O Interesse Pelas Coisas (Editora Moinhos, 2017) é o primeiro livro solo de Eduardo Villela. Os quinze contos exploram situações cotidianas e incomuns na perseguição daquilo que por vezes foge à compreensão imediata. Distanciado, o leitor recria as situações escritas nos contos, readquire as sensações impregnadas nas palavras e, enxergando completamente o cenário, tem a chance de refletir sobre as estranhezas e alegrias do cotidiano.
O segundo conto dá nome ao livro e também antecipa ao leitor as preferências de Villela. “O interesse pelas coisas” persegue o descobrimento e deslumbramento de um jovem de 14 anos com o mundo ao redor; paixões, amizades, família separada, comemorações, esportes etc, fragmentam a atenção do personagem em pequenos nichos de conflito. Com linguagem muito bem trabalhada e um sabor de adolescência, o conto pode ser interpretado como o impulso jovem na busca incessante pelas respostas escondidas nas experiências de vida. Ao leitor ainda cabe, involuntariamente, a reflexão íntima.
Como os contos versam sobre assuntos variados, o leitor se surpreenderá com “Olavo Pontes”. O personagem que empresta o nome ao título é um pianista brilhante no topo da carreira. Agenda cheia, ensaios, apresentações e muitos aplausos do público e crítica fazem parte da fase de Olavo. O que quase ninguém sabe é que a criatividade do pianista aflorou após um interesse inusitado por competições de luta livre.
Enquanto os oponentes se esbofeteiam, lutam e deixam sangue no octógono ou no ringue, Olavo Pontes compõe melodias porque consegue transformar cada golpe em nota musical. Conto de especial interesse às mentes engenhosas, pois ilustra muito bem a natureza inusitada do processo criativo.
Outra história que merece destaque é “A Guerra da Córsega”. Nele, o autor imagina uma partida de futebol como solução para uma disputa territorial. O jogo é endossado pela própria ONU porque ela prefere o esporte às ameaças de guerra. O interessante no desenvolvimento do conflito é que Villela trata dos desdobramentos positivos e negativos da disputa, afinal mesmo que a solução do esporte fosse adotada por outros conflitos, questões diplomáticas, midiáticas, econômicas e de tradições esportivas (ninguém aceitaria disputar um território jogando Futebol contra o Brasil, por exemplo, quer dizer, não antigamente, hoje, sim), poderiam inviabilizar semelhantes disputas.
Por fim, nos deleita em “Interesse pelas coisas” as referências ao Rio de Janeiro (da Zona Sul ao subúrbio carioca), as referências musicais (do blues ao rap, para dizer o mínimo) e a forma de contar por vezes inocente por vezes madura, na amplitude exata do conto. Em seu livro de estreia, “O interesse pelas coisas” não é só uma busca pelas faces do cotidiano, é também uma investigação pelo ofício da escrita.
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Texto de autoria de José Fontenele.