Crítica | Um Duende Em Nova York
Apesar do nome diferente, Um Duende em Nova York trata de elfos, e começa com uma apresentação do Papai Elfo, interpretado por Bob Newhart, falando a respeito dos três trabalhos que cabem aos seres dessa raça, que vem a ser: fazer sapatos a noite enquanto o sapateiro dorme, fazer biscoitos em árvores, e o emprego das elites, fabricar brinquedos no ateliê do Papai Noel. O especial infantil com roteiro de David Berenbaum tem uma apresentação animada, que mostra vários desses seres lidando com as festividades de natal.
No Brasil, convenciona chamar os seres pequenos de duendes ou gnomos, até para diferenciar o “elf” dos elfos de J.R.R. Tolkien em Senhor dos Anéis, seres poderosos e imortais, diferente dos quase pigmeus das fábricas do Papai Noel. Logo, aparece Buddy, um humano que nasce no Polo Norte e que é adotado por Noel logo cedo, e que é treinado para ser um elfo. Ele cresce e se torna o astro de comédia pastelão Will Ferrell, cujo humor escatológico o faz um não candidato a contos infantis, naturalmente, mas curiosamente, ele casa bem, principalmente por conta do dueto que faz com o narrador Papa.
Logo o paradigma do filme muda, quando Buddy é incumbido de procurar seu pai, Walter (James Caan), na cidade de Nova York, um homem de negócios importante que não tem tempo para ele e nem para ninguém. Nesse meio tempo, ele trata de andar pela metrópole, interpretando o perfeito idiota que normalmente faz, e o palco de seu novo emprego é perfeito cenário para esse teatro dele.
O fato de Buddy ser completamente alheio a tudo o faz parecer uma criança, sua alienação não o faz estranhar, por exemplo, o fato de andar com roupas élficas o tempo todo. As loucuras como as guerrs de bola de neve não o fazem estranhar, ao contrário, ele é especialista nesse tipo de conflitos. Por não entende ironia, sarcasmo ou qualquer coisa que o valha, o elfo simplesmente não tem capacidade de compreensão para perceber como funciona o rito do natal ensaiado nos shoppings, quando se fala que haverá um Papai Noel ele acredita que é O Original, e toda essa literalidade gera ótimos momentos no filme. A aproximação que o personagem central tem dos seus rivaliza com a magia da fantasia realista que se estabelece em torno dos personagens natalinos, e o modo como Favreau apresenta esses aspectos lúdicos são muito bonitos, contendo tudo o que Meu Papai é Noel tentou estabelecer ao longo dos seus múltiplos filmes, com pouquíssimo tempo de tela.
Tudo que envolve os momentos finais é bem bonito e grotesco em simultâneo, a variação entre o mágico e o escrachado funciona de maneira singular. Buddy alcançar seu intento, de ser um bom auxiliar da festa natalina, a sociedade lida bem com a realidade de que o Papai Noel existem e até os números musicais fazem sentido. Há alguns problemas com a computação gráfica, principalmente nas renas que fazem o trenó voar pela cidade símbolo dos EUA, mas o filme sabiamente não foca muito nelas, deixando com que Ferrell e seus colegas de elenco capturem a atenção das crianças e dos demais espectadores.
Um Duende em Nova York é quase como um anti Grinch, e curiosamente guarda bastante semelhanças com o humor ácido dos livretos do Dr. Seuss, embora seja mais para o público geral que os livros infantis do autor citado, e tenha um caráter mais generalista, mas ainda assim contém uma mensagem otimista bem bonita e que foge da ideia materialista do natal, mesmo com os presentes sendo um objeto bem importante de sua trama, mesmo sendo uma ode a glutonaria tipica das festas de fim de ano, mesmo sendo focado num personagem que claramente sofre de retardos mentais.
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