Crítica | O Espelho
Introduzido por um sonho do paciente Tim Russell em que impinge o terror da morte a duas crianças num cenário soturno e habitado por espíritos incorpóreos, O Espelho, de Mike Flanagan, se inicia. A sutileza não parece ser uma escolha do realizador, haja vista os maneirismos que faz questão de exibir em cenas nas quais o elenco demonstra inabilidade atroz em expressar sentimentos por meio de suas faces.
A produção trata de uma dupla de irmãos: Tom (Brenton Thwaites) e a bela ruiva Kaylie (Karen Gillan), que eram as mesmas crianças do sonho mostrado no início. Kaylie namora um curador de arte, e logo depois de levar seu irmão de volta para casa, após uma longa estadia fora, ela vai dormir com seu namorado. Um dos artefatos que está na casa dele é um misterioso espelho, cujo vidro está empoeirado e enferrujado, mas que guarda coisas ainda mais aviltantes.
Os sustos falsos permeiam todo o filme, como os autênticos clichês do gênero terror, irresistíveis para quem quer causar um medo fácil. A protagonista passa a ter pesadelos terríveis, que se intercalam com as lembranças de sua infância junto ao seu irmão e aos seus falecidos pais. Logo, ela resolve procurar a origem do artefato, e descobre que ele sofre um tipo de maldição. A partir daí, passa a gravar alguns vídeos, explanando os fatos à volta dos assassinatos de quem possuiu o tal espelho, o que fomenta ainda mais a completa falta de suspense no roteiro de Flanagan e Jeff Howard. Um texto que, por sua vez, é uma adaptação de um curta do próprio diretor e de Jeff Seidman.
As explicações excessivas produzem um desequilíbrio imenso na trama. O único mistério preservado é como os Russell se dissolveram e deixaram de ser uma família para tornar-se algo completamente desassociado da unidade familiar. Mesmo quando tal assunto é abordado, o proselitismo de Kaylie trata logo de tomar a ação novamente, derrubando as oportunidades de surpresa com planos repletos de armadilhas caseiras que remetem à tosca lembrança da franquia Esqueceram de Mim.
A verborragia segue como o maior problema para manter minimamente uma aura assustadora. Os retornos à infância ficam cada vez mais constantes, como num processo mental de regressão, ainda que não se assuma que isto ocorre de fato. Longas sequências dos Russell no passado são mostradas. No final do filme, a ordem dos fatos se repete, como num círculo vicioso e inexorável, que até seriam bem aceitos, se fossem os tropeços realizados do início ao fim da película. Uma pena, porque O Espelho tinha potencial para ser um filme de terror calcado em um interessante mistério.