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  • Crítica | Diplomacia

    Crítica | Diplomacia

    Diplomacia - Poster

    Fruto dos esforços do premiado diretor alemão Volker Schlöndorff, realizador também do clássico O Tambor, o longa Diplomacia trata de temas graves, sobre possíveis pecados de guerra, possivelmente evitáveis via negociações. As primeiras cenas se encarregam de alertar o público aos terríveis males que um conflito belicoso faz a uma nação, deixando claro o caráter do roteiro antes mesmo de prosseguir em sua narrativa.

    Os eventos ocorrem a partir da reunião no gabinete do General (e governador) von Choltitz, vivido por Niels Arestrup, responsável tático por uma possível explosão em Paris, evento que acarretará em baixas humanas, além de destruir monumentos históricos do país e a infra-estruturas ligadas ao saneamento básico. Nesta reunião, somente envolvendo aliados do militar, há forte oposição por parte deste conselho, ao ponto dos presentes precisarem buscar forças no álcool para verbalizar o ataque a França.

    O ofício de Choltitz é essencialmente solitário, dado o peso que suas decisões acarretarão, não só sobre a Alemanha nazista, incluindo, neste aspecto, lidar com a opinião pública nacional comumente ignorada em detalhes técnicos, mas também o eco global de uma ação tão enérgica sobre um país já quase todo tomado pelo exército. A interferência externa vem por parte do diplomata Raol Nordling (André Dussollier), responsável pelo país normalmente neutro, a Suécia, que teve a mesma postura durante a Primeira Guerra Mundial. Todas as expressões de Nordling determinam fortes emoções de choque, desde as cenas em que o próprio sequer tem fala, seguidas  de seu discurso que tenta, a princípio em vão, demover o chefe do exército em prosseguir com a matança e destruição.

    A discussão deixa o embaixador em situação crítica, quase sempre perdendo no embate ideológico proposto. A ideia de Schlöndorff é propor um filme de diálogo, muito mais reflexivo do que tantos outros filhotes dos filmes de guerra – incluindo outros da filmografia do próprio cineasta – pondo posições dissonantes para conviver em meio ao planejamento de um avanço predatório num conflito global. É a dignidade de Nordling que o põe em uma posição de confiança diante do general, mesmo em lados opostos do cenário político. A cena em que Choltitz tem um ataque médico é emblemática na demonstração disto, de que mesmo no momento de apuro, não seria o estado todo poderoso que acolheria seus alistados e seus líderes.

    O diretor diferencia com qualidade o cenário montado nas salas de reunião em que ocorrem as decisões mais importantes, compostas por homens da alta patente, que decidem os rumos de milhares, como também mostra a rotina dos não oficiais, de homens que são postos a trabalhar sem comida, sem dar vazão as suas necessidades básicas. A visão do diretor é importante por humanizar as figuras normalmente encaradas como vilões frios, já que em Diplomacia este são homens, comuns, falhos, que mesmo nessa composição, impõem terror .

    Não há, claramente, espaço para glória, após o sucesso do intuito do diplomata sueco, ao contrário, visto que a trajetória do longa-metragem está focada no general alemão, o qual, em seus momentos finais, tem de lidar com o avanço da resistência, e com a retomada ocorrida no Dia D. Nordling conseguiu entrar para história e recebeu medalhas e honras por salvar Paris. O argumento é competente ao extremo em registrar as nuances e dificuldades que os cônsules têm, usando suas falas e suas imagens para resumir bem tais esforços, em um fantástico registro da alma humana e da capacidade de convencimento via retórica.

  • Crítica | À Beira Mar

    Crítica | À Beira Mar

    A Beira Mar 1

    De início idílico, se valendo do cenário belo e inspirador da costa francesa, acompanhado de uma filmagem linda que resume emoções conflitantes, À Beira Mar começa promissor, a contar o drama de um casal que se isola, para aos poucos revelar a intimidade e o que ocorre na confusão mental e sentimental que o assola.

    Angelina Jolie – que agora utiliza o nome Pitt ao final – interpreta Vanessa, uma esposa bela, entediada e chorosa, incapaz em todos os momentos de expressar qualquer emoção que não envolva frustração e descontentamento. Seu marido, o autor literário em bloqueio criativo Roland Bertrand (Brad Pitt), tenta, através do retiro que fazem dos Estados Unidos, resgatar a vontade de escrever, além de ensaiar uma reaproximação com seu par, fato que o incomoda e que pouco parece ter importância a ela, visto a completa abstração de sua mulher.

    O retratar do estado depressivo é muito bem exemplificado ao determinar as duas partes do casal em momentos distintos da melancolia, mostrando uma mulher inapta, antissocial e largada ao auto-abandono, e um homem sem estímulos que se sente impotente por não conseguir ajudar seu par. Os moradores e frequentadores da pousada passam a ser elementos de refúgio para o homem, enquanto um casal de vizinhos, Lea (Melanie Laurent) e Pascal (Frédéric Desager), chega e começa aos poucos a capturar a atenção da mulher, que enxerga na paixão de ambos algo há muito perdido em si e em seu par.

    O roteiro de Jolie começa muito bem, tendo ótimas sacadas ao se discutirem questões morais relativas à inveja, traição, desconfiança, ciúmes e voyeurismo. As situações envolvendo a intensa busca por inspiração resultam em momentos cuja comicidade beira o desequilíbrio, resultando em um sucesso estrondoso e improvável. O problema é o preciosismo que ataca os momentos finais das mais de duas horas de duração.

    A razão que move Vanessa a agir de maneira egoísta não é mencionada, e a sugestão ao mistério acrescenta demais à trama, gerando complexidade a sua persona, quase justificando toda a misantropia e recalques psíquicos que a assolavam. Suas atitudes de intrusa e de péssima companheira passam a pesar quando o motivo torna-se óbvio, resultando num sem número de ações mal construídas dentro do roteiro.

    Ao menos a condução de atores é feita de um modo interessante, com momentos para cada um dos três principais personagens – e astros – brilharem em momentos solos, com diálogos e situações inteligentes pulverizadas entre eles, não sendo monopólio nem de Pitt ou Jolie as atenções dramáticas do longa, com momentos de brilho esporádico não só para os análogos mais jovens, como para Niels Arestrup, que faz um mentor estereotipado que funciona em cada momento em que aparece.

    O embate que poderia ser interessante, entre Laurent e Jolie, duas diretoras/atrizes promissoras em cena, se dilui em meio a explicações baratas que fazem eco com as piores manias do cinema mainstream, vistas principalmente em Interestelar e em seus primos. A comparação com Sr. e Sra. Smith, que seria em tom de piada, quase se justifica graças aos tropeços da direção.

    O conto, que poderia ter sido mais, soa bobo e infantil, distante do que a premissa previa, sobrando uma fotografia e edição competentes, caindo sobre Angelina Jolie Pitt os mesmos pecados vistos em seu filme anterior, Invencível, ainda que À Beira Mar não seja um produto panfletário e cafona, ao menos não até o seu final, que abraça por completo o segundo adjetivo. Gera sobre o casal de atores a pecha de metalinguagem da crise conjugal, com a teoria de que o incômodo passado em tela reflete de certa forma o drama do casal.