Tag: Nanako Matsushima

  • Crítica | Ring 2: O Chamado

    Crítica | Ring 2: O Chamado

    ringu-2Em uma espécie de equivalente japonês ao Instituto Médico legal é desenrolado o início de Ring 2: O Chamado, onde se encontra o corpo recuperado de Sadako, impedido de ser incinerado por um terrível mistério, que envolve o fato da menina ter morrido há apenas dois anos, tendo ficado viva no poço por quase três décadas. O filme começa tímido, mostrando a polícia e perícia tentando entender o que houve com a última vítima da entidade mística/menina oprimida.

    O diretor Hideo Nakata é econômico com o número de mortes e insere os mesmos elementos de terror do filme anterior em outros ambientes. A misteriosa gravação do crime contra Sadako e as fotos distorcidas são encontradas agora em manicômios, acompanhando também a personagem principal do filme anterior, Reiko Asakawa (Nanako Matsushima), que é perturbada pela culpa de ter levado a maldição para outrem. Apesar de resgatar as mesmas pessoas do outro capitulo, o mote é baseado na trajetória de Mai Takano (Miki Nakatami), que é namorada de Ryuji, o homem morto anteriormente e que foi casado com Reiko.

    Houve uma continuação baseada no segundo livro de Kôji Suzuki, intitulada Rase e dirigida por Jôji Iida, mas seu fracasso foi tanto que os produtores da Asmik Ace Entertainment resolveram chamar Nakata para realizar uma continuação que pouco tem semelhanças com os livros. As liberdades narrativas incluem também uma mudança de caráter considerável, já que os elementos de Ring: O Chamado são em parte ignorados nesta sequência. O ritmo deste é ainda mais lento que o antecessor e o mistério mora nesses detalhes, fato que exige atenção anda maior de seu público, ao contrário do que normalmente ocorre com os filmes de terror blockbuster dos Estados Unidos.

    A perda do prazo para a morte do protagonista – fato que era o mote do original – é bem substituída por uma rotina cheia de explicações. O roteiro de Hiroshi Takahashi foge saídas fáceis que seria inserir mais personagens assistindo a fita e morrendo. O horror habita o interior do pequeno Yoichi (Rikiya Otaka), o filho de Reiko que sobreviveu aos fato de ter visto o vídeo. O menino aparenta ter os mesmos estranhos poderes de Sadako, o que ajuda a determinar que a menina que foi violentada tem o poder de ultrapassar sua maldição para quem teve contato ou com a gravação de seu infortúnio ou com a própria, já que manifestações de paranormalidade também ocorrem com Masami Kurahashi (Hitomi Sato), que teve uma participação pequena no primeiro e aparece neste, em um manicômio, graças a ter assistido a morte da primeira vitima.

    O filme foge da mesmice e é meritoso nisso, trocando a investigação sobre a origem da fita – vista no anterior – por um aprofundamento na história de Sadako e claro, na intimidade dos antigos personagens, que agora, são alçados a um patamar de protagonismo maior, mesmo entre os que no primeiro filme eram só citados Ao contrário das continuações dos Estados Unidos, Ringu 2 exige sabedoria sobre a mitologia da cine série, já que não há introdução para quem não assistiu o primeiro não terá uma explicação óbvia e burra para se inteirar neste.

    Nakata imprime um comentário metalinguístico que em partes, supera os sustos frequentes de Ringu, dando mais significado inclusive para a desgraça da menina monstruosa. A substituição de Reiko por Mai serve bem a trama, dando uma sensação de renovo e de inevitabilidade da maldição, mostrando que não há como driblar o destino, especialmente quando ele é mal, não importando sequer a corrupção do pacto pensado pela heroína do filme anterior. A desgraça se abateria de qualquer forma sobre a família que teve em posse a fita.

