Crítica | As Sessões
Nos caminhos que nos levam ao autoconhecimento, a percepção de si em completude à concepção sexual são dois dentre diversos elementos significativos para esta jornada. Mesmo que muitos vejam a sexualidade como um sistema biológico ou um elemento instintivo, o sexo também é reconhecimento e consciência corporal, tanto da observação dos limites físicos do corpo como da percepção do prazer.
Baseado na vida profissional de Cheryl Cohan Greene, As Sessões apresenta ao público a terapia sexual, uma vertente que trabalha ativamente com o paciente, de maneira breve e focal, para a melhora de disfunções ou qualquer problema referente ao sexo, esse elemento vital ainda hoje visto como tabu.
A história apresenta um dos pacientes mais significativos da terapeuta: Mark O’Brien, poeta e jornalista de Berkeley que, devido a uma poliomelite na infância, sobrevive graças a um pulmão artificial, mas incapaz de mover seus músculos, ainda que os sinta. Motivado pelo pastor de sua paróquia, O’Brien procura ajuda terapêutica para tentar compreender, dentro de um corpo paralisado, a funcionalidade do sexo.
A composição de John Hawkes para viver a personagem é equilibrada. Dividida entre o corpo inerte e uma criação católica que também se torna responsável pelo complexo sexual. Utilizar um personagem central deficiente não é argumento novo. Em Meu Pé Esquerdo, Daniel Day Lewis interpreta brilhantemente Christy Brown, e Sean Penn demonstra uma competente atuação em Uma Lição de Amor. Mesmo que tais comparações de outras produções seja inevitável, o poeta é, acima de tudo, um homem comum, divido entre os anseios de conhecer aquilo que ainda lhe é assustador.
Nos encontros terapêuticos com Cheryl, interpretada por Helen Hunt, a personagem realiza uma jornada lenta de autoconhecimento, compreendendo que no sexo não só o corpo é funcional, mas também a extensão mental. O laço entre terapeuta e paciente é um dos elementos motivadores da trama. Evidenciando que o processo terapêutico é delicado e, para ser funcional, necessita-se de entrega de ambas as partes.
Indicada ao Oscar por sua atuação, Hunt não compõe uma personagem carismática como O’Brien. Seu comprometimento com sua atuação vale-se mais da maneira natural com que se despe literalmente em diversas cenas de nudez. Sob este ponto, o roteiro escrito por Ben Lewin está distante de qualquer ideia julgadora. Expõe ao público uma vertente da terapia, com a esperança de que a história mostrada na tela produza a reflexão no espectador, evitando julgamentos precipitados sobre a terapia sexual.
Mesmo que a composição dramática e a relação entre paciente e terapeuta pudessem ser melhor executadas, a história deixa uma reflexão pontual para o público. Através da vida de O’Brien projetamos também o que compreendemos sobre o sexo e as limitações como indivíduo, muito além de uma deficiência ou de um impulso sexual.
O filme adapta um dos casos do livro homônimo lançado no país pela Editora Intrínseca que acompanha a vida de Sharon desde o início de sua carreira como terapeuta sexual, até os dias de hoje dando palestras e tentando, sem polêmica, explicar porque teve mais de 900 parceiros sexuais e que esse alto numero não significa nenhum elemento pejorativo sobre si própria.