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  • Crítica | Amor Sublime Amor (1961)

    Crítica | Amor Sublime Amor (1961)

    Crítica amor sublime amor 1961

    A história do cinema se confunde facilmente com suas obras, especialmente as clássicas e entre elas, certamente Amor, Sublime Amor é uma das mais notáveis. O musical vencedor de dez estatuetas do Oscar é uma adaptação de Robert Wise e Jerome Robbins sobre o musical da Broadway e narra a história de duas gangues rivais de Nova York: os Jets, garotos caucasianos que se consideram os nativos do país, contra os Sharks, formados por imigrantes e filhos de imigrantes latinos, a maioria sendo de Porto Rico.

    O filme se inicia com uma tomada aérea de Nova York, mostrando-a como o palco das lutas, um coliseu urbano onde a “guerra” entre meninos ocorreria, mostrando um panorama pessimista sobre a juventude, que deveria ser ingênua e sonhadora, mas é agressiva e afeita a brigas.

    Os Jets não demoram a aparecer, liderados por Riff (Russ Tamblyn), um garoto de boa aparência, mas de índole delinquente. Sua gangue é tão problemática e imoral quanto ele, e toda sua jornada envolve tentar convencer seu amigo Tony, feito por Richard Beymer, a regressar as práticas de violência e traquinagem.

    Os cenários remetem a pobreza, os primeiros ataques se dão em áreas comuns, em quadras de basquete, esporte conhecido na época por abrigar marginais e drogados. A ação se desenrola progressiva e gradativamente, com belos passos de balé, jazz e dança contemporânea, e até demora um pouco para ter diálogos entre os personagens. A intenção era impactar pela dança.

    Já os Sharks são mostrados como gente mais sofrida, que tem de lutar para viver e sobreviver. Liderados por Bernardo (George Shakiris), logo ocorre um baile onde moços e moças, ligados ou não aos dois grupos se reúnem, e é nele, que a jovem e inspiradora Maria (Natalie Wood) encontra os olhos de Tony, e os dois passam a se enamorar. Essa é uma releitura de Romeu e Julieta, clássico teatral de William Shakespeare, adaptado para a segunda metade do século XX, e o intento de tornar a história mais palatável é bastante acertada, já que o drama é mais próximo do comum ao público.

    Tecnicamente o filme é impecável, seus cenários, mesmo quando são pequenos remetem a um cinemão, parecem amplos, em jogos de espelhos tirados direto do teatro. As coreografias de Robbins são boas, até Fred Astaire, mestre do sapateado elogiou o desempenho de Tamblyn, fato que fez o ator se preocupar menos com o seu modo de atuar e dançar. As atuações, apesar de histriônicos, combinam bem com a trama, ajudam a tornar esse melodrama em algo crível, um conto urbano verossímil, mesmo cheio de fantasias.

    Se o primeiro ato, antes do intervalo soa cansativo, o ritmo da segunda parte compensa, especialmente por focar mais na personagem mais rica do roteiro, Maria. O círculo de mulheres porto-riquenhas tem mais questões problemáticas. Com situações realmente graves e mais fáceis de associar com a atualidade, mesmo que as canções girem em torno da mulher só ter sucesso quando consegue alguém para banca-la. Chega a ser engraçado como Maria trabalha e provém seu sustento sozinha no meio da cena onde sonha com seu Tony/Romeu, isso serve de comentário do quão tacanho era o pensamento da época.

    Toda a sequência da música da versão de confronto em Tonight é sublime, as gangues indo em direção ao tão aguardado confronto, Tony e Maria sonhando juntos em pensamento, mas fisicamente distantes, só esse trecho é como uma opereta particular, que reúne desejos e anseios de fontes completamente diferentes, e resultam em tragédias particulares e comuns a todos.

    A luta entre Riff e Bernardo é icônica, e serviu de inspiração para diversas obras artísticas, entre elas o hit Beat It, de Michael Jackson, além é claro dos clássicos “underground” de Walter Hill, tanto Warriors: Os Selvagens da Noite quanto Ruas de Fogo.