    Os minutos finais variam entre uma solução repleta de tecnobable, tentando encaixar um ritual religioso em meio a um artificio tecnológico, e uma viagem ao passado tanto de Sadako quanto das pessoas do passado de Mai. Nakata consegue trazer um renovo para a franquia, superando o primeiro episódio em alguns momentos e apresentando novas ameaças ao final de seu filme, abrindo espaço para novas continuações, que deveriam seguir a linha desta caso avançassem na linha temporal.

  • Crítica | Ring: O Chamado (Ringu)

    Crítica | Ring: O Chamado (Ringu)

    ringu-originalAs informações do filme de Hideo Nakata começam através das ondas e tubos de uma televisão antiga, típica dos anos noventa. Os primeiros momentos de Ring: O Chamado já estabelecem qual seria o instrumento de horror, mostrado duas meninas – Tomoko Oishi (Yûko Takeuchi) e Masami (Hitomi Satô) – que assistem televisão enquanto discutem sobre uma fita cassete que a primeira assistiu, para logo depois, ocorrer já o primeiro óbito. Ring: O Chamado seria o primeiro filme da saga da fita que fazia seus espectadores morrerem, resultando em um fenômeno pop do terror contemporâneo.

    A tal gravação gera uma curiosidade tremenda em todos os personagens, especialmente nos que fazem de seu ofício e função desvendar mistérios. As passagens de tempo mostram a como parte da imprensa lida com o boato a respeito das mortes, e é nesse ínterim que Reiko Asakawa (Nanako Matsushima) é introduzida e elevada ao posto de protagonista da trama.

    Ao contrário do que normalmente ocorre nos filmes norte-americanos de gênero terror, nesse não há uma preocupação em se estabelecer uma história maniqueísta, de luta contra o bem e o mal, tampouco os personagens que são vítimas são mostrados em atitudes imorais, ao contrário, são pessoas ditas normais.

    O livro de Koji Suzuki já havia sido adaptado para o audiovisual em um telefilme, mas ganhou notoriedade graças a inventividade de Nakata, que consegue imprimir suspense e tensão mesmo nos pequenos elementos narrativos da história, seja nos closes rápidos nos corpos deformados das vítimas, ao estilo Sergio Leone, ou o uso de elementos tão corriqueiros como fonte de tormento. Há um uso forte da trilha sonora como efeito atemorizante e da estática das TVs, imitando o clássico Poltergeist: O Fenômeno, de Tobe Hooper e Steven Spielberg, ainda que o conteúdo de real amedrontamento esteja na metalinguagem de um filme que assassinará aqueles que assistem, fortificada a sensação  de desespero proporcionada pelo ambiente fechado e escuro do cinema.

    A decisão de Reiko em procurar o vídeo que causaria o infortúnio pode ser banal e estúpido, mas condiz perfeitamente com a condição de jornalista que envolve sua profissão. O longa contém um número elevado de cenas externas de dia, fato que faz desconstruir a ideia de quem só há medo e pavor nas noites. A jornada de Reiko e seu ex-marido Ryuji Takaiama (Hiroyuki Sanada) pelo interior do país, a fim de encontrar uma fuga para a morte certa. O resultado é uma busca difícil e infrutífera na maior parte dos eventos, mas que resulta em um conjunto de respostas inconvenientes.

    As questões envolvendo a história da Sadako, a tal mulher misteriosa, que buscava assassinar quem ousava ver o filme até o final é repleta de causos terríveis, mostrando o homem como a pior das criaturas, capaz de encerrar a vida até de seus entes queridos. A sensação de alívio, vista nos instantes próximos do final não duram muito tempo, relembrando o quão duro pode ser o destino, à exemplo do que aconteceu com a menina vitimada que busca na coleta de almas sua justificação. Tal prerrogativa teria que ser levada a frente, para pôr fim a maldição, fato que põe Sadako e Reiko em pé de igualdade, e mais uma vez reforça a ideia de Ring: O Chamado de que o homem tem uma forte tendência a ser misantrópico e egoísta.