Campos de Batalha – Volume 1 compila duas minisséries escritas por Garth Ennis ambientadas na Segunda Guerra Mundial. O quadrinho publicado pela Editora Mythos (e infelizmente descontinuado devido as baixas vendas) mostram uma faceta bem elogiada do escritor especialista ao mostrar os terrores e meandros do ambiente sujo da guerra, como foi em sua fase à frente do Justiceiro Max, sendo essa edição com foco em mulheres protagonistas, mostrando um lado pouco explorado dentro da estética e atmosfera da guerra.
A primeira história, Bruxas da Noite, tem três partes e apresenta um grupo de aviadoras russas. O desenhista Russel Braun tem dois aspectos positivos bem pontuados: primeiro, nos combates aéreos e nos detalhes das máquinas voadoras, e segundo (e mais importante) na violência absurda do combate em solo, seja na troca de tiros na terra, ou nas consequências dos disparos aéreos.
Essa visceralidade dá ao roteiro camadas profundas, pois contrastam bem com a desolação sentimental dos personagens que se veem no meio de um conflito que abreviará (ou desgraçará) a vida de quase todos dali. O grafismo é equilibrado, e a arte é discreta em matéria de corpos e feições humanas. As páginas duplas são esplêndidas, sobretudo nas batalhas de aviões e nos golpes secos de armas brancas entre os nazistas e soviéticos.
Ao escrever super heróis, Ennis é normalmente associado como um cínico, mas ao tratar de guerra, é natural que os temas espinhosos sejam apresentado com mais equilíbrio como a prática hedionda do estupro, algo que em tempos normais é encarado como crime hediondo mas, em épocas de guerra, é visto como um pecado menor, ainda mais quando a ação ocorre contra o “inimigo” (basta ver outros quadrinhos que retratam o momento como Maus ou o sul-coreano Grama).Até os momentos mais chocantes são mostrados aqui sem alarde, de maneira pragmática, reiterando a sensação de que a guerra desperta no homem os instintos mais primitivos e cruéis.
A parte dois, Querido Billy (Batttlefields Dear Billy) se apresenta com uma capa alternativa linda de Garry Leach (alias, as capas das edições internacionais são sensacionais. John Cassaday traz artes deslumbrantes que mostram a sede de sangue dos soldados sanguinários. ). Seu inicio é sem respiros com mulheres sendo dizimadas por fuzilamento em uma praia, mostrando em seguida uma delas sobrevivendo a chacina.
Os desenhos dessa vez são de Peter Snejberg que tem um talento para desenhar dilacerações como ninguém. As cores de Bob Steen destacam um quadro bonito e melancólico, seja nas paisagens ou na tentativa de uma vingança pessoal. Aqui se percebe que mesmo pessoas de boa índole e intenção tendem a se transformar em monstros com sede de vingança e sangue.
Snejberg desenha veículos de maneira bem detalhada, especialmente os bombardeiros aéreos. Sua arte combina ainda mais com o texto de Ennis do que Braun. O desfecho da história poetiza o sentimento suicida e revanchista, mostrando o grande lado humano de seus personagens.
Campos de Batalha ainda possui no final de cada história alguns esboços dos dois desenhistas. É realmente uma pena que a série não tenha feito o sucesso que merecia, talvez com um trabalho de marketing mais acurado e especifico, certamente geraria melhores resultados. As histórias são curtas, fáceis de ler, e por mais que a violência seja um bocado perturbadora, é fácil apreciar este trabalho, que denuncia o caráter totalmente nefasto das guerras modernas.
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