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  • Review | O Iluminado (1997)

    Review | O Iluminado (1997)

    Stephen King tem um apreço enorme sobre seu romance O Iluminado, por conta de enxergar a si mesmo na vida de Jack Torrance, especialmente no que toca os problemas com álcool e pelo fato da personagem também ser um escritor que vê seu trabalho perdido em um período de abstinência. Após achar o trabalho que Stanley Kubrick fez em O Iluminado como uma versão diferente da original, o escritor aproveitou para nos anos noventa lançar sua versão filmada, contratando um novo elenco, diretor e equipe de produção, em uma minissérie em três capítulos, semelhante ao que ocorreu com Tempestade do Século ou It: Uma Obra Prima do Medo.

    Mick Garris é o responsável por dirigir o especial,. Seu currículo inclui continuações fracas como Criaturas 2 e Psicose 4: O Começo, e outros menos genéricos, como Sonâmbulos e a Maldição de Quicksilver. É curioso, pois Garris já havia adaptado King (e bem) em A Dança da Morte, mas aqui claramente não lhe foi dada muita liberdade, e sim uma formula de narrativa fraca e presa demais ao roteiro de King. É incrível como a necessidade de ser fiel ao material original não tem a inclusão do mesmo espírito do livro, em especial na construção do personagem de Jack. O que se vê aqui é um caráter super explícito, que tem a necessidade de gerar razão para qualquer um dos eventos mostrados em tela, de um modo que o espectador chega a se sentir subestimado.

    Junte-se a isso a fotografia saturada de Shelli Johnson e fica difícil não achar que esse projeto é um equívoco completo. Jack é vivido por Steven Weber, que não é mal ator, mas o texto que emula as tele novelas não ajuda seu desempenho. Danny é feito por Courtland Mead, um ator que não consegue apresentar qualquer sutileza de atuação (ainda que isso não tenha comprometido sua atuação em Os Batutinhas). A condição dele piora quando Tony  aparece. O amigo imaginário do garoto é representado por um jovem ao estilo Barrados no Baile que flutua em uma névoa de CGI barato. A mãe da família Wendy é feita pela atriz Rebecca de Mornay, e essa é a única que destoa, parecendo levar a sério a produção, quando todo o resto do elenco está em outro tom, claramente.

    No romance, Jack é um homem temperamental, que aos poucos vai perdendo o controle, liberando o terror de maneira gradativa também. Já nessa versão o que se vê são referencias a violência já nos primeiros momentos, não há preparação de terreno ou sutileza, não há sequer tempo para construir o ideal da família feliz. Garris ainda tenta emular a condição de felicidade através de imagens com luz saturada, como se ter um cenário muito claro remetesse ao estado de alegria.

    A construção do horror é mal pensada. Os tacos de críquete ensanguentados não tem nem de longe o apelo visual do machado que o patriarca carregaria no final da sua jornada de insanidade. A vontade de se desassemelhar de Kubrick age como uma obsessão de King em tentar ser totalmente diferente. Além da incomoda super exposição, o diretor também entrega os segredos cedo demais, além de ter graves  problemas de ritmo. O texto é um mero pretexto para tentar adaptar mais trechos do livro, que acabam vazios de significados, estando ali só como uma birra ao longa de 1980.

    A historia de Jack ser um escritor frustrado também é praticamente descartada, sequer sua ideia dele compor um livro sobre o hotel é utilizada, embora tal fato seja inferido durante o terço final. Ao menos, algumas maquiagens de monstros funcionam (em particular nos momentos iniciais). Porém, quase tudo que envolve Weber e a evolução de sua loucura é digna de risos. Em alguns pontos, dá pena de De Mornay, que realmente se dedica enquanto um de seus colegas de elenco acha que para parecer louco basta estar com uma aparência de homem empoeirado, como se isso causasse medo no público.

