Resenha | Beasts of Burden: Cães Sábios e Homens Nefastos
Quando Jill Thompson precisou ser substituída no segundo volume de Beasts of Burden, um clima de incertezas pairou sobre a multipremiada série, contudo, Benjamin Dewey se mostrou um nome acertado para conduzir essa história junto de Evan Dorkin, co-criador da série junto de Thompson.
O traço mais rígido de Dewey casou perfeitamente com o clima dessa sequência, que deixou os fofinhos cachorros (e gato) de “Rituais animais” de lado e deu espaço para os Cães Sábios, mais velhos, experientes e severos, diante de toda sorte de ameaças sobrenaturais que cercam Burden Hill. A firmeza do novo desenhista conferiu a solidez necessária para o bom andamento da trama ali proposta.
Em “Cães sábios e homens nefastos”, Dorkin e Dewey direcionam seu olhar para os arredores da cidade, nas Montanhas Pocono, onde incêndios e ocorrências sinistras surgiram sem mais nem menos, tendo em comum a presença de um estranho símbolo em formato de “S”. Para investigar tal fenômeno, a matilha dos Cães Sábios se embrenha na mata fechada, e começa a perceber que existe muito mais em jogo ali do que possa parecer.
Adentrando por uma teia intrincada de eventos inexplicáveis, Lundy e sua equipe acaba por se deparar com a perigosa Irmandade da Serpente Vermelha, um grupo de humanos versados em magia e que ameaçam o equilíbrio sobrenatural do lugar, em busca de um antigo deus arcano, algo com o qual os Cães Sábios não podem permitir.
Entre Salamandras, Guaxinins, Zumbis e Licantropes, o segundo volume de Beasts of Burden expande com sucesso sua mitologia, dando mais um passo rumo ao iminente conflito entre as forças do bem e do mal nesse ambiente de magia e mistério.
Tendo em Miranda e Lundy seu maior enfoque narrativo, o enredo logra sucesso ao desenvolver não só as personalidades de seus protagonistas, como também dos coadjuvantes Emrys e Carver. Nesse volume temos a primeira interação entre humanos e animais realmente significativa, demonstrando a existência de homens e mulheres também operadores de magia que agem – ou agiam – em conjunto com os animais, algo que o primeiro volume tocou apenas de forma bem breve e distante.
O desenvolvimento de Miranda, única remanescente da equipe apresentada no volume original, é flagrante, ao passo em que ela caminha para se tornar uma Cadela Sábia e de grande poder, enquanto vemos o orgulhoso Lundy ceder em suas decisões para o bem da equipe.
As cores conseguem dar vivacidade para a narrativa, conferindo volume e textura para os personagens, sejam eles cachorros ou humanos. O supracitado traço de Dewey obtém êxito ao dar um aspecto mais duro e rígido para os Cães Sábios, sem perder de vista o humor inerente ao bom roteiro de Dorkin.
Cabe ressaltar que, ainda que seja o segundo volume da série, a história funciona perfeitamente de maneira independente, não sendo necessária a leitura de “Rituais animais” para o entendimento pleno da narrativa.
Publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim, Beasts of Burden: Cães Sábios e Homens Nefastos saiu nos EUA em 2018 pela Dark Horse e chegou por aqui em 2019, contendo 124 páginas, papel de excelente gramatura e uma capa dura com acabamento primoroso. Um legítimo Petardo!
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