Crítica | Comando Para Matar
Era uma vez, uma época muito louca chamada “década de 80”. Nesse período, as roupas eram exageradas, os mullets povoavam cabeças e tudo tinha um aspecto colorido e meio decadente. Durante essa década, o cinema passou por um período de muita criatividade. Filmes seminais pipocavam a todo instante, tivemos o aparecimento de John Hughes e suas comédias que iam a fundo na psique do adolescente… e tivemos o maravilhoso advento do Cinema Brucutu! Sim! Tivemos a popularização do subgênero de ação que mostrava super homens com habilidades incríveis e uma ética inabalável destroçando pequenos exércitos e moendo vilões caricatos. Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger foram os maiores expoentes desse subgênero, com o austríaco variando mais na temática dos seus filmes. Ele foi um cyborg assassino vindo do futuro, um bárbaro cimério, esmurrou um caçador alienígena. Porém, em Comando Para Matar, a sua rotina foi mais comum: ele apenas voou para uma ilhota centro americana e dizimou o exército do lugar.
Passemos a um detalhamento maior da trama: Schwarzenegger vive o ex coronel das Forças Especiais John Matrix. Matrix passou a viver isolado com sua filha, mas sua tranquilidade é abalado pelo seu ex-superior, o general Franklin Kirby, que avisa que todos os antigos membros do esquadrão comandado por John estão sendo eliminados. Após o encontro, a casa de Matrix é atacada e sua filha é sequestrada pelo ditador Arius, que se aliou a Bennett, um ex Forças Especiais comandado por Matrix e Kirby que fingiu a própria morte para se tornar mercenário. A dupla de vilões quer que John cometa um crime político para que Arius retorne ao poder. Só que o coronel Matrix resolve que em vez disso, vai resgatar sua filha e detonar os facínoras, nem que pra isso destrua uma ilha inteira.
Se tem uma coisa que o diretor Mark L. Lester sabe fazer, é filmar sequências de ação. Lester, que tem em seus créditos as pérolas Massacre no Bairro Japonês (com Dolph Lundgren e Brandon Lee) e Chamas da Vingança (filme de 1984 com Drew Barrymore, Martin Sheen e George C. Scott, não o de 2003 com Denzel Washington), chega até a imprimir uma certa poesia nos momentos em que Arnoldão sai fuzilando todo mundo que encontra pela frente. Me atrevo a dizer que há até uma certa fetichização do então futuro governador da Califórnia, uma vez que há um abuso de closes nos músculos de Schwarzengger. Uma sequência chega a ser absurda, pois mostra imagens do tórax do ator trepidando devido aos inúmeros tiros que ele desfere com um fuzil, intercaladas com as imagens do exército da ilhota invadida por ele morrendo de forma acrobática. Entretanto, existem sequências ótimas no segundo terço do filme, com destaque especial para a fuga do avião e a perseguição no shopping center. Arnold arrancando uma cabine telefônica como se aquilo nada fosse é algo de sublime. Ah! A cena de luta no motel consegue ser mais divertida que muitos combates acrobáticos de filmes do cinema atual.
O roteiro escrito pelo famoso quadrinista Jeph Loeb (autor de Batman: O Longo Dia das Bruxas, Vitória Sombria e aqui assinando como Joseph Loeb III), Matthew Weisman e Steven E. de Souza (roteirista de inúmeros filmes de ação como Duro de Matar e diretor da adaptação de Street Fighter, com Jean-Claude Van Damme), é apenas um pretexto pra muito tiro, porrada e bomba. Personagens são unidimensionais, caricatos e normalmente se comunicam através de frases de efeito e isso é excelente! Existem alguns buracos no roteiro aqui e ali, mas totalmente perdoáveis. Isso se dá ao fato da despretensão do filme, o que faz o beirar a comédia involuntária. As atuações do elenco ajudam a acentuar o aspecto cômico involuntário. Arnold se empenha bastante, porém suas limitações dramáticas aqui estão em seu grau máximo. Mas é nas one liners (frases de efeito) que ele se esmera. É impossível não rir. Schwarza é puro carisma. Rae Dawn Chong, que interpreta a mocinha seduzida pelo musculoso carisma (rá!) do protagonista tem uma atuação muito peculiar. Em algumas dá pra perceber que ela quer fazer um trabalho sério, mas depois percebe-se que ela já tá levando aquilo tudo na galhofa. Dan Hedaya e Vernon Wells, respectivamente os vilões Atius e Bennett, entregam um overacting digno de Nicolas Cage. Wells ainda acaba mais caricato por seu figurino, uma coisa meio militar meio sadomasoquista.
Nesse momento você está pensando: “pô, o Bernardo tá avacalhando o filme todo. Deve ser uma porcaria”. Não, meu caro! Comando Para Matar é divertido demais e um baita filme de ação. Sua despretensão deveria servir de exemplo para o cinema de ação atual que se leva a sério demais e que volta e meia nos entrega filmes insossos com personagens com menos carisma do que um poste.
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