Tag: John Francis Moore

  • Resenha | Ironwolf: As Chamas da Revolução

    Resenha | Ironwolf: As Chamas da Revolução

    ironwolffiresoftherevolution1

    Como destacado pelo prefaciador Walt Simonson, Ironwolf é um projeto antigo de Howard Chaykin, que discute questões centenárias ligadas ao imperialismo e escravização do homem comum, focado especialmente na prisão ideológica de Ironwolf, que remete a tantas obras clássicas, como Duna de Frank Herbert e Laranja Mecânica de Anthony Burgess.

    Nas primeiras palavras do roteiro de Chaykin e John Francis Moore – que trabalharam em Batman Houdini: A Oficina do Diabo, além de séries televisivas, como Human Target e Viper – já há uma espécie de contrato de desilusão, aludindo ao esquecimento dos remotos tempos de paz e tranquilidade, com as palavras contraculturais de Homer Glint, um assíduo atiçador político, inconformado com os modos excludentes do regime totalitarista vigente no espaço, através do Império Galaktiko, remontando de modo mais taxativo a celeuma vista na clássica trilogia de George Lucas. É curioso como a verborragia textual convive bem com o traço peculiar de Mike Mignola e as cores de  P. Craig Russell, que faz referências que amalgamam o pós-apocalipse de Mad Max junto a expansão espacial suja de Battlestar Galactica. A construção do texto político guarda muitas semelhanças com a versão dos anos 2000 de BSG, ainda que a discussão seja mais relacionada à opressão estatal a todos os homens e afins, deixando a segregação de classe mais ampla do que o apartheid visto entre humanos e cylons.

    Os avatares da revolução são amplamente discutidos, até desconstruídos, diante da representação exemplar que deveriam ter em comparação com o que pragmaticamente são: homens, sujeitos a ferimentos, lesões e a falhas. As batalhas em terra têm brutas semelhanças com o ideário visual das adaptações audiovisuais de Philip K. Dick, ainda que seu conjunto de referências seja muito mais atrelado a história econômica e social da Terra do que qualquer outra inspiração.

    Os modos dos revolucionários compreendem atos violentos, que se revelam também na agressividade do falar, com um linguajar popular como a causa, e torpe como os inimigos do livre agir. Estes aspectos emprestam veracidade ao drama do narrador e Ironwolf.

    A história se materializa em um grito revoltoso por meio da multifacetada variação de pessoas aliadas ao grupo de insurgentes e inconformes com os poderosos. A simbologia presente na troca de classes feita por Ironwolf serve de inspiração, fomentando muitos ideais para a batalha de classes, sem deixar de lado o viés mais fisicamente combativo. A mensagem de Chaykin ganha força ao categorizar a crítica ao capitalismo predatório, reforçada pelo posicionamento do personagem título como ponta de lança, resultando numa mensagem de imortalidade inexorável da parte do ideal de contestação, ainda mais atual na contemporaneidade.

    ironwolf-ii

  • Resenha | Batman Berlin

    Resenha | Batman Berlin

    Batman Berlin

    Lançada originalmente em Batman Chronicles#11 – com publicação da Editora Abril em Batman: Lendas do Cavaleiro das Trevas n° 3, a história com texto e arte de Paul Pope (Ano 100 e Batman Preto e Branco) mostra o homem-morcego agindo na Alemanha dominada pelos nazistas, nos anos que coincidiam com as primeiras publicações de Bob Kane e Bill Finger.

    O interessante da abordagem de Pope é a aura nostálgica remetendo imediatamente à gênese do personagem, muito mais soturno e violento, além de se utilizar de elementos do expressionismo alemão. A troca da base de operações é feita de modo orgânico e funciona na proposta do autor. As referências a Detective Comics #27 e ao Ano Um são notadas logo no início, mas a abordagem diferenciada faz lembrar a de outras obras além das do Morcego, como o Nosferatu de Murnau.

    Em 1938, o milionário e socialite Baruch Wane recebe o comissário de polícia Gordon que o alerta sobre um malfeitor sabotador de algumas das ações policiais pela capital. O milionário evidencia que as áreas afetadas pelo vigilante não são lugares onde ele costuma passar, demonstrando um abismo social entre a classe deste e dos menos favorecidos economicamente. Wane é também um pintor famoso – justificando sua fortuna – e logo recusa fazer um retrato do Führer, com a desculpa de que era um artista cubista – e realmente o é, mas guardava em si óbvias reprovações ao regime ditatorial.

    As cores de Ted McKeever ajudam a grafar ainda mais o incômodo do personagem principal. Seus tons em marrom contrastam visualmente com a arquitetura azulada da cidade, mostrando o quão a criatura é diferente e diversa do local que ela assombra. Baruck Wane apesar de ser um homem afortunado sofreu as mesmas agruras do povo, com seu passado órfão, mostrando em um recordatório os  pais de Wane, mortos unicamente por serem judeus.

    A ideia do anti-herói é ligada ao poder da destruição em devastar o lado comum do monopólio de homens maus para, das cinzas, surgir um novo modo de governar. As últimas páginas mostram um predomínio das tonalidades laranjas, com o fogo que preenche o ideal do personagem, como também seu ímpeto incendiário e o discurso libertário, necessário naqueles tempos maus. Batmam Berlin é uma bela análise do mito do Morcego, se utilizando de um momento histórico para fazer valer uma deslumbrante leitura, cujo visual é ainda mais aprazível que o bem urdido enredo.

    A segunda e pequena história A Maldição da Mulher Gato, de John Francis Moore e arte de Kieron Dwyer evoca elementos da literatura pulp. Os ares de filme noir – ainda mais evidentes com a quase ausência de cor – mostram uma breve trama, focando a superstição dos marginais e o cinismo dos policiais. Apesar de curiosa, a segunda narrativa não ofusca a primeira, e mesmo sem temáticas semelhantes, estas duas formam um bom encadernado.