Crítica | Brinquedo Assassino 2
Após o sucesso de Brinquedo Assassino, o roteirista e criador do personagem Chucky, Don Mancini, ao lado do produtor e criador do boneco David Kirschner decidiram pelo óbvio: tornar o personagem o centro de uma franquia. Foi nesse contexto, em 1990, surgia Brinquedo Assassino 2, com uma trama mirabolante e engraçada, onde a companhia Play Pals Toys tentava provar que o boneco Good Guy era inofensivo, e para isso, decidiram remontar o brinquedo que recebeu a alma do estrangulador de Lakeshore, o famoso Charles Lee Ray.
A mitologia em volta do boneco demoníaco ainda não seria flexibilizada (ou pervertida, como diriam os mais puristas) como ocorreu nos outros filmes, no entanto, não dá para levar a sério a desculpa de que um raio fez ressuscitar o psicopata — ao estilo Jason Vorhess. Mesmo com esse pontapé estranho, há bons momentos na trama.
A maior riqueza do filme certamente está na evolução das personagens, em especial Andy Barclay (Alex Vincent). Tratado como um “órfão” traumatizado, já que sua mãe está internada por dizer que um brinquedo tentou matar sua família. Nada mais justo. O rapaz ainda consegue o feito nada desprezível de ser adotado por uma família, embora essa não seja a mais funcional e perfeita possível.
John Lafia co-escreveu o primeiro filme com Mancini e dirige essa produção. Seu currículo anterior não era tão vasto, com destaque para as séries televisivas A Hora do Pesadelo: O Terror de Freddy Krueger e Babylon 5, mas seu produto mais famosos é o “clássico” das tardes de Cinema Em Casa no SBT, Max: Fidelidade Assassina, onde um cachorro é geneticamente alterado e passa a se vingar dos homens que o maltratavam no canil. Aqui na parte dois da cinessérie de Chucky, Lafia conduz uma produção sanguinária cheia de mortes criativas, com coincidências bizarras como um caminhão de Good Guys fechando o carro da nova família de Andy e, claro, com a presença de um boneco chamado Tommy na casa dessa família. É como se o destino cercasse o garoto, impedindo-o de seguir em frente.
Esse é possivelmente o único bom filme entre as continuações. Apesar de algumas produções ligadas a mistura de gêneros Terrir (terror com comédia) serem bastante elogiadas, esse é sem dúvida o produto que gera mais unidade entre os fãs de terror a respeito da qualidade, mesmo que sua premissa seja baseada numa ressurreição bastante esdrúxula.
Chucky está bastante engraçado, com ótimas sacadas. Claramente, Brad Dourif se divertiu bastante, além de se mostrar um grande ator de voz. Kirschner conseguiu evoluir bem os mecatrônicos utilizados, agora o assassino tem mais expressões, parece menos uma criatura de stop motion e mais algo “real”. Ele é um autêntico monstro de filme de terror, criativo, engenhoso e violento.
Se Brinquedo Assassino 2 perde em efeito surpresa, pois fica óbvio que o brinquedo matará (e muito) já no início do filme, se ganha no sentimental. Há uma sequência que é bastante marcante. Andy se assusta ao perceber que em seu quarto há um boneco Bonzinho e, obviamente, não quer ele por perto. Com o tempo, ele cede ao receio de ser rejeitado, buscando não voltar ao orfanato, e se aproxima do boneco, abrindo assim brecha para que seu perseguidor se infiltre sem gerar suspeitas no menino.
O longa expande o universo da franquia, com a personagem de Kyle (Christie Elise), que faz às vezes de moça adolescente rebelde, mas que nutre carinho pelo recém-chegado. O trauma une Andy e Kyle, e esse vínculo foi espertamente retomado nas produções A Maldição de Chucky e no seriado Chucky.
A remasterização executada para lançamento do filme em mídia física é ótima, ajuda a apontar as evoluções da produção, sem falar que reforçam o caráter gore da produção. A automutilação e a caça implacável do assassino ao garoto é uma representação da completa falta de lógica da mente de Charles, mostrando que o sujeito não aceita morrer, nem permanecer morto e ainda tenta arrastar um menino inocente para esse estranho caminho. Andy e Chucky aparentemente teriam suas vidas para sempre atreladas, mas jamais com consequências e abordagem tão graves quanto nesta obra.