Tag: Elisabeth Röhm

  • Crítica | Herança de Sangue

    Crítica | Herança de Sangue

    heranca-de-sangue-poster

    Filmes sobre a relação entre pais e filhos povoam Hollywood desde o início dos tempos. Ora, se formos analisar, Star Wars é uma fábula sobre a relação entre um pai e seus filhos. Porém, os filmes que tratam do tema quase sempre colocam os pais e os filhos em situações opostas de vida, fazendo com que um seja certinho e o outro desajustado. Herança de Sangue segue um viés oposto. O pai interpretado por Mel Gibson é um criminoso em reabilitação que luta pra conter sua violenta natureza, enquanto que a filha é uma moça desajustada que acabou indo longe demais em seu envolvimento com um traficante, mas que não necessariamente deseja encontrar sua redenção, apenas quer salvar sua pele.

    Na trama escrita por Peter Craig e Andrea Berloff com base em um livro de autoria do próprio Craig, Mad Mel vive John Link, um ex-criminoso e alcoólatra em recuperação que vive em seu trailer e possui um humilde estúdio de tatuagem. Sua rotina é virada de cabeça pro ar quando sua filha desaparecida, vivida pela bela Erin Moriarty, subitamente reaparece. A garota atirou em seu namorado – um líder do tráfico de drogas – e agora está sendo perseguida pelos comparsas do meliante. Juntos, pai e filha iniciam uma fuga desesperada enquanto tentam finalmente se entender após longos anos de separação.

    O roteiro de Peter Craig e Andrea Berloff é simples, sem grandes malabarismos, possuindo apenas um plot twist que em nenhum momento é forçado. A história segue um curso furioso, ainda que seja extremamente centrado nos personagens. As relações e diálogos entre Gibson e Moriarty possuem um tom agridoce, indo da doçura ao ressentimento mútuo em poucas frases. Interessante observar como que o protagonista vivido por Mel Gibson está sempre procurando se manter lúcido e contido durante toda a trama, ainda que sucumba à superproteção de sua prole, não percebendo que a garota é safa e também sabe lidar com o mundo sujo onde ele passou boa parte de sua vida. Porém, há um problema no desenvolvimento da história: devido à curta duração da película, 82 minutos sem contar os créditos, algumas situações acabam parecendo corridas demais, prejudicando um pouco o resultado final.

    O diretor Jean-François Richet se mostra um grande condutor de tramas de ação aqui, sabendo muito bem trabalhar com a tensão de cada momento. Seu trabalho anterior, o remake de Assalto ao 13º DP (clássico dirigido por John Carpenter), já demonstrava isso. Entretanto, nesse Herança de Sangue ele consegue um resultado mais positivo, uma vez que assume um estilo bem mais cru, ao passo que é auxiliado pela fotografia árida de Robert Gantz, aspecto esse que emula Mad Max, principalmente o primeiro que foi estrelado por um jovem Mel Gibson. Isso faz com que a fita tenha um tom semelhante ao que se via no cinema de ação dos anos 80. Mais importante ainda, Richet consegue extrair atuações carismáticas e convincentes da dupla de protagonistas.

    Ainda que não represente a volta de Mel Gibson aos holofotes de Hollywood, Herança de Sangue, assim como o ótimo Plano de Fuga, demonstra que o ator ainda tem muita lenha pra queimar, mesmo que o faça em produções menores que não possuem o merecido destaque na indústria cinematográfica.

  • Crítica | Mega Shark vs. Mecha Shark

    Crítica | Mega Shark vs. Mecha Shark

    Mega Shark vs. Mecha Shark não guarda momentos para reflexão ou para contemplação bestificada dos fenômenos naturais, pois, aos três minutos de exibição, já demonstra a que veio, momento em que se mostra o derretimento de um iceberg imenso, o que destrói o Megalodon, peixe ruim que é levado pela costa do Cairo. No começo, há até uma citação a Charles Bukowski, claro, sumariamente ignorada pelos signos visuais que remetem ao Hawaii, mesmo que a embarcação – majoritariamente estadunidense – esteja na “África branca”, atacada pelo animal pré-histórico, que consegue lançar um pedaço da máquina de metal percorrer toda a extensão do país para decapitar a Esfinge de Gizé.

