupar algumas verdades inteiras quando é preciso. A reunião de Todas as Histórias do Analista de Bagé é puro ouro, com o leitor porventura sentindo-se tentado a passar por uma análise bem politicamente incorreta com esse personagem, vivo até demais.

    Certa vez, atendeu um cleptomaníaco. Na outra, um paciente que se achava o Presidente da República, sem falar naquele que não queria deitar no divã – até porque sofria de incontinência urinária. Não o bastante, o Analista foi chamado às pressas para Londres para curar a princesa Diana de uma tristeza profunda, no que ele diagnosticou como pura e simples “frescura da realeza”. Não havia enigma que, em três páginas, o doutor não resolvesse com sua psiquiatria tresloucada, tal uma cozinheira que detecta mudança no tempero só de sentir o cheiro. Bagé tinha sorte e não sabia: contava com um representante de Freud que não tolerava teimosias, e nem gente que desrespeitasse seu mestre alemão. É claro que o Analista trocou o cachimbo pelo chimarrão, e assim se tornou uma figura lendária, ganhando até mesmo uma estátua da prefeitura de Bagé, no Rio Grande (que, segundo ele, foi feito com mais capricho que qualquer outro estado). Um ilustre morador da cidade, mas também da nossa literatura, nobre como suas confusões e sua sabedoria de malandro velho.

    Ele sempre sabe o que dizer – e o que fazer, ainda mais quando o paciente quer se jogar pela janela ou acha que é metade cavalo. Tem de tudo no consultório. E vai chamar gaúcho de homossexual pra ver o que acontece. Só não é pior do que urinar no seu pelego. Todas as Histórias do Analista de Bagé faz parte de um regionalismo e de uma época de moralidades muito particulares, cujas expressões, verdades e dilemas permeiam essas crônicas de forma generalizada, intrínseca. Retratos legítimos de um outro tempo na sociedade de Bagé, dos anos 80. Veríssimo faz-se extremamente hábil e gracioso em suas tramas curtas, emblemático em sua já mencionada visão de mundo através de um analista que chega a se analisar, de tão curioso pelo espírito humano que, para ele, é mais misterioso que o fundo do mar. Como diria: “Não te fresqueia e deita logo!”, ou vai acabar levando o joelhaço mundialmente reconhecido e aprovado do Analista. Isso sim, cura todos os males.

    Compre: Todas as Histórias do Analista de Bagé – Luis Fernando Veríssimo.

  • Resenha | A Mesa Voadora – Luis Fernando Veríssimo

    Resenha | A Mesa Voadora – Luis Fernando Veríssimo

    Se comer não é um dos maiores prazeres dessa vida cheia de boletos para pagar, e gente chata para aturar, tentemos então fazer um TOP 10 das melhores coisas da vida sem o maravilhoso ato renegado pelos gulosos. Isso porque eles sempre querem mais, e comer, desde um pão a um pernil recheado do natal, não merece ser levado aos extremos mais vulgares de sua prática. Manjare é bom demais para ser vulgarizado, ou banalizado por alguma gororoba que a vida urbana nos faz comer, e é por isso que, junto de viajar, transar, ouvir nossas músicas favoritas, e fazer parte de um grupo social, o regozijo do bom comer (e de beber, não se esqueça do néctar) é tão impagável quanto todas as outras maravilhas que fazem valer a pena nossos meros cem anos, esse século de vida reservado ao ser-humano. Não a todos!

    Será que é algo que os japoneses comem? Tempo o bastante para provar todas as iguarias deste mundo, eles conseguem ter, como nenhum outro povo. E ao invés disso, alguns certamente preferem inventar robôs – o que é o certo e o errado, afinal? Fato é que cem anos não deve ser muita coisa nem para um vinho, não os de padaria, mas aqueles excelentes que melhoram com o tempo e nos fazem tomá-los de joelho, e agradecendo a Deus pelo paladar que tem a espécie. O escritor Luis. F. Veríssimo parece ser um desses casos, um sommelier natural, um glutão que nem taurino é para entender tanto assim de comidas e outros petiscos, mas que em A Mesa Voadora faz sua rendição: aqui, o prestigiado autor brasileiro revela sua ode bem-humorada a uma das melhores coisas que um homem (e uma mulher) podem fazer, sem terem a culpa de não entrarem numa calça 38.

    Afinal, bem como fica explícito em uma de suas melhores crônicas desta irresistível publicação da editora Objetiva, cujo único defeito é ser curta demais, a bem da verdade, todo prazer será castigado pelas divindades que criamos. Veríssimo degusta, e vai longe aqui no uso cronical dos prazeres degustativos, associando, assim, a comida a inúmeras situações como se esta fosse um espectro a rondar a experiência humana, e fazer parte das nossas melhores e piores horas. Ganha pontos, muitos pontos quando se depara com a hilária condição de um provador de comidas, ou ao refletir, da forma mais perspicaz possível sobre a desgraça que uma salsinha representa para qualquer receita – diz até que uma de suas leitoras aprendeu como se diz ‘salsinha’ em todos os idiomas para, nas suas viagens mundo afora, negar o tal ingrediente aonde quer que esteja.

