Tag: Laurie Metcalf

  • Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar

    Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar

    Lady Bird além de dar nome ao filme de Greta Gerwig, é também a alcunha da personagem principal Christine McPherson (Saoirse Ronan), que rejeitou seu nome de batismo para dar vazão a uma nova identidade. Na primeira sequencia de ação, se vê uma cena engraçada, em que a personagem discute com sua mãe, Marion (Laurie Metcalf), a bordo de um carro, onde a mesma se joga do veículo em movimento ao ser contrariada sobre sua alcunha. O tom é cômico, e bem parecido com outras obras da diretora.

    Gerwig não é exatamente uma iniciante em condução de filmes, colaborou em roteiros junto a seu antigo par Joe Swanberg e co-dirigiu Nights and Weekends, um rumblecore de gosto duvidoso. Além disso, escreveu com Noah Baumbach o texto de Frances Ha e Mistress America, e muito da comédia desses dois se vê aqui, ainda que a capa utilizada seja bem diferenciada neste. Normalmente, os filmes que envolvem ou Baumbach solo ou o mesmo com Gerwig falam sobre a fase adulta em seu inicio, enquanto esse, tal Aos 17, trata da puberdade e da tentativa de ser alguém apesar de ainda não ter atingido a maturidade.

    A maior parte dos dramas da personagem titulo são meio bobos, não há uma complexidade maior em suas agruras, não é como em Trainspotting ou Kids, de Larry Clark (ou mesmo qualquer um dos seus muitos filmes que abordam delinquência juvenil), o que se vê é uma historia, em que quase nada acontece, não de uma forma tão gritante e irritante como era nos filmes universitários que a diretora estrelava, mas ainda guardando grande parte das características desse estilo, ainda que tenha algumas pitadas de crise existencial.

    As brigas com sua mãe se intensificam na segunda metade do filme, inclusive com a moça propondo a mãe que ela faça as contas do quanto gastou com ela ao longo dos anos para que ela pudesse ressarcir sua parente quando tivesse chance, dando um novo significado tanto para a expressão quanto para o filme que usa a alcunha de Rebelde Sem Causa. As descobertas que a personagem faz não fogem em momento nenhum do ordinário.

    Após viver um pouco, Christina percebe quem colaborou para que ela pudesse ser o que se tornou, deixando de lado a bronca com seus pais e a falta de diálogo. A moça que por um tempo se auto intitulou Lady Bird nada mais é do que uma pessoa comum, que tem que lidar com as responsabilidades de crescer, com frustrações e alguns eventos pouco pesados mas que no geral, não foge do status quo. Gerwig consegue trazer uma historia repleta de sensibilidade, mas ainda assim um filme que não tem nada de extraordinário.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar

    Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar

    Greta Gerwig já tem história, a diretora tem no currículo diversos dramas independentes pelo movimento nova-iorquino Mumblecore e pela primeira vez decidiu assumir sozinha um longa por atrás das câmeras. Ela escreve e dirige Lady Bird: A Hora de Voar, um dos filmes mais premiados da temporada e que está concorrendo a 5 Oscar, incluindo Roteiro Original, que é de longe o maior triunfo do longa, pois Gerwig pode ou não ter feito algo autobiográfico, mas no fim das contas ela conta a história de todo mundo.

    Christine (Saoirse Ronan) não acredita em nomes dados pelos pais e mudou seu nome para Lady Bird, ela está no último ano do colégio e quer estudar numa faculdade de artes, mantém uma relação explosiva com a mãe (Laurie Metcalf) e coleciona novos amores e amizades. Sem um plot principal, Lady Bird acompanha os últimos dias da vida de colegial desta garota que passa ou pensa passar por todos os problemas do mundo, e entrelaçando todos os acontecimentos de pura dramédia tem-se diálogos belamente escritos, de realismo certeiro.

    As situações que a personagem de Ronan se mete nos faz lembrar que talvez a diretora tenha passado por tudo isso, talvez seja um sincero retrato sobre todas suas nuances naquela época, mas chega um ponto da experiência em que a ficha cai e percebe-se que o que está vendo também fala de você e de metade das pessoas que conhece. Ela escreve de si e de todas as pessoas que um dia olharam demais para si mesmas e esqueceram de olhar o próximo, todos que já falaram eu te amo para quem só se gostava, para quem já foi jovem.

    E enquanto a cineasta constrói a personalidade errante, ás vezes chata e bastante inteligente da sua personagem principal, ela não esquece de seus coadjuvantes, todos eles ganham um espaço especial na narrativa, eles têm seus problemas invisíveis e suas influências, mas a mãe de Lady Bird interpretada por Metcalf é mais do que digna de sua indicação ao Oscar, a atriz carrega um olhar triste e sempre que fala soa como mãe, soa forte e carrega na voz todos os problemas que vemos sua personagem passar.

    A relação mãe e filha é um grande tema do filme, mas ele também caminha por primeiros amores, sexo, depressão, amizade, tudo de maneira simples e ao mesmo tempo afiada, se em alguns momentos a personagem de Ronan possa parecer uma adolescente imatura, Greta dá indícios que ela não é só isso, mostra que algumas atitudes permanecem nobres mesmo que a forma que foram feitas sejam impulsivas ou ignorantes. Faz de suas personagens tridimensionais, e com isso ela consegue verdade, ainda mais com atuações tão boas, desde todo o elenco jovem até Ronan e Metcalf, bem lembradas pela Academia.

    O longa é um drama, mas também tem um ótimo timing cômico, tem situações comuns, mas acerta em fazê-las relacionáveis e bem escritas, tem uma bela fotografia, personagens cativantes e críveis, e uma relação de mãe e filha especialmente retratada, principalmente em seu terceiro ato. Carrega também uma sensibilidade essencial, pois em tempos que Gerwig é apenas a quinta mulher indicada a Melhor Direção no Oscar, ter um coming of age sobre uma garota e encabeçado por uma mulher de maneira tão apaixonada e abrangente é fundamental. Lady Bird: A Hora de Voar é uma delícia e nos faz lembrar o que é ser filho, amigo e sonhador, sem esquecer de nos mostrar quem nos faz assim.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.