Umas das premissas da fase Renascimento da DC Comics é trazer seus personagens de volta às suas representações mais icônicas. Em Os Novos 52, o veterano personagem Arqueiro Verde foi modernizado, assumindo características mais próximas das suas versões live-action nos seriados Smallville e Arrow, onde ele é representado como um jovem milionário – algo bem próximo de suas primeiras histórias em quadrinhos, que tentavam emular o estilo dos gibis do Batman na época. Mas o Oliver Queen que mais se destaca na memória dos leitores de quadrinhos é o personagem da fase de Dennis O’Neil e Neal Adams, quando o herói apresenta ao Lanterna Verde os problemas reais da classe menos abastada dos Estados Unidos em uma road trip repleta de aventuras e críticas sociais. Um marco para os quadrinhos. Esse estilo foi muito bem retratado na animação Liga da Justiça – Sem Limites, onde ele se define como “um velho esquerdista”.
Neste primeiro volume da fase Renascimento do Arqueiro Verde, vemos um retorno a essa caracterização. O “riquinho metido” dá lugar ao autoproclamado “Guerreiro da Justiça Social”, voltando inclusive a adotar o cavanhaque típico de Robin Hood. Seu relacionamento com a Canário Negro volta a ser ponto chave da trama, e muito do que foi estabelecido na fase anterior (principalmente seus laços de família) continua sendo explorado.
O roteiro de Benjamim Percy, por vezes com boas ideias, peca pelo exagero e o cliché. Embora as caracterizações dos personagens estejam coerentes e os diálogos bem sacados (mesmo quando toscos), a narrativa que envolve uma sociedade secreta dominando o submundo – literalmente – de Seattle parece algo não muito condizente com o status de herói urbano do Arqueiro Verde. Embora enfrentar todo tipo de monstros não seja lá algo estranho ao velho Oliver, o teor místico do Nono Círculo (organização secreta que remete ao Inferno de Dante Alighieri) parece forçar a barra. Junte-se a isso a mudança abrupta do estilo de arte no meio do volume e a história parece não ser mais a mesma do início.
Não que a arte seja ruim, muito pelo contrário! A primeira parte conta com a leveza e o dinamismo da arte de Otto Schmidt, que faz com que o texto de Percy flua de forma natural. Já o estilo da segunda parte – que ficou a cargo de Juan Ferreyra – lembra em muito o visual da série Os Caçadores, clássico do herói nos anos 1980. Apesar de um espetáculo visual, em alguns momentos a ação fica um tanto “truncada” e o ritmo se perde um pouco.
A decisão da Panini em publicar esse arco – e os outros na sequência – em um volume encadernado está de acordo com a nova estratégia da editora de focar suas mensais nos títulos do Batman e do Superman, evitando os mixes de outrora que deixavam boas histórias perdidas no meio de outras medíocres. Contudo, faltou o conteúdo extra presente na edição americana na qual foi baseada a versão nacional. Embora não seja uma obra prima, esse primeiro volume pode ser, principalmente, um bom ponto de partida para leitores novos ou antigos que se afastaram nos últimos anos.
Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.