    Antes prevenir, do que comer uma salsinha escondida, sorrateira, debaixo da carne. Além disso, Veríssimo, que provavelmente nunca irá experimentar a extraordinária canja de galinha da minha vó, e eu me sinto mal por ele e por qualquer um, nos lembra em meia-dúzia de palavras o quão triste e infantilóide são os norte-americanos. Ele pega pesado nessa análise, sempre com bom-humor, mas sendo aqui o mais ácido e corrosivo possível para falar da cultura dos hambúrgueres e dos baldes de pipoca no cinema. Devido a sua enorme sagacidade como escritor de grandes livros brasileiros, o autor de A Mesa Voadora se infiltra em mil e uma normalidades para salpicar um ingrediente extra, a cada uma delas: seja uma maçã, um champignon, um ovo, um pastel de beira de estrada (que tem o seu charme), ou até uma água mineral. Mas jamais salsinha. Isso é proibido, assim como deveriam ser os baldes de pipoca pingando manteiga. Os dedos ficam asquerosos. Se fossem só os dedos…

    Compre: A Mesa Voadora – Luis Fernando Veríssimo.

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  • Resenha | Entre Salas e Celas – Marcelo Semer

    Resenha | Entre Salas e Celas – Marcelo Semer

    Livre de discursar sobre a laicidade do Estado Brasileiro, a corrupção que aparentemente existe no meio Judiciário do país, e outros temas tão polêmicos quanto de vasta análise, as trinta e quatro crônicas de Entre Salas e Celas, da Editora Autonomia Literária, permitem-se mergulhar de cabeça no componente humano para qual o sistema criou todo o seu aparato jurídico. Ao representar, dentro de um tribunal, e com todas as suas figuras típicas, seus clichês de interrogatórios e suas suspeitas, a ordem social que deve ser mantida e respeitada, o juiz Marcelo Semer expõe um caráter confidencial em relatos de uma vida inteira de profissão, e que denotam o quanto o mundo das leis é impulsionado não apenas pela razão, como pela emoção, e, muitas vezes, até mesmo, pelo peso do acaso.

    De audiência em audiência, o leitor é convidado a adentrar no mundo da criminalidade urbana brasileira além dos becos, das favelas, do Congresso Nacional, mas num cenário onde a última palavra é sempre dita por quem é sempre impactado pelos milhares de casos que já julgou. Assim como um professor que lembra boa parte dos nomes de seus alunos, um Excelentíssimo não é incólume a isso – em absoluto. Ao relembrar os seus vinte anos de profissão nas varas criminais de São Paulo, Semer explora com curiosidade algumas situações que passou, outras com mais carinho, ou com um pesar que verte das páginas. Sua profissão jamais poderia ser a mais feliz, e certamente é uma das mais desafiantes, intelectual e emocionalmente, num país cujos inúmeros problemas fazem ferver o banco dos réus.

    Até porque, na complexidade da vida humana, os fatores se misturam e as circunstâncias de um determinado caso, triviais por excelência, podem ser bastante dramáticas diante da figura emblemática, e intimidante para alguns, de um “doutor” capaz de decidir solenemente a vida de um(a) cidadã(o) qualquer. Os relatos não poderiam ser mais espirituosos, honestos e reféns, claro, da realidade brasileira de indivíduos que, ou se envolvem com ações criminais, ou são envolvidos até prestarem depoimento e serem imprevisíveis no choro, no riso, no suor ou no grito quando submetidos ao crivo definitivo, libertador ou não, da balança implacável. Como esquecer, portanto, o choro de uma mãe no tribunal, ou o condenado que reconhece seus crimes, e aprova, intenso, sua própria prisão?

    São coisas assim, inesquecíveis, que a memória sensível de um magistrado, mesmo experiente, não apaga – e não consegue, então, guardar só para si mesmo. No país de Rafael Braga, e Aécio Neves, dois pesos nem sempre são duas medidas. Talvez o grande árbitro, humano acima de tudo, e sempre cercado de advogados, testemunhas e promotores, se inspire então nos ideais de honestidade de boa parte dos seus julgados ao confessar, numa das melhores crônicas do livro, que os três P’s (Pretos, Pobres e Prostitutas) são de fato os clientes preferenciais da justiça penal no Brasil. Negar isso seria negar o óbvio, tendo nisso uma honrosa oportunidade, perdida pelo livro, em criticar o sistema e os seus meandros mais íntimos. Uma pena.

    Sempre imparcial na condução dos seus pequenos grandes contos sobre gente comum, exposta aqui ao “juridiquês” que muitos não entendem, por vários motivos, Semer faz de Entre Salas e Celas as desventuras em série de um juiz de direito, atuando numa terra de mil rostos e cores, vidas desperdiçadas, e oportunidades para recomeçar tudo, de novo. De história em história, conhecemos um drama nacional fragmentado que, reunido, compõe o mural de uma sociedade que, exposta ao acaso, as emoções e a razão de um tribunal, reflete seus medos, valores e seu senso de justiça. Assim, tem-se aqui uma leitura agradabilíssima aos mais entendidos, que certamente irão rir e se emocionar em inúmeras passagens, e aos leigos sobre a bendita (ou maldita) mão que, em teoria, recai sobre tudo e todos, na pátria amada Brasil: a Lei.

    Compre: Entre Salas e Celas – Marcelo Semer.

