Crítica Rasen: Ring Spiral
Hoje refutada, Rasen deveria ser a continuação direta dos eventos de Ring: o Chamado, contendo em si inclusive o nome do segundo livro de Kôji Suzuki. O fracasso do filme de Jijo Ida fez a produtora recontratar Hideo Nakata para a função de direção de Ring 2: O Chamado, enquanto Rasen passou a ser desconsiderado, e renomeado como Ring Espiral em alguns países. O curioso é que o filme lançado ainda em 1998 consegue ser bem fiel ao livro homônimo, mas perde demais se comparado a originalidade do primeiro filme.
A história é contada a partir das experiências de Mitsuo Andô (Kôichi Satô), um médico legista que tem que lidar com um sentimento de suicídio que o acompanha já há algum tempo. Logo, o mesmo recebe uma ligação, afirmando que Ryuji Takayama (Hiroyuki Sanada) , seu conhecido da época de faculdade havia falecido de um modo misterioso e recairia sobre ele investigar o óbito do sujeito, com direito a uma autópsia repleta de gore seguida de uma alucinante sequência de reencontro com o seu antigo amigo, que debocha de si por não ter tido coragem para se matar.
Se analisada a premissa, o longa de Ida é interessante, por conter no novo herói um especialista em patologias depressivas que sofre do mesmo mal que investiga. Até se demora para abordar a famigerada fita, com aproximadamente 15 minutos de tela, ou seja, por volta um sexto da totalidade do filme.
Se dá um rosto para Sadako (Hinako Saeki), o que constitui uma manobra horrenda, e todos os fatos ocorridos após isso são de qualidade discutível e cunho risível. Em certo momento, há uma extrema mudança de caráter no longa, pondo inclusive arquétipos de filmes slasher, como a punição aos sexualmente ativos.
Talvez essa seja a versão mais fiel aos livros de Suzuki. O argumento foi adaptado pelo próprio diretor que diferente do que havia ocorrido com Hiroshi Takahashi nos outros filmes, não lançaria mão de tantas licenças poéticas em relação ao texto original. Ida não compromete como diretor, e até tem seus bons momentos, especialmente no devaneio do protagonista ao ver seu amigo que sofre autopsia falar com ele e no momento em que Sadako é jogada no poço, mas sua inventividade com a câmera na mão não consegue acompanhar o lastro no texto, que até tenta ousar em alguns pontos, mas ainda fica muito preso ao escrito pelo autor do livro. Mesmo os bons conceitos se perdem em meio da um drama confuso e a transformação da maldição em vírus torna tudo ainda mais bobo e oportunista, contendo em si os mesmos defeitos de Rec 2.
As cenas de sexo são bastante gratuitas, bem como a necessidade de explicar todos os pormenores de maneira científica. A desconstrução de Sadako também soa gratuita e pueril, resultando em um equívoco quase tudo que é proposto na interpretação de Saeki para a menina do poço, mostrando uma mulher que parece mais preocupada em causar furor via sexualidade do que propagar a morte, como é mostrada no primeiro. Outras tanta invencionices incomodam, como o fato de ignorar o efeito de retorcer das vítimas ao serem mortas, fator que faz Rasen perder em identidade visual, soando como uma tentativa fracassada de inovar, parecendo mais um filme de terror explicativo e genérico dos Estados Unidos e menos com uma sequência de horror japonesa.