Crítica | Minha Querida Dama
Baseado na peça do renomado dramaturgo Israel Horovitz, em produção adaptada para o cinema e dirigida pelo autor, Minha Querida Dama promove um genuíno drama com uma roupagem leve que adquire coesão graças aos seus três grandes atores.
Na trama, Mathias Gold (Kevin Kline) é um homem beirando os 60 anos que herda do pai uma casa em Paris. Ao visitar o local, descobre que na casa mora Mathilde (Maggie Smith), uma senhora de 90 anos de idade vivendo em um tipo de contrato, tradicional no país, em que o inquilino deixa o apartamento somente após a morte. Sem pretensões de sair da casa, surgem os conflitos iniciais e um laço de amizade devido ao passado.
A narrativa trabalha uma situação pontual para desenvolver sua história. Inicialmente, de maneira leve e bem humorada, humor destacado pela trilha sonora, a personagem de Kline procura maneira de como retirar a velha e sua filha do imóvel. Convidado a permanecer no local, a história cresce deixado o cômico de situação de lado para enfatizar um apelo dramático, uma transição coerente que não retira a leveza da história pela ausência de qualquer elemento trágico. A presença de Mathilde na casa revela mais do que uma simples moradora, trazendo à tona um passado de seu pai ainda não conhecido por Mathias.
Grande parte do equilíbrio cênico se deve ao elenco maduro composto por Kevin Kline, Kristin Scott Thomas e a sempre sensacional Maggie Smith. Em cena, os atores transitam entre as nuances de sensações representando personagens maduros que sentem um manancial de sentimentos sem extravasar ao todo o tempo de maneira enérgica, sendo capaz de rir mesmo em momentos ruins. A história se revela uma análise sobre a trajetória de pais e filhos e de como filhos podem carregar culpas e responsabilidades dos pais devido a sua criação como se o acaso ou os momentos vividos em conjunto refletissem nos filhos além da inspiração, como um fardo.
No papel da velha Mathilde, Smith é a única representante viva da geração dos pais, testemunha de acontecimentos foram definitivos em sua vida e refletidos na trajetória de sua filha Chloe e na de Mathias. Mesmo consciente de sua história e dos conflitos gerados por suas escolhas, a matriarca permanece com uma visão otimista da vida, de sabedoria madura que não nega o passado e as decisões equilibradas no dualismo da razão e emoção.
Apesar de um desenlace um pouco incoerente com a proposta da obra, um tanto apoiado em um final feliz em que tudo se resolve na medida do possível, Minha Querida Dama é um filme maduro que narra um conflito pontual para redimensionar uma reflexão universal sobre trajetória, escolhas e maturidade, e destaca três grandes atores que, para o público que se concentra somente no cinema hollywoodiano, são raramente destacados mas que sempre brilham em produções menores com muito talento.