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  • Resenha | As Mentiras Que as Mulheres Contam – Luis Fernando Veríssimo

    Resenha | As Mentiras Que as Mulheres Contam – Luis Fernando Veríssimo

    As crônicas de Luis Fernando Veríssimo, em As Mentiras Que as Mulheres Contam (Editora Objetiva), transporta as situações-problemas-cotidianas de um dos seus livros mais famosos, a saber As Mentiras Que os Homens Contam (compre aqui), ao sexo feminino. O resultado é aquilo que o autor sabe fazer melhor: análise da vida privada com aquele toque de humor, ironia e até certas doses de estranhamento. Tudo conforme essa quimera que atende por cotidiano.

    O riso nunca é a finalidade da crônica, contudo o hilário sempre perpassa por esse estilo de texto. A explicação para esse fenômeno talvez resida no principal objeto de prazer desse gênero literário: o cotidiano desenfreado. Ao se ater às situações-problema do dia-a-dia nos mais diferentes níveis de classes sociais, a crônica isola cenas, reais ou não, do comportamento humano e desenvolve-as de uma forma inusitada, mas sem perder o toque de verossimilhança que lhe é característica.

    Resultam das cenas diárias, principalmente as captadas na longeva carreira de cronista de Veríssimo, situações irracionais que beiram o estranhamento e incitam o riso. A chave para se alcançar isso está nas corretas doses de ironia e até simplicidade que abundam nos textos. Cito a simplicidade não por conta das frases curtas, objetivas e certeiras escritas pelo autor, mas pela escalada dos acontecimentos.

    As crônicas começam ingênuas, pueris, como uma conversa de bar onde um garçom com tempo sobrando ou feito às amizades, puxa um papo despretensioso e você, talvez sem reação, ouve. Daí em diante, o autor, gradualmente, aumenta a intensidade da situação até beirar o absurdo. O mérito do escritor reside aí: na facilidade de transmitir o inusitado cotidiano.

    Em As Mentiras Que As Mulheres Contam temos flertes despropositados, amores mal resolvidos, amores bem-resolvidos, traições, aniversários e aniversariantes, paixão, sexo, o impacto da diferença de idade entre os sexos, mães, pais, surpresas, gastronomia, filhas, cunhadas, desentendimentos, etc, tudo simpaticamente bem feito. Aliás, ler cada crônica desperta sempre alguma simpatia, como se fosse algo próximo de nós.

    Leitura mais do que recomendada, Veríssimo é um dos maiores expoentes da crônica brasileira. Um exímio analista dos tipos que fazem o cotidiano nacional e, sobretudo, um mestre em contar boas e deliciosas histórias.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Compre: As Mentiras Que As Mulheres Contam.

  • Resenha | Para Onde Vai o Amor? – Carpinejar

    Resenha | Para Onde Vai o Amor? – Carpinejar

    Para Onde Vai o Amor (Bertrand Brasil), do escritor Fabrício Carpinejar, é uma reunião de crônicas com o amor como tema principal. Mas mais do que o agrupamento de relatos cotidianos amorosos, Carpinejar é o operador de um microscópio sobre as formas de amor que atingem tanto homens quanto mulheres em diferentes fases de vida. O livro também pode ser lido como dezenas de conselhos amorosos dos mais sinceros e inteligentes que dispomos no mercado.

    Não é de hoje que Carpinejar é uma espécie de guru moderno quando o assunto é amor e nuances emotivas. O escritor tem uma dezena de obras, em maioria crônicas, tematizadas pelo sentimento pleno e é um expert quando o assunto é relacionamentos. De onde vem tanta inspiração? Não sabemos, mas o que temos certeza é que as palavras dele pesam, têm valor. Para Onde Vai o Amor não é cliché, não te diz o que fazer quando a situação X ou Y acontece, antes, é um livro que transborda faces de sentimento e nos faz confortáveis à medida que avançamos a leitura. É prazeroso pelo aparente descompromisso, mas eficaz pelas mensagens que transmite.

    Frases curtas com excelentes metáforas ao longo do livro, Carpinejar é um dos poucos que consegue escrever com tal nível de responsabilidade e entendimento quando o assunto é o amor. Ademais, é um livro de fácil compreensão que pode ser lido por todo o tipo de pessoas. Com essa simplicidade de escrita, o autor também expõe como o amor pode se transformar de algo inofensivo a incompreendido e, explícita essa intersecção, ele se põe a analisar as nuances que tiram o sono de quem está amando.

    O livro também é precioso (algumas pessoas podem dizer pretensioso), porque busca delimitar o que é o amor na atualidade. Carpinejar, contudo, não peca pela pretensão soberba em redefinir aquilo que somente os bons poetas conseguem versejar, ao invés, o escritor dá pistas, traça linhas visíveis e humildes que podem ser utilizadas como um mapa do tesouro a quem se sente perdido frente à intensidade do sentimento pleno. Livro mais do que recomendado.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Compre: Para Onde Vai o Amor – Carpinejar.

  • Resenha | Força Estranha – Nelson Motta

    Resenha | Força Estranha – Nelson Motta

    forca-estranha-nelson-motta

    Em cenários e épocas diversos, uma série de personagens carismáticos e movidos a forças estranhas e emoções fortes, vivem histórias que o narrador viu, ouviu falar ou até viveu. Não são exatamente contos, pois a estrutura narrativa pende mais para o lado da crônica. São crônicas do cotidiano ambientadas em sua maior parte na orla carioca misturando realidade e ficção na medida certa.