    De positivo, há a música de Nicholas Pike que faz embalar bem a triste trajetória dos Torrance, mas até isso é deturpado, pois serve para embalar sustos tolos e fáceis. No capitulo derradeiro os problemas parecem se multiplicar, as aparições dos mortos são mal encaixadas, todos tem aparência mal construída, para caso qualquer pessoa caia de paraquedas na trama, saiba que há algo errado com eles. Além disso, os efeitos digitais são todos artificiais e risíveis até para sua época. É natural que Garris não tivesse orçamento para empregar todos os efeitos que o livro de King exigiria, mas assusta também o quão açucarado é o final que o escritor pensou para esta versão, bem diferente de livro, com contornos sentimentais tão patéticos que causa riso involuntário e faz perguntar se a vida de Danny e sua família não seria pensada para ser um drama folhetinesco típico das rádio novelas antigas.

  • Crítica | Nightmare Cinema

    Crítica | Nightmare Cinema

    Nightmare Cinema é mais uma compilação de curtas-metragens de diretores diversos, que gira em torno do mesmo assunto, no caso, o cinema. Na primeira cena mostra uma jovem, bonita, de roupas curtas passando por um cinema antigo, aparentemente abandonado, e que tem em seu letreiro o nome do filme. Ela é Samantha (Sarah Elizabeth Withers), e passa pelas cadeiras vazias do mesmo e se nota que ele está em bom estado apesar de vazio, um pouco depois, a moça toma um susto por algo simples: o começo da projeção, que acontece subitamente. Nela, aparece uma jovem toda ensanguentada, que parece muito com ela, e que corre pela floresta em uma perseguição estranha, tentando fugir de um suposto assassino mascarado, que ela chama de Soldador.

    Já nesse primeiro conto se nota que o gore imperará e que o que é exibido faz referencia aos medos internos dos personagens mais “humanos”. Os homicídios nessa primeira parte são bem criativos, e o filme não se leva a sério, não há muita lógica realista aqui, além de ter claras referencias a Army of Darkness, o último A Morte do Demônio e um bocado de Final Girls, filme recente que também tem comentários metalinguísticos. Mesmo os clichês dos filmes slasher são subvertidos, tanto em níveis sentimentais quanto em expectativa de futuro.

    A forma como as historias se amarram também é divertida e engraçada, e por mais esdrúxulas que sejam as motivações dos personagens elas fazem sentido dentro da loucura que é o roteiro. A transição de uma historia para a outra é bem suave, não causando estranhamento no público. Além disso, há um cuidado em misturar os gêneros de terror, mostrando assassinos seriais, horror atômico, invasão de animais malditos manipuladores  em formulas que soam divertidíssimas, exatamente por não se levar muito a sério o que é mostrado em tela.

    Há também elucubrações sobre pecados capitais, como a vaidade, necessidade de plásticas, que reúnem elementos por sua vez de clássicos trash como O Dentista e de outros mais elucubrados como A Pele que Habito. Há também vazão a luxúria, com mais referencias ( entre elas, O Exorcista  e Mórbido Silêncio). É engraçado a quantidade de referências a filmes B e trash, e é até natural que seja assim, dado quem dirige os filmes, Alejandro Brugués de Juan dos Mortos, Joe Dante de Gremlins, Mick Garris de Criaturas 2 e várias adaptações televisivas dos filmes de Stephen King, Ryuhei Kitamura que faz muitos filmes de horror no Japão e David Slade de Menina Má.com. Mesmo os momentos mais explícitos, como a introdução do projecionista feito por Mickey Rourke funciona bem, soa fluída, além de ajudar a colar os pesadelos filmados.

    Obviamente algumas historias são menos elaboradas que outras, portanto, há também mais inspirados e outros sem tanta criatividade, mas a forma como as temáticas se repetem e os elementos são reprisados dentro dos contos é muito inteligente, pois fortalece uma ideia cíclica, com uma cola diferenciada entre os contos macabros, que a julgar pelo seu final, pode perfeitamente ter uma ou mais continuações, que seriam muito bem vindas caso sejam conduzidas assim, com tom galhofeiro e que pouco se leva a serio, com diretores tão especializados no estilo e gabaritados como os que são vistos  neste Nightmare Cinema.

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