Crítica | When The Garden Was Eden
Documentário do programa 30 for 30 dos canais internacionais da ESPN, When the Garden Was Eden é um filme de 2014, dirigido por Michael Rapaport que se dedica a relembrar o período de glórias do New York Knicks da década de 70 do século passado, tempo de glorias bem diferente das terríveis e recentes época do Knicks, que é incapaz há alguns anos de produzir um basquete competitivo e de contender na NBA.
O começo do filme registra uma tomada aérea, acompanhado de uma gravação de rádio, que fala a respeito de como se forma um time de basquete vencedor, onde se fala a respeito de garra, raça e talento, e o time de NY era tão ovacionado quanto bandas de rock populares, dado o frisson que eles causavam em público e crítica. O time de Bill Bradley, Jerry Lucas, Willis Red, Dick Barnett, Dave DeBusschere, Earl Monroe era histórico, possuía seis All Star e brilhavam muito no cenário cultural de Nova York. O filme de Rapaport faz questão de mostrar a efervescência da Big Apple, situando que aquele time era só um aspecto daquela cultura.
Décadas antes, os Knicks não era vencedores. Nos anos 60 a NBA não era o produto que era atualmente, e o Madison Square Garden, cenário principal da franquia era mais lotado pelos jogos de basquete universitário do que pelos jogos dos profissionais. Isto na época era um fenômeno absurdo, pois o basquete universitário era mais popular até do que o futebol americano da categoria aquela época, já que hoje, está longe de ser, até porque há quem diga que os campeonatos da NCAA de Football tem mais fãs e adeptos até do que a NBA.
Um dos maiores méritos do documentário é situar o espectador de como o esporte funcionava na época, como ele se encaixava na economia da época, e não tem receio sequer de mostrar como uma nação tão conhecida por seu conservadorismo lidava com a questão da popularização das drogas. Ainda que ele não associe tanto a figura dos esportistas a utilização de drogas, há um sem número de sugestões dessa pecha, e isso realmente pesava para que essas competições não fossem tão abraçadas por imprensa, possíveis anunciantes etc.
O filme detalha bem a entrada de algumas estrelas, como Walt Frazier, que foi a primeira escolha no draft de seu ano, Phil Jackson que veio de North Dakota e era um monstro defensiva mesmo em uma época que não se valorizava tanto assim a defesa, e Bill Bradley que rivalizava com os astros Bill Russell e Wilt Chamberlain, É curioso como se exploram detalhes íntimos e pessoais dos jogadores, como o fato de Bradley ainda ter cursado dois anos de faculdade antes de aceitar jogar na NBA, pontuando ele como a esperança branca do basquete dos Estados Unidos, e que chegaria até a se candidatar a presidência da república nos anos 2000. Também é mostrado Jerry Lucas, e se explana bastante o método de Red Holzman, o treinador, que não distinguia negros de brancos em seu time, mas que também agiu de maneira autoritária com alguns de seus subordinados, desviando esses de discussões progressistas e igualitárias.
Em se tratando de um documentário que fala sobre um time dos anos setenta, é natural que os entrevistados já estejam bem idosos (quando não membros dessa equipe já estão mortos), o que é impressionante é que as historias são tão marcantes que a memoria de cada um deles é bem viva, em cada caso. Os méritos deles contra o trio do Los Angeles Lakers Wilt, Jerry West e Elgin Baylor são sempre lembrados, com os Knicks soberanos sobre o Big Three, só é uma pena que a maioria das imagens de arquivo tenham uma nitidez pífia. Até os momentos de transmissão não coloridos, anteriores aos tempos de gloria do time da Big Apple são melhores que os do auge em si.
As intervenções de Rapaport são cirúrgicas, ele aparece na frente das câmeras entrevistando os que fizeram parte daquele time mágico, todos já bem velhinhos, e é curioso como ele traz parte de seu background para dentro do filme. Nos EUA ele é conhecido por seu trabalho como comediante stand up sobretudo em Los Angeles, mas suas raízes nova iorquinas jamais foram deixadas de lado, e se nota isso neste 30 for 30, que prima por um ritmo ágil e por um roteiro bem leve e engraçado, que mesmo deusificando seus objetos biográficos, o faz com bastante leveza. Ele está no ar com a série da Netflix Atypical, e infelizmente tem feito poucas aparições como realizador, executando alguns curtas ou poucos episódios de séries pouco conhecidas dos Estados Unidos.
Os momentos finais não são tão empolgantes quanto o início, até porque se dedicam a mostrar a rivalidade da época contra o Boston Celtics, que era o time da conferência a ser batido, daí se perde um pouco o foco na franquia que realmente importa, mas ao menos, valoriz a longevidade do grupo, e os títulos que vinham, e dá o destino dos que formaram aquela equipe, em que carreiras eles incorreram e como seguiram suas vidas após pararem de jogar, os artistas que ganharam tantos títulos, traçando também um bom panorama político da época, sem receio de fugir do caráter chapa branca, já que explora bem as questões envolvendo Cazie Russell e a proibição dele de repercutir dentro do grupo as terríveis acusações racistas que sofreu. When The Garden Was Eden é prodigioso ao louvar os feitos dos Knicks, que durante essa época, foram soberanos, mais vencedores que os times da cidade no Baseball e Futebol, distantes demais da atualidade sem força nas ultimas temporadas do campeonato americano de basquete.