    Filha vira cafetina para chantagear o pai!
    Filho faz filme erótico sobre a vida da mãe!
    Candomblé: corno recebe santo sem querer!
    Largou o marido para consolar o viúvo da filha!
    Sexo, politica e futebol na ditadura argentina!
    Pai e filha no motel assaltado. Cada um com seu amante!
    Ladrões de conversas atacam em Paris!

    Mas falar que são histórias do cotidiano não reflete 100% o conteúdo. O projeto gráfico, que remete às manchetes de jornais e revistas sensacionalistas, já indicam que os “causos” estão longe de ser triviais. Os protagonistas das histórias são, na maioria, pessoas comuns em situações incomuns. E é aí que está a excelência de Nelson Motta, ao contar cada uma delas numa linguagem coloquial, como se estivesse numa conversa de bar.

    Qualquer contador de histórias que se preze – já dizia Nelson Rubens – aumenta, mas não inventa. Assim, por mais improváveis que pareçam, ainda há certa verossimilhança. O leitor ainda se pega pensando “É difícil, mas poderia acontecer”. Usando o humor como argamassa, o autor explora as várias facetas da natureza humana, indo da bizarrice à putaria com a mesma desenvoltura.

    As crônicas são independentes, com personagens diferentes. Mas as histórias finais amarram e entrelaçam os personagens entre si. Essa estrutura de fix-up acaba parecendo forçada, quase um deus ex-machina, já que ocorre de forma abrupta e pouco natural. Seria suficiente que a “amarração” se desse apenas pelo narrador do conto final, que explica como descobriu as outras histórias. Infelizmente, a tentativa de interligar os personagens revela-se canhestra e superficial, em vez de ser o ponto alto do livro. Mas mesmo assim, o texto tem a seu favor a habilidade de Motta em “trazer” o leitor para dentro da narrativa, dando o tom malandro e familiar capaz de causar identificação do leitor com as situações vividas pelos personagens.

    O que é realidade e o que é ficção em cada história? Pouco importa. Vai do leitor. A linha entre o real e o imaginário depende da vivência de cada um.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • [Friamente Calculado] Minha Noite com Justin Bieber

    [Friamente Calculado] Minha Noite com Justin Bieber

    Há quatro anos, por uma razão ainda desconhecida pela ciência, eu decidi ligar uma televisão e assistir ao canal MTV. Para minha completa falta de surpresa, uma criatura andrógina apareceu na tela e começou a cantar uma melodia irritante. Na metade do horrível clipe eu decidi que aquele ser só poderia ser uma menina, não mais velha do que doze anos de idade. Só podia ser isso, de acordo com suas características físicas. Só podia ser isso, eu acreditava.

    Logo depois, fiquei pessoalmente irritado com aquilo. Afinal, era muita cara-de-pau da indústria de música norte-americana de tentar vender uma pobre criança como um astro pop. Precisávamos mesmo de outro desastre como Michael Jackson?

    O tempo passou e eu não dei mais atenção ao assunto. Eventualmente a verdade veio à tona. Descobri que aquele artista era um homem e seu nome era Justin Bieber. E que ele não era uma criança, mas um adolescente de dezesseis anos de idade. E o mais chocante: ele era canadense! Eu fiquei sem reação ao saber de tudo isso.

    Esse foi meu primeiro contato com Justin Bieber. Até hoje eu guardo a memória nítida de como aquilo me afetou negativamente. Não só eu estava irritado como estava confuso.

    Anos mais tarde, o destino iria me mostrar que eu não estava tão errado em minha primeira reação quanto ao astro pop.

    *****

    Era novembro do ano passado e eu tinha um trabalho no Rio de Janeiro. Mais um alvo padrão: colombiano, traficante de cocaína, gordo, idiota e, claro, viciado em animes. Meus contatos diziam que ele iria passar uma noite em um puteiro, o que me dava a oportunidade perfeita para o serviço. Um puteiro no Rio de Janeiro, pensei. Muito apropriado.

    Preparei o terreno com antecedência e me vesti a rigor. Coloquei a máscara e o uniforme negros. Me armei com pistolas, granadas, metralhadoras, facas, rifles, dinamite, bazucas e um revólver. É, dava pro gasto. Ainda não tinha decidido se iria me livrar dele com uma pistola ou uma lâmina.

    Entrei sorrateiramente no recinto. Explodi a porta do quarto onde o alvo estava com explosivo plástico. Adentrei o quarto e notei que o alvo estava acompanhado de duas profissionais do sexo em cima dele, vestidas como Asuka e Rei. Ambos me olharam com medo por um segundo. Foi o tempo que levou para eu sacar e acertar uma shuriken na testa do alvo, matando-o imediatamente. As prostitutas começaram a gritar e pude ouvir os guardas do alvo se aproximarem. Saí pelo corredor e corri até o elevador recém chegado ao andar.

    Entrei antes que as portas se fechassem. Foi quando percebi que havia uma garota ali comigo.

    *****

    Agarrei-a com rapidez, fechando-lhe a boca. Pude sentir seu corpo leve e frágil se tencionar por completo sob o toque de minhas mãos. Esperei ela entender a situação. Ela relaxou um pouco, então retirei minha mão lentamente de seus lábios.

    “Q-Quem é você?”, ela me perguntou em um inglês perfeito.

