Crítica | Durante a Tormenta
Tendo estreado apenas esse ano aqui no Brasil, o filme espanhol original Netflix Durante a Tormenta é o terceiro longa-metragem de Oriol Paulo, mais conhecido aqui no país pelo seu último trabalho Um Contratempo. O diretor e roteirista segue alimentando uma fama que às vezes é melhor não se ter – M. Night Shyamalan que o diga -, a de construir suas histórias em torno de grandes plot twists, de grandes reviravoltas imprevisíveis. Não seria muito cedo dizer que ele já é refém dessa fórmula, mas o que interessa é que mesmo se sim, ele acertou mais uma vez em suas devidas proporções.
O filme se passa no período de uma tempestade que dura 72 horas em duas épocas diferentes, uma se inicia no dia da queda do Muro de Berlim em 1989, e a outra exatamente 25 anos depois quando Vera (Adriana Ugarte) encontra pertences da família que morou em sua casa em 1989 e descobre que o garoto dono das fitas morreu atropelado naquele mesmo dia. Quando liga a antiga TV, passado e presente se encontram e Vera consegue se comunicar com o jovem Nico (Julio Bohigas-Couto) e o avisa do atropelamento, salvando-o da morte. Mas no dia seguinte, ao acordar, Vera descobre que seu marido não a reconhece e sua filha nunca existiu, levando-a a uma corrida contra o tempo para descobrir como reverter as linhas temporais antes que a tempestade termine.
Mesmo que o longa não entre de cabeça na viagem no tempo propriamente dita ou explore as divergências na existência de diferentes linhas temporais, é interessante como a complexidade do longa recaia sobre suas personagens e suas questões morais e emocionais. A jornada de Vera é movida por um desespero genuíno de mãe, enquanto inúmeras subtramas vão sendo injetadas por personagens coadjuvantes que não deixam de também ter suas motivações. Assim o longa pesca a atenção do espectador literalmente ao final de cada cena, é como uma engrenagem trabalhando para a próxima girar, é funcional mas aos poucos isso denuncia a longa duração do filme, não é muito difícil se cansar perto do clímax.
E dessas subtramas pequenas revelações vão construindo o típico final do cineasta, surpreendente sim, mas dessa vez desnecessariamente repetitivo. Primeiro nós, público, ficamos um passo a frente da protagonista e depois somos obrigados a ver, em uma cena no mínimo didática, ela nos alcançando. Em trabalhos menos controlados o momento seria considerado piegas, mas o diretor parece conhecer seu elenco e o faz vender bem a atmosfera quase novelesca, o saldo não é completamente negativo no fim das contas. Durante a Tormenta ganha pelo coração e por privilegiar as emoções em vez de ressaltar o místico ou o policial, mais uma vez fiquemos de olho no futuro de Oriol Paulo.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.
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