    No entanto, dessa vez a humanidade não está de bobeira, pois foi construída uma máquina de contra-ataque chamada Nero, um submarino em formato de tubarão e pilotado pela bela loira – dona de um belo par de mamas – Rosie Gray (Elisabeth Rohm). Num primeiro embate, a embarcação tem à sua frente uma enguia gigante que tenta esmagá-la, mas que esbarra na perícia da bela capitã e de seu imediato, o negro afetado Jack Turner (Christopher Judge ), que visita as instalações das altas rodas militares, com fileiras cheias de membros de alta patente e que guardam com afinco o segredo máximo das forças armadas: Mecha Shark, a definitiva arma contra a praga do Mega Tubarão.

    Dessa vez, a população mundial é focada e não mais ignorada pelo “massa véio” das outras fitas. Membros das embarcações que pereceram são entrevistados pelos jornalistas e lá registram toda a sua fúria com as figuras de autoridade que ignoraram a necessidade de manterem-se a salvo de um tubarão com crise de gigantismo, pois certamente isso é algo muito prioritário. Visando uma melhor análise do inimigo, até Emma MacNeil (Debbie Gibson), a primeira heroína da franquia, é reativada, ainda que sua maquiagem seja mais barata, deixando de esconder as rugas que os anos provocaram-lhe – considerando sua idade, 44 anos, tudo isto é absolutamente perdoável.

    No entanto, o fracasso acomete Rosie e seu amigos, pois, ao permanecer colado em Megalodon, Nero é danificada. O medo de perder o monstro de vista faz com que os superiores temam em esperar o concerto da máquina, mas os engenheiros, em tempo recorde, reparam o transporte. Depois de uma brava batalha, Rosie cai e quase morre nas profundezas marinhas, mas a inteligência artificial de Nero ajuda a loira a sobreviver, mesmo ela carregando lembranças más da morte de sua filha e de sua crise de alcoolismo.

    Por força das circunstâncias e para fazer do mundo um lugar melhor para se viver, Nero é posto para comandar Mecha Shark, cuja inteligência artificial comanda um robô ainda maior e mais poderoso. É como se, em tempos de crise, a Skynet se aliasse aos humanos para destruir um mal maior, pondo todo e qualquer Complexo de Frankenstein por terra, já que a maldade da natureza é muito maior que qualquer guerra entre criador e criatura. Esta premissa inteligentíssima é levada a sério e, claro, distorcida no decorrer da trama.

    Para aumentar o escopo de que a união faz a força, Rosie encontra Emma, num embate de gerações entre loiras protagonistas, que, juntas, buscam entender o modus operandi do tubarão do mal. Incrível como, após uma pane, o especialista Doutor Turner tenta resolver o problema do Mecha Shark batendo mais forte em seu teclado, como se estivesse espancando o PC.

    Após o ataque, o protocolo da máquina – que está em terra, onde milagrosamente funciona lá – vai para o vinagre. A única coisa capaz de pará-la é uma inocente criança, que toca o seu coração de lata por alguns instantes. Mas isso dura pouco, pois o robô devastador passeia livremente pelas ruas de Sydney, destruindo tudo o que vive, respira, que tenha asfalto ou concreto. Os bombeiros tentam aplacar a destruição, mas tudo parece em vão.

    Depois de uma enorme discussão filosófica, a genial Gemma dá a ideia de tentar embater os dois tubarões, uma vez que machos tendem a se temer mutuamente. O plano maravilhoso consiste em atrair Mecha para a água, onde automaticamente Mega o encontraria, para, enfim, ter a sua disputa justa. Baseando-se nisso, Rosie se embrenha em uma aventura de isca humana no interior da máquina malvada – em última análise, ela se entrega para sacrifício, como no paralelo bíblico de Isaque e Abraão, em que Deus pediu a vida do único filho de seu servo, pedido o qual seria atendido pelo temente homem de fé.

    No final, há de tudo, desde negros pilotando motocross – não que haja um motivo plausível para isso (até porque motivação não é o forte do roteiro) – chamando a atenção do robozão até um almirante louco, que aponta um revólver para um animal capaz de sobreviver até mesmo a um míssil nuclear. Mas um estratagema é desenvolvido por eles, instalando uma bomba no robô e destruindo (supostamente) o Mecha e o Megalodon, mas resgatando o pendrive que conteria Nero, seu amigo digital. Em uma análise mais profunda, a peça pode ser comparada a uma aliança, que reafirmaria o compromisso de Jack e Rosie ante o sagrado matrimônio e ante a natureza maravilhosa que produziu tanto, até esta aventura megalômana. O escopo de diversão é o mais presente de todos os filmes da série, tanto pela desfaçatez do roteiro quanto por todas as caracterizações toscas.