    “Isso não importa. O que importa é que sou perigoso. E eu posso fazer o que quiser com você”, respondi com minha voz áspera e meu inglês de Cambridge.

    Senti-a se retesar novamente. Não pude deixar de notar a volúpia de seu corpo. Era difícil manter o profissionalismo perto de uma figura tão atraente como aquela.

    “A questão é: quem é você, mocinha?”, perguntei.

    “E-eu sou… Justin Bieber”, ela respondeu, em um desabafo.

    Por um momento minha mente não processou a informação. Virei-a completamente, até poder olhar diretamente para ela. Então percebi: era, de fato, Justin Bieber, o cantor pop mundialmente famoso. Seus olhos gentis me olhavam com medo e sua face se enrubescia de vergonha.

    “Mas que porra? O que você está fazendo aqui?”, exclamei.

    Ele (?) me olhou confuso, sem saber o que responder. Ouvi as vozes dos guardas se aproximando e tive que agir rapidamente. Agarrei Justin pela cintura e o apoiei em minhas costas. Escalei as paredes do elevador e sai pela portinhola superior. Subi pelos cabos de aço, com Justin a tiracolo, enquanto os guardas descarregavam sua munição no elevador vazio. Chegamos até o terraço do pequeno edifício e pus Justin de pé.

    “E agora? Estamos sem saída!”, declarou Justin, com sua voz angelical.

    “Sempre há uma saída. E eu sempre estou preparado”, respondi.

    Fui até a porta de acesso do terraço, onde havia uma grande massa apoiada na lateral, coberta por um pano negro. Retirei a camuflagem e revelei a Kawasaki Ninja 300, totalmente preta, que eu havia posto ali caso surgisse uma emergência como aquela. Subi na motocicleta e olhei para Justin.

    “Vai subir ou quer morrer aqui?”, intimei-o.

    Ele se levantou desajeitadamente e correu afeminadamente até a moto, onde montou na garupa e se agarrou firmemente a minha cintura com suas mãos aveludadas. Essa sensação já estava me incomodando, mas eu não tinha tempo para lidar com aquilo agora.

    “Que barulho é esse?”, Justin me interrompeu.

    Percebi o ruído e entendi que tínhamos pouco tempo. Empinei a moto e comecei a acelerar. Foi nesse momento que o helicóptero com os guardas apareceu e a chuva de balas começou a cair sobre nós. Preparei o salto com precisão. A moto saltou entre um terraço e outro e eu saquei minhas duas metralhadoras uzi no ar, cravando o helicóptero de projéteis até ele explodir, matando todos em uma gloriosa bola de fogo. Justin não pôde conter o grito típico de adolescente histérica até pousarmos do outro lado. Depois de sairmos da moto, percebi que o astro pop estava tremendo.

    “Você pode conseguir um táxi aqui perto. Até mais”, disse a ele, me retirando.

    “Não, espere”, ele (?) disse. “Me leve com você”, pediu timidamente, fitando-me com aqueles lindos olhos castanhos.

    Percebi que poderia aproveitar aquela oportunidade para sanar minha dúvida.

    *****

    Chegamos até o meu quarto de hotel, onde o jovem se acomodou e eu tomei um banho para tirar o cheiro de sangue e pólvora da minha pele. Saí do banheiro somente com a toalha, cobrindo minha cintura, e minha máscara. O artista pop olhou-me surpreso, mas desviou o olhar, fingindo não ter manjado a minha rola.

    “Você nunca tira a máscara?”, Justin perguntou, tentando mudar de assunto.

    “Não”, respondi secamente. “Nunca”.

    Bieber cruzou as pernas de uma maneira peculiar, o que me chamou atenção.

    “Então, você é uma espécie de assassino?”, ele me interrogou.

    “Não te interessa. Eu sou o cara que salvou sua vida e isso é tudo que você precisa saber”, respondi, enquanto me servia de uísque.

    Observei o suposto garoto por um instante e decidi arriscar.

    “Sua postura, sua voz, suas feições, seu perfume… Me diga, o que tem de tão estranho em você?”, perguntei.

    Justin me olhou atônito, como se eu tivesse contado uma anedota sexual sobre a mãe dele.

    “E-eu não sei do que você está falando!”, ele respondeu, com uma voz mais feminina do que o normal.

    Me aproximei. Ele estava visivelmente desconfortável e tentando esconder algo. Eu não tinha mais paciência para aquele joguinho, então subitamente coloquei minha mão em sua virilha e apertei. Justin deu um salto e caiu na cama onde estava sentado. Eu olhei para ele e sorri, com minhas dúvidas respondidas. Não havia nada ali, nenhum pacote em sua calça.

    “Sempre desconfiei que você fosse mulher”, comentei. “Porque a fachada?”, perguntei.

    Justin olhava para o teto sem falar, atônita. “Eles convenceram minha mãe a fazer isso, quando eu ainda era bem jovem. Disseram que eu nunca faria todo o sucesso que eu poderia sendo mulher… Que fingindo ser um menino eu ganharia muito mais fama”.

    “Qual é seu nome de verdade?”, interroguei.

    “Justina”, ela respondeu finalmente. “Justina Bieber. Você é a primeira pessoa para quem eu conto isso em anos”, completou.

    “E quanto as suas namoradas? Selena Gomes?”, indaguei.

