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  • Crítica | Sherlock Holmes: A Voz do Terror

    Crítica | Sherlock Holmes: A Voz do Terror

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    Primeiro dos doze filmes feitos pela Universal com Basil Rathbone e Nigel Bruce fazendo os canônicos personagens de Arthur Conan DoyleSherlock Holmes: A Voz do Terror é regido por John Rawlins (de As Mil e Uma Noites, Dick Tracy em Luta e Dick Tracy Contra o Monstro). A primeira história do detetive se passa em tempos atuais, no ano de 1942, e toca em um assunto relevante, a Segunda Guerra Mundial. Iniciando-se com uma transmissão de rádio de cunho sensacionalista, A Voz do Terror remete a Alemanha do III Reich na tentativa de apavorar o “bravo” povo inglês, anunciando um grande número de atos de guerra com o claro intuito de minar a autoestima dos estrategistas e do povo.

    Após uma reunião da inteligência nacional, a portas fechadas, uma parcela dos presente sugere a inclusão do detetive particular no encontro, ideia que seria prontamente rebatida pela ala mais temerosa. Rathbone encarna um Sherlock mais sério que nos filmes anteriores, menos piadista e mais autocentrado, um sujeito mais experiente, talhado pelo tempo. A escolha da iluminação do figurino junto a fotografia dão à obra uma atmosfera noir inexistente nos episódios da 20th Century Fox, o que faz do filme como um todo bastante pitoresco e competente.

    O trabalho de investigação de Holmes não funciona perfeitamente com o excesso de interferências e relatórios, o que deixa aqueles que eram contra a sua convocação em polvorosa. Sherlock é quase tão onisciente quanto o público, o que prova ainda mais o seu valor como investigador. Pouco depois de comprovar em tela quem teria entregue informações ao inimigo, Holmes chega à conclusão de que alguém trabalhara contra a causa.

    É complicado acreditar que o protótipo do MI6 aceitaria de forma tão condescendente as orientações de um profissional como Holmes, ainda mais após uma tratativa fracassada à primeira vista. Mesmo com toda a superioridade do protagonista em relação aos outros personagens, a explicação do herói mostra que o seu método de dedução não obteve o êxito esperado graças à ação e interferência de seus ditos superiores, tendo que terminar o seu raciocínio discursando aos presentes numa espécie de tribunal improvisado – que de forma profética antevia Nuremberg – desmascarando um agente infiltrado que agiu no alto escalão britânico por longos 24 anos.

    Apesar de inverossímil, e até infantil, a trama é intrigante. Como cinema-resposta aos filmes de propaganda partidária de Joseph Goebbels, na Germânia, a obra contempla uma mensagem positiva de “marcha em frente” contra o vil inimigo nazista, traduzindo-se em um discurso motivador para a Inglaterra e as forças do bem contra o Eixo.

  • Crítica | Sherlock Holmes e a Arma Secreta

    Crítica | Sherlock Holmes e a Arma Secreta

    A cine-série protagonizada por Basil Rathbone apresenta a temática da Guerra contra o nazifascismo e pretensa soberania alemã, numa “adaptação” do conto de Arthur Conan Doyle, The Dancing Men. Dessa vez a obra é regida por Roy William Neill, que prosseguiria na franquia por mais 11 filmes. Logo de cara nota-se que os disfarces de Holmes estão melhor construídos do que a versão de 1939 para As Aventuras de Sherlock Holmes.

    Sherlock, em frente a um espelho, se desvencilha da máscara que usava como maquiagem, mostrando ao público sua real face e compartilhando com ele um pouco do seu processo de trabalho, numa frase bastante emblemática que lembra muito o detetive dos contos doylianos: “Eu nunca suponho, Watson”.

    Graças a um atentado, e com receio disso respingar em sua amada, Doutor Franz Tobel (William Post Jr.) aliado de Holmes, exige que seus experimentos não tenham interferência ou supervisão inglesa, fato interessante por si só por demonstrar de forma clara o paralelo com a costumeira neutralidade da Suíça, país de origem do espião infiltrado, e que só se permite entrar no esforço de guerra contra o Führer em seus próprios termos. A elevação de Tobel evidencia um defeito que cada vez mais se agrava: a lastimável transformação de Watson em um alívio cômico; o médico mal entra nas investigações.

    A única semelhança factual entre o roteiro final e o conto original é o código usado para esconder o segredo do agente infiltrado, que serve mais como easter egg do que como fonte de inspiração. A versatilidade de Rathbone constitui um dos pontos mais altos do filme, principalmente pela quantidade de disfarces que Sherlock lança mão. As cenas de tortura também são muito bem executadas.

