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  • Crítica | Garganta Profunda

    Crítica | Garganta Profunda

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    Deep Throat é um marco no cinema por inúmeros motivos, entre eles, ter trazido os filmes adultos para o mainstream, o que possibilitou que ao gênero tornar-se uma indústria muito lucrativa. Lançado em 1972, rompia paradigmas, ecoando os gritos da revolução sexual da década anterior.

    Logo aos 4 minutos é mostrado um sujeito praticando sua “intimidade” via oral com uma mulher, amiga da personagem principal Linda Lovelace – interpretando a si mesma. Os efeitos sonoros (bolhas na água) aliados a trilha formam um quadro absurdamente hilário. A protagonista é uma mulher atormentada, que não consegue obter orgasmo de forma alguma – mesmo após uma enorme orgia, com direito a sexo anal filmado de forma bastante explícita, ménage e outras exemplares de boa prática carnal.

    É possível também observar a moda da época, com os atores bastante “cabeludos”, muito mais que suas colegas femininas – um tapa na cara de Nanda Costa e companhia – mas é óbvio que o foco de público era no bom e velho “entra e sai”. Garganta Profunda apresenta cenas bem executadas por Jerry Damiano, e um repertório vastíssimo no seu pouco tempo de duração – pouco mais de 60 minutos. A história prossegue com a “heroína” procurando ajuda médica, e então descobre que seu clitóris está localizado na garganta, e para ter orgasmo ela precisaria se submeter a um procedimento chamado garganta profunda – que consiste em descer o membro masculino laringe abaixo – e é nesse ponto que reside o maior talento de Linda. As imagens utilizadas para exemplificar o orgasmo dela são um show a parte – foguetes sendo lançados, sinos badalando, etc. Ao finalmente obter o prazer, a paciente pede ao médico – Harry Reems – em casamento, parodiando a prática comum de associar-se o prazer ao amor.

    Garganta Profunda teve um orçamento de aproximadamente 25 mil dólares, e gerou um lucro superior a 600 milhões. No bom documentário da HBO Por Dento da Garganta Profunda (Inside Deep Throat) mostra a rejeição por parte do público mais conservador e do governo Nixon, excessivamente moralista, que prezava por valores familiares pelos “bons costumes”. Tal filme ainda mostrou o que aconteceu com os protagonistas da fita – Lovelace entrou em depressão, acusava seu ex-marido de tê-la obrigado a fazer o filme e falava que as cenas gravadas eram um registro dos abusos sexuais que sofria, igualando as cenas a prática do estupro. Jerry Damiano se defendia dizendo que ela se sentia a vontade nos sets. O realizador ainda sofreu bastante, sendo acusado de associação com a Máfia e encarcerado por conta disso. Harry Reems foi tomado como bode expiatório, sendo acusado de atentado ao pudor. No seu julgamento, ele declarou que sentia que alguns o viam como um demônio, e mesmo após toda a polêmica ter acabado não conseguiu dar sequência a carreira de ator – teria quase obtido um papel em Grease, mas foi cortado por ter sua imagem associada aos filmes pornográficos. Reems tornou-se alcoólatra, e chegou ao ponto de gravar seus filmes eróticos o tempo todo sentado, por não conseguir sequer manter-se de pé.

    Alguns anos após o sucesso de Deep Throat, Linda Lovelace tornou-se uma ativista contra a indústria de filmes adultos, mas ainda voltaria mais uma vez ao filão, por necessidades financeiras, ainda que este retorno tenha sido bastante decadente.

    A história do filme é pueril, principalmente se comparada à repercussão que teve fora das telonas. Garganta Profunda é um marco para o cinema moderno, e ajudou a popularizar a subcategoria mais lucrativa do cinema e do audiovisual em geral, além é claro de espalhar a fita erótica para além de seu público habitual, tornando-a algo popular nos mais diversos nichos.

  • Crítica | Lovelace

    Crítica | Lovelace

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    A cinebiografia da atriz Linda Lovelace começa como uma reconstituição de Deep Throat – o clássico Garganta Profunda. A narrativa é lotada de flashbacks e mostra o começo dos anos 70, com a protagonista posando de puritana e pudica, avessa a práticas sexuais bastante comuns como o sexo oral.

    Para quem não conhece a história por trás de Linda Boreman – nome civil da estrela – mergulhar na intimidade desta é interessante, ainda que essa imersão seja superficial. A temática é adulta e até tenta ludibriar o espectador apresentando algumas cenas de nudez, mas sem sensualidade ou apelo erótico algum, mesmo tendo em Amanda Seyfried sua protagonista – que está bem mais sexualizada em Garota Infernal de Diablo Cody. A cena em que ela prova o seu “talento único” pela primeira vez deveria ser épica, mas passa batida, o que não condiz com a filmografia anterior de seus realizadores, Rob Epstein e Jeffrey Friedman, que em outros tempos, documentaram grandes  avanços no que tange a exploração de sexualidade.

    A questão de optar-se por pouca sensualidade é claramente proposital, afinal esta é a versão de uma Linda Lovelace aposentada e atormentada, mas a abordagem peca nesse aspecto também. O erro do longa começa pela premissa, que é forçada e chapa-branca.

    Sobre as caracterizações, há também um sem número de problemas, e pouco vale destacar. Chuck Traynor, esposo de Linda, é retratado num primeiro momento como um sujeito preocupado com a integridade de sua parceira, já na segunda parte, onde ocorre uma virada no roteiro, ele é mostrado como uma pessoa violenta e interesseira, que maltrata a pobre mulher, como o próprio diabo, para no final encarnar o cão arrependido, sem maiores justificativas no roteiro ou apelo dramático, por parte de Peter Saarsgaard, seu intérprete, é tudo muito jogado na tela. Seyfried não é uma atriz ruim, é bonita, tem belos seios, mas não passa a canastrice de Lovelace em frente às câmeras, ela não consegue usar a máscara de atriz sem o mínimo de talento, e tampouco sensibiliza o receptor nas cenas mais fortes.

    A narrativa não-linear parece ter sido escolhida mais por estilo do que por necessidade. As atrocidades a que a protagonista é submetida só são explicitadas após a mudança radical pela qual ela passa. O moralismo materno a empurra de volta ao seu agressor. Talvez esse seja um dos poucos pontos fortes do filme, a relação com os pais. Sua mãe é o autêntico avatar do conservadorismo, enquanto o pai protagoniza a única cena que passa perto de emocionar, onde Bob Patrick espreme o pouco talento que tem a fim de tentar resgatar sua filha daquela “vida bandida”.

    O roteiro é completamente parcial – a favor da atriz. Friedman e Epstein passam longe de causar comoção no público, falta sinceridade, intensidade e visceralidade, especialmente nas cenas picantes. Toda vez que o filme parece engrenar tira-se o pé do acelerador, a câmera parece correr o tempo todo com o freio de mão puxado. Mesmo próximo ao final quando a editora aceita a biografia de Linda, o fato não provoca nenhuma sensação, quando deveria ser um ponto de empatia instantânea.

    As últimas cenas contêm um caráter redentor e cor de rosa, que não poderia estar mais longe da realidade vivida pela “vítima”. A história omite inclusive o retorno decadente da personagem principal a indústria de produtos adultos, e como dito acima, não vale sequer pelas cenas de nudez – que são de uma beatice ímpar – Lovelace poderia ser excelente, e não é mal filmado, mas carece de alma, substância e conteúdo relevante.