    “Ah, é tudo fachada. A indústria da música já faz isso há décadas para encobrir a orientação sexual de seus artistas. E a Selena é uma grande amiga… Na verdade o problema dela é o inverso do meu.”, ela comentou.

    “Como assim?”, perguntei.

    “Bem, ela na verdade é um homem fingindo ser uma menininha”, respondeu.

    “Oh”, eu disse, enojado com a indústria da música. “Diga-me Justina… Você já teve um namorado?”, perguntei impulsivamente.

    “Na-não. Nunca tive tempo para essas coisas. Dedico todo meu tempo a minha carreira…”, ela respondeu, melancólica.

    O silêncio tomou conta do recinto. A tensão sexual entre nós era quase palpável no ambiente. Ela me olhava com desejo e receio e eu a olhava com uma ereção massiva. Não pude mais me conter e me atirei contra ela, beijando sua boca e abraçando seu corpo macio. Arranquei as calças dela em um movimento. Ela soltou um leve grito quando aproximei minha cabeça entre suas pernas e comecei a beijar seus lábios… Lambendo sua flor intocada.

    “Não, não faça isso!”, ela implorou com um sussurro. “Eu nunca fui tocada aí!”.

    Ela começou a gemer alto com sua voz angelical. O ritmo aumentando e seu corpo ficando cada vez mais relaxado. Até que, enfim, ela encontrou o clímax. Envergonhada de seu lindo orgasmo, ela abriu os olhos, me convidando a fazer mais. Eu retirei minha toalha e ajeitei o quadril dela na cama. A penetração foi lenta e vigorosa. O corpo de Justina se contraiu com a entrada e ela deu um gemido de dor quando seu hímen foi rompido, mas logo estávamos em um ritmo alucinado.

    Continuamos durante toda a noite. Suor, sêmen e saliva se misturavam enquanto nossos corpos se deliciavam mutuamente. Logo Justina revelou-se uma típica menina de família: recatada e virginal nas aparências, mas uma puta maluca na cama. Quando menos percebi já estávamos brincando de quantos objetos podíamos colocar em sua vagina. Foi um sexo selvagem e descontrolado. Eu mesmo não transava assim desde a quarta série.

    Ao raiar do Sol, eu já tinha violado Justin Bieber em todos os seus orifícios. Ela, exausta e satisfeita, caíra em um sono profundo na cama, dormindo como um anjo. Eu, por outro lado, estava bem acordado e contemplando um dilema:  ia embora como sempre ou ficava e tentava algo novo com a minha vida?

    Como criatura do hábito que sou, segui meu código e decidi ir embora. Mas não pude ir sem antes lhe dar um beijo de despedida.

    *****

    Nunca mais encontrei Justin Bieber.

    Às vezes me pego pensando o que poderia ter sido da nossa história se eu tivesse permanecido naquela noite. Eu teria largado minhas armas e começaria uma família com ela? Ela ainda fingiria ser homem para ganhar dinheiro de fãs retardadas? Ficaríamos juntos?

    De qualquer maneira, são águas passadas.

    Eu sempre guardarei na memória o perfume do seu cabelo e a maneira erótica com que ela gritava “Baby! Baby! Oww!” a cada estocada que eu dava em seu cu.

    Texto de autoria de “The Nindja”.

  • [Friamente Calculado] De Nada

    [Friamente Calculado] De Nada

    [INÍCIO DE TRANSMISSÃO]

    Olá, meus novos súditos.

    Como alguns de vocês devem ter percebido, agora faço parte da Família Vortex Cultural. E não me orgulho nem um pouco disso. Mas isso é assunto para outro momento.

    Ganhei minha fama na Internet, e no mundo, com meu fanfic especial de Natal chamado Tesões Enrustidos. Foi algo inovador na história desse site e na história do Brasil. Desde o começo eu sabia que estava brincando com forças Arcanas além dos limites conhecidos pela Mente Humana e que, no final, eu estaria abrindo portas proibidas nos cérebros dos leitores que nunca mais poderiam ser fechadas… E eu nunca me importei.

    Depois do sucesso estrondoso do fanfic, Flávio Vieira (hoje casado com Rafael Moreira e pai de dois filhos) me implorou para fazer parte da equipe do Vortex Cultural. E eu, é claro, recusei. Mas sua insistência foi tanta que depois da quinquagésima terceira vez eu decidi dar uma chance ao site.

    Ingressei há pouco tempo com o conto Pela Graça do Senhor, o que deveria ter me garantido um Pulitzer e um Nobel, mas me foram negados por causa da inveja de algumas pessoas que desejo não citar aqui.

    De qualquer maneira, fiz algumas pequenas exigências para escrever no site e agora sou o Rei/Chefe/Ditador desse pequeno pedaço de excremento virtual. E, como figura política, faço as seguintes promessas:

    – Vou transformar o Vortcast em um podcast de qualidade superior. Com conteúdo suficiente para fazer frente à Biblioteca de Alexandria, e entretenimento o bastante para competir com um puteiro de beira de estrada.

    – Está declarada guerra contra os sites que levam o entretenimento a sério. JovemNerd, Omelete, MRG, etc, seus dias de mediocridade estão contados, filhos-da-puta. Faço questão de estar presente na futura execução de cada um de vocês.

    – Vou usar todo o meu poder para destruir essa doença que vêm se espalhando pelo Vortex Cultural: Pablo (Villaça?) Grilo e seu servo otaku, Nicolau Aoshi. Tenho plena certeza de que nenhum progresso é possível em um Universo em que essas duas criaturas existam.