    O Professor Moriarity – grafado errado na ficha técnica – é completamente diferente do retratado por George Zucco em Aventuras de Sherlock Holmes. Lionel Atwill, que já havia feito o Doutor Mortimer em O Cão dos Baskerville de 1939, metamorfoseia-se em um vilão comum, apenas preocupado com o lucro, em nada lembrando o Napoleão do Crime, inferior, e muito, ao seu antecessor no papel. O problema é tão gritante que ganha ares de ato falho, em uma fala de Sherlock/Basil emblemática: “Ora essa, esse não é o professor Moriarty, mestre dos crimes, que eu conheço”.

    A tentativa de deter Sherlock é muito facilmente desbaratada, e caracteriza este plano como algo muito mal construído, aliado à armadilha que o Detetive arquiteta para o seu rival, que o reduz a um simples bandido ordinário e sem criatividade própria, o que leva a crer até mesmo na possibilidade deste ser um impostor. Sua morte é ainda mais indigna que a versão do pastiche presente no filme.

  • Crítica | O Cão dos Baskervilles (1939)

    Crítica | O Cão dos Baskervilles (1939)

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    Dirigido por Sidney Lanfield, o Cão dos Baskerville é a primeira fita em que Basil Rathbone encarna o detetive Sherlock Holmes. Os cenários belíssimos, a neblina, os cortes secos, a fotografia e figurinos lembram muito as películas da Universal com temáticas de monstros, das quais o próprio Rathbone participou anteriormente – como o Filho de Frankenstein, lançado no mesmo ano, em 1939.

    O drama começa em Dartmoor, mostrando Charles Baskerville (Ian MacLaren) morrendo. Sherlock não demora a aparecer, aos 4 minutos sua silhueta é mostrada, mas só depois o seu rosto, numa tentativa da câmera de já instaurar uma aura mitológica no personagem. A diferença entre as duas locações é notória, enquanto a escuridão predomina no quintal da Mansão dos Baskerville, o apartamento 221b é um ambiente iluminadíssimo, sem espaço para ambiguidades e enfatizando, claro, os dons de clarividência de seu ilustre locatário.

    A justaposição das cenas em flashback da lenda, lida direto do manuscrito pelo Doutor Mortimer (Lionel Atwill), é um artifício interessante, mas ao ouvir a anedota – bastante amenizada comparada ao conteúdo do livro – Holmes não dá muita importância, tomando o seu violino para tocar despreocupadamente. Seu interesse só retorna ao caso quando é citado novo herdeiro, Henry Baskerville (Richard Greene) então o detetive envia Watson (Nigel Bruce) para ir com eles a Dartmoor, enquanto Holmes se preparava ainda em Londres.

    Watson e Henry se mostram incrédulos em relação a lenda local, ainda que só sejam completamente descrentes superficialmente. As cartas do doutor, em seu conteúdo, mostram o quanto ele está reticente a possibilidade de uma criatura sobrenatural estar rondando o solar. A cena da médium chamando a memória do falecido Sir Charles pode ser encarada como uma referência a obsessão ao espiritismo que assolou o autor Arthur Conan Doyle, e claro, sem a presença do astuto investigador para possivelmente desmentir a mulher ou evidenciar sua charlatanice.

    Mais tarde, com Sherlock já em Dartmoor acompanhado de Watson em uma perseguição, nota-se que a coloração de suas vestimentas, predominantemente cinzas, os fazem quase se camuflar naquele ambiente enevoado, o que se intensifica ainda mais com a filmagem rotoscópica em preto e branco. A revelação do vilão liberando a fera não é nem de longe tão urdida quanto no romance de Conan Doyle, ela é explicita demais, ignorando toda a sutileza e nuances do texto original, sobrando obviedade, apesar da prática ser comum nas obras cinematográficas dos anos 30.

    Talvez o maior problema da adaptação de Lanfield seja a personificação de Watson, um bufão atrapalhado e alívio cômico, pautando a atuação de Nigel Bruce no humor físico, muito diferente de sua contraparte literária, não tão genial quanto Holmes, mas ainda assim bastante inteligente e astuta. A obrigatoriedade de um romance, no caso entre Henry e Beryl Stapleton (Wendy Barrie) também tira o foco que deveria ser dado às investigações, o artifício era uma praxe na época, tanto que o primeiro nome nos créditos finais é o de Richard Green, só depois o de Basil Rathbone e em seguida Wendy Barrie.

    A conclusão é um pouco diferente do original, John Stapleton (Morton Lowry) tenta emboscar Holmes, e retorna à Casa dos Baskerville para terminar o serviço, lá a hipótese dele ser um descendente bastardo do Sir Hugo da lenda é tomada como fato, para que tudo fique mais claro para a audiência. A produção alcançou um sucesso suficiente para a feitura de uma continuação, ainda em 1939.