Resenha | Ramthar
Ramthar é um quadrinho brasileiro resgatado pela Editora Mythos. A obra reúne histórias de um mundo em colapso, com o personagem-título sendo fruto desse cenário apocalíptico, vivendo entre a violência extrema e a sobrevivência ameaçada a todo momento. Esse quadrinho resgata uma história desenhada e escrita por Mozart Couto, desenhista que marcou época nos quadrinhos nacionais, e finalizada por Mike Deodato, e outra escrita pelo pai deste último, Deodato Borges o criador do personagem, com arte do filho.
Couto produz uma história densa e difícil. A arte em preto e branco ajuda a grafar ainda mais a agressividade da narrativa. A primeira parte é fluida, fácil de ler, repleta de elementos narrativos adultos, além de uma originalidade em sua abordagem, apesar de não ser um personagem inédito em motivações e estilo de combate, ao menos não é um genérico ou enlatado norte-americano.
É engraçado como elementos tão diferentes se cruzam. O cenário faz lembrar o bucólico e paupérrimo presentes em O Exterminador do Futuro e Mad Max 2. No que toca o protagonista, há características singulares, como o fato de se citar em terceira pessoa, e um visual que se assemelharia ao herói dos games God of War, quase como um proto Kratos. Já os personagens periféricos guardam coincidências visuais leves com figurantes vistos em Blade Runner, Waterworld e até o filme Conan: O Bárbaro de 1982.
A parte que cabe ao Deodato desenhar é diferente em narrativa, a história reúne outras referências visuais e em argumento também. O tom é mais sujo, cínico, uma versão bem diferente em tônica da primeira, o roteiro de Borges é verborrágico, remetendo ao Conan de Roy Thomas. Ler Ramthar faz ter curiosidade por mais momentos como esse, e por outras criações de Deodato Borges, e resulta em um resgate necessário e infelizmente isolado.