    E podem ficar tranquilos, tenho experiência em sumir com pessoas indesejáveis. Lembre-se de Pedro Lobato. “Quem?”, você pergunta. Exatamente.

    – O ensaio fotográfico com Isadora Sinay vai sair. Pode apostar a vida da sua mãe nisso.

    – [CENSURADO]

    – Como o bom filantropo que sou, vou dedicar parte do meu precioso tempo para alfabetizar Jackson Good e Filipe Pereira. Porque ninguém deve sofrer preconceito em nossa sociedade civilizada… Por mais burra que essa pessoa seja.

    E quanto a vocês, caros comentaristas, é melhor se comportarem… Ou eu mato vocês! Hahahaha!

    Mas falando sério: eu sei onde cada um de vocês mora.

    A Era da Zoeira começa agora.

    [FIM DE TRANSMISSÃO]

    Texto de autoria de “The Nindja”.

  • Resenha | A Graça da Coisa – Martha Medeiros

    Resenha | A Graça da Coisa – Martha Medeiros

    Martha Medeiros já está consolidada nacionalmente como uma autora de sucesso há alguns anos, publicando livros com tiragens muito acima do esperado no mercado editorial brasileiro. No entanto, confesso que pouco conhecia a respeito do seu trabalho.

    A autora começou seu trabalho escrevendo poesias, ainda nos anos 1980, mas só se tornou conhecida pelo país ao escrever crônicas para os jornais Zero Hora, de Porto Alegre, e O Globo, do Rio de Janeiro. Após se tornar autora de best-sellers (Um Lugar na Janela, Feliz Por Nada) e ter suas obras adaptadas para o cinema e TV, Martha Medeiros retorna com seu mais novo lançamento, A Graça da Coisa.

    O livro é um apanhado de crônicas publicadas entre 2011 e 2013, para ser mais exato, 80 delas, que reverenciam a tradição da crônica brasileira, abordando assuntos cotidianos, desde o barulho que existe numa cidade grande, como as pequenas felicidades do nosso dia-a-dia, que vão desde banalidades como um cachorro quente à uma declaração de amor.

    Aliás, são esses assuntos cotidianos que mais chamam a atenção do leitor, como algumas crônicas que abordam um pouco de sua paixão pelo cineasta Woody Allen, uma análise do livro Dupla Falta, de Lionel Shriver ou então uma peça de teatro que assistiu. Tudo isso dá um toque especial a algumas de suas crônicas.

    No mais, suas crônicas funcionam quase como um grupo de terapia, onde a autora procura discutir e levantar algumas questões a respeito de assuntos específicos, buscando como solução encarar o problema, e claro, encontrar a “graça da coisa”. Martha Medeiros constrói um texto coeso e sua narrativa é fluida, seja para abordar assuntos como relações familiares, arte ou relacionamentos.

    Obviamente, como em toda coletânea, há crônicas que deixam muito a desejar, como algumas delas se destacam sobre as outras. No mais, vale uma conferida se você já conhece o trabalho da autora ou se os assuntos abordados em suas crônicas te interessam.

  • Resenha | Amor é Prosa, Sexo é Poesia – Arnaldo Jabor

    Resenha | Amor é Prosa, Sexo é Poesia – Arnaldo Jabor

    Adoro livros de crônicas. Coletâneas de pequenos textos são ideais para ler no corre-corre diário de quem estuda, trabalha e nem sempre tem tanto tempo para se dedicar a grandes obras (não só na qualidade, mas também na quantidade de páginas).

    Amor é prosa, sexo é poesia é uma coletânea de cronicas de Arnaldo Jabor, muito conhecido por seus comentários na Rede Globo e na Rádio CBN. Confesso que gosto de ouvi-lo na CBN, ainda que não concorde com muito de sua visão política, mas isso é outro papo.

    Embora o título do livro seja bem sugestivo, não espere encontrar grandes histórias envolvendo conflitos amorosos e sexuais. Na obra, há de tudo um pouco: amor, sexo, nostalgia, família, política, mais nostalgia, mais política… O fato é que as crônicas são opiniões e constatações do autor em relação aos mais variados temas, e na esmagadora maioria das vezes essa opinião reflete a desilusão com a modernidade dos costumes, o desapontamento com a moral vigente nos dias atuais e o desencanto com a política de sempre.

    O autor utiliza-se, no texto, do que sabe fazer de melhor: humor, sarcasmo, linguagem afiada e sem medo de ser politicamente incorreto; porém, o nome do livro não faz jus ao seu conteúdo. Parece que se trata de reflexões afetivas, mas trata-se de reflexões sobre tudo e sobre o nada.

    Em suma, é uma obra divertida em algumas partes, fácil de ler, reflexiva, porém peca em outros momentos quando trata de política e algumas nostalgias com reflexões muito peculiares do autor, que às vezes tornam o texto bem maçante e chato.

    Recomendo não tentar ler a obra de uma vez, como um livro normal. O ideal é ler poucos textos naquele momento em que não há nada para fazer, como em um metrô lotado.

    Arnaldo Jabor às vezes é controverso, moderno demais, liberal demais em suas crônicas televisivas e radiofônicas; entretanto, vemos um Jabor bem diferente em suas reflexões neste livro, que não é um livro para ser de cabeceira, mas é ótimo para passar o tempo.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Robson Rossi.