    O final é dramático, triste e melancólico, e por mais que pareça conveniente demais o desfecho, não há como negar sua carga dramática. Amor, Sublime Amor é um clássico atemporal, e é fácil de se apreciar mesmo atualmente, exceto talvez por ter um ritmo um pouco arrastado, sobretudo para o espectador mais apressado, ainda assim, é uma história de pulso, sentimento, poesia e verve, como os clássicos shakesperianos eram.

  • Crítica | O Preço de um Prazer

    Crítica | O Preço de um Prazer

    “Você não sabe quem eu sou, né?”

    Engravidou, casou. O músico Rocky Papasano não quer ser um cafajeste, e por isso, deixa se envolver pela jovem Angie Rossini que o procura numa festa, grávida do artista de jazz. Os dois estranhos, instáveis na vida, e assombrado agora pela iminência de ser pai, e mãe. Numa época que a liberação feminina ainda era revolucionária demais, Rocky e Angie mergulham de cabeça no mais polêmico dos dilemas: assumir, ou abortar? O Preço de um Prazer dilui essa polêmica num romance que nunca engata, e deixa o seu grande tema como pano de fundo para não chocar assim as plateias mais sensíveis, com foco sobretudo na luta emergente do feminismo – um tema extremamente forte no ano que Cleópatra, o épico da MGM com Elizabeth Taylor, estreou e arrebatou as bilheterias.

    Porque se no Cinema, a mulher era valorizada em diversos cenários possíveis, na América da vida real, as feministas ainda tinham de lutar por sua voz, fim da violência doméstica (rapidamente discutido no filme) e igualdade salarial em meio a tantos outros conflitos de gênero, raça, e classe. Valeria a pena privar um bebê desse mundo? Com referências essenciais a nouvelle vague francesa dos anos 60, principalmente ao famosos e libertários Acossado e Viver a Vida, de Godard, O Preço de um Prazer faz da jovem atriz Natalie Wood, com seus grandes olhos expressivos, a equivalente Anna Karina de Hollywood – sem o sex-appeal da francesa, mas transbordando um existencialismo marcante. Aqui, na pele da moça que só quer sair da casa dos pais e enfrentar uma gravidez indesejada na selva de Nova York, Wood mostra-se uma atriz monstruosa, capaz de nos emocionar em segundos com seu rosto que implora por um close, por uma capa de revista.

    Indicada ao Oscar pela sua doce e decidida Angie (com mérito), a estória é sobre ela e a sua libertação e amadurecimento enquanto mulher dos anos 60, mesmo tendo no elenco Steve McQueen. Mas é ela que precisa fugir de seus pais italianos que não lhe dão privacidade. Que precisa ter um filho sozinha, trabalhar, encarar o mundo. O Preço de um Prazer faz-se, assim, um bom estudo de personagem que só não é melhor pela direção de Robert Mulligan – é grande a saudade de um Mike Nichols, nessas horas. Recém-saído da fama que O Sol é Para Todos lhe rendeu, Mulligan não coloca esforço artístico algum nesta produção. Totalmente dependente da força e da química de seus astros principais, Mulligan parece entender o filme como uma peça de teatro de baixo apelo, e pouco prestígio a ser extraído de um conto sobre superação pessoal, e aborto.

    Dessa forma, qualquer encanto proveniente de O Preço de um Prazer cai na conta da dupla que torna o filme uma experiência dramática bacana, mas sem grandes momentos – exceto nas cenas familiares, com coadjuvantes a elevar o entretenimento e a árdua evolução da trama. Aos poucos, os dois estranhos percebem que jamais serão feitos um para o outro, mas agora há um elo entre eles – e de novo: vale a pena privar esse elo da vida, nesse mundo? Mulligan, escandalosamente sem inspiração um ano depois da grande obra da sua carreira, não desenvolve nosso interesse pela estória para muito além do óbvio, resultando então num filme tão sem fôlego ou expressão como um liveaction moderno da Disney, muito aquém do esperado dado pela polêmica dos temas da época, e claro, o poder do seu elenco.