  • Resenha | Como Andar no Labirinto – Affonso Romano

    Resenha | Como Andar no Labirinto – Affonso Romano

    como-andar-no-labiritndo-affonso-romano-de-santannaComo Andar no Labirinto é uma coleção de crônicas escritas por Affonso Romano de Sant’Anna, poeta, cronista e ensaísta brasileiro. Publicado pela LP&M POCKET em setembro de 2012 sob o número de coleção 1073, o livro traz um apanhado de 65 textos publicados originalmente entre 2001 e 2011, em diversos veículos da imprensa brasileira.

    As crônicas versam pelos assuntos mais diversos, entre textos contemplativos da arte e do cotidiano, análises da nossa sociedade pós-moderna, confluência das artes com o dia-a-dia no mundo, críticas e opiniões sócio-comportamentais, algumas estórias das andanças do autor pelo mundo e sua paixão por seu estado natal, Minas Gerais. Textos que passam sinceridade nos convidando para uma reflexão do que foi abordado.

    Por ser uma obra com diversos textos opinativos, naturalmente haverá a concordância e a discordância do leitor com o autor, com visões de mundo e preceitos que divergem, mas acredito que esse seja um dos papéis da crônica, não apenas informar, mas colocar o “tempero” do cronista, usando para fazer a sua crítica ou contar a sua história cotidiana, elementos de prosa, lirismo ou poesia. Sendo então textos curtos, estes nunca esgotam ou vão a fundo em uma questão específica, mas podem gerar naquele que o lê a centelha do debate e discussão daquelas ideias apresentadas, seja por achar coerente o ponto de vista ou encontrar uma opinião totalmente divergente.

    Evocando em muitos textos esse sentimento de reflexão, Como Andar no Labirinto, não é um livro para se ler de cabo a rabo de uma vez, mas sim para degustar alguns textos diariamente, e como o próprio autor clama em um de seus escritos, não deglutir a informação, mas digeri-la mastigando aos poucos e aproveitando todas as nuances que a obra pode lhe oferecer.

    Interessante também notar a organização dos textos, que pelo menos num primeiro olhar, não tem uma sequência lógica, dividida em capítulos ou por datas, nada disso. Mas de alguma forma subjetiva eles apresentam uma fluidez sequencial, sem nenhum tema central, mas com pontos orgânicos que se comunicam subliminarmente. Talvez demonstrando um pouco dos labirintos que formam a nossa sociedade e complexidade humana, e que tanto fascinam o autor. Permitindo com que textos sobre “Recortes da Vida” e a “Redescoberta da Lentidão” façam o mesmo sentido relacional tanto lado a lado como em qualquer ordem apresentada.

    O vasto currículo e premiada obra de Affonso Romano de Sant’Anna dispensam qualquer elogio quanto a sua capacidade e fluência de escrita. Encerrando assim, uma boa indicação para um livro, que não se pretende muito além de questionar e refletir, como se isso fosse pouco.

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  • Resenha | Um Lugar na Janela – Martha Medeiros

    Resenha | Um Lugar na Janela – Martha Medeiros

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    Martha Medeiros é famosa por suas crônicas em revistas femininas e livros que já foram adaptados para filmes e séries de televisão. Seus textos são leves, íntimos, como se ela conversasse com uma amiga em um café e esse é exatamente o espírito de Um Lugar na Janela.

    Nesse livro, a autora reúne crônicas sobre suas muitas viagens. O livro começa com um relato detalhado da primeira experiência dela na Europa, de mochila, dormindo na casa de amigos de amigos, movida a pouco dinheiro e muita cara de pau. Em seguida, seguem-se relatos menos exatos, apenas pequenos apanhados de sensações de lugares como Roma, Santiago, Nova York e Tóquio.

    Desde o início Martha deixa claro que não se trata de um guia de viagens, que ali não serão encontradas dicas de hotéis ou restaurantes, apenas suas impressões, pensamentos, uma espécie de diário de viagens. No fundo, esse diário narra também a vida da escritora: sua jornada de menina que dormia no sofá de dois lugares da casa de alguém que nunca viu à mãe de duas adolescentes sendo carregada por elas por Tóquio.

    Se é interessante ver um relato tão emocional de cidades tão conhecidas, em diversos momentos a personagem Martha assume demais o papel central das histórias. Na maior parte do tempo não é da cidade que ela está falando, mas dela mesma e embora Martha seja uma personagem simpática e agradável, no fim de cada crônica a sensação é que vimos muito pouco da cidade que, a princípio, deveria ser o tema e personagem principal.

    No final, Um Lugar na Janela é um livro agradável, com uma narradora que conversa com o leitor como um amigo muito antigo e muito querido, contando suas sensações e lembrança de alguns dos lugares mais famosos do mundo. No entanto, justamente  a presença da narradora torna tudo um pouco superficial e deixa pouco lugar ao que realmente esperamos ver nesse livro: lugares diferentes do mundo. Não é bem um lugar na janela, é mais um lugar na sala de estar de Martha Medeiros ouvindo suas aventuras. Ainda assim, é um livro simpático, bem escrito e honesto, um possível bom livro para se levar a uma praia ou uma viagem.

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    Texto de autoria de Isadora Sinay.