Tag: Patti Smith

  • Crítica | Filme Socialismo

    Crítica | Filme Socialismo

    Filme Socialismo 1

    Analisando a fugacidade humana por um olhar que mistura contemplação com intimismo narrativo, Jean-Luc Godard apresenta uma análise sobre uma viagem marítima, que corta o Mar Mediterrâneo em um cruzeiro, no primeiro ato do filme. O roteiro emula as características de uma sinfonia de três movimentos, sendo o primeiro momento uma viagem marítima repleta de famosos, que a partir de suas experiências pessoais e de estudo discutem o panorama político e econômico mundial através da história.

    A variação de estilos do diretor passa por momentos desde a absoluta inércia, onde a câmera somente flagra os artistas fazendo a sua arte, como a cantora Patti Smith, bem como analisa, através de cenas bastante alucinadas, as ideias de ditames do filósofo francês Alain Badiou. O conteúdo textual varia entre abordagens documentais e propostas ensaístas. A montagem desses momentos, variando entre o cotidiano de uma viagem de férias com diálogos comuns e rotineiros, e cenas de alto mar, executadas em grande parte com som direto através do forte vento oriental, faz eco com a dificuldade de compreensão da sociedade obcecada por capital, onde é comum que aspectos externos passem por prioridade mesmo diante das mais básicas necessidades afetivas humanas.

    Os momentos estruturais diversos se entrelaçam, passando então para terra firme, onde o cineasta acompanha o trabalho jornalístico de repórteres que acompanham o dia a dia da família Martin, que tem nas instalações do posto de gasolina, de onde tiram o seu sustento, também a sua moradia, em mais uma demonstração da amalgama sócio-espiritual dos tempos modernos.

    Mesmo na prevalência de momentos em que o discurso é realizado sem falas, não há sentenças vazias, normalmente aventa-se a interpretação do espectador, sem interferência do interlocutor, ainda que silêncio nenhum dentro do drama de Godard tenha em seu intuito o caráter de acaso. A discussão prossegue relacionando a filosofia à incompreensão do homem, mostrando que o abstrato é a tônica principal do roteiro.

    A mensagem tenta evocar a vontade popular para determinar os desígnios do povo em mover seu próprio destino, mas sabiamente mostra que a decisão por meio de referendo popular não necessariamente é a saída mais humanitária, tampouco igualitária, pontuada em seus anúncios com uma trilha sonora semelhante a de filmes de terror, usando grande parte do cenário político de países, como Egito e Palestina, para exemplificar o seu ponto.

    A poesia do texto final não determina parâmetros de conduta, mas usa seus momentos derradeiros para espezinhar especialmente a tirania ditatorial de direita, utilizando imagens que remetem a questões comuns a todos, como o execrar ao nazismo e o uso de eventos de massa como instrumento de alienação do proletário. As reprimendas também ocorrem diretamente na figura de Franco quando a câmera passa por Barcelona, o que ainda reabre feridas atuais, como a questão da luta por independência da Catalunha. As frases finais, em letreiros de proporções dantescas,  há um abismo entre a manutenção das leis e a justiça de fato, uma certeira nota a respeito do cercear de liberdade e do direito do povo.

  • [Na Vitrola] Top 10 – Melhores Discos de 2012

    [Na Vitrola] Top 10 – Melhores Discos de 2012

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    2012 foi um grande ano para a música com diversos ótimos discos lançados em todos os estilos musicais, logicamente, se você esperava menção deles na grande mídia se deu mal. Após muita dificuldade, consegui comprimir minha lista de álbuns para dez dos meus preferidos, apesar de não ser tão eclética quanto a lista de 2011, procurei diversificá-la, dentro do possível, espero que curtam.

    Leonard Cohen – Old Ideas

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    Depois de anos afastado do cenário musical, Cohen fez um de seus melhores discos, unindo canções intimistas repletas de melancolia e pitadas de humor que apenas um quase octogenário como ele poderia fazer. Cohen utiliza sua voz cada vez mais grave para falar sobre espiritualidade, dor, amor opressivo e sexo, demonstrando ser extremamente relevante ainda hoje.

    Dinosaur Jr. – I Bet On Sky

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    Após a reunião do Dinosaur Jr. em 2007 com Beyond, o trio demonstrou que mesmo anos afastados ainda tinham uma química incrível. Em 2009 veio Farm, excelente álbum e a comprovação de que a banda tinha vindo para ficar. Três anos depois, I Bet on Sky só comprova o que os discos anteriores já haviam deixado claro, a capacidade de composição da banda e a consolidação de um ótimo retorno com uma sequência de três ótimos álbuns, todos completamente despretensiosos.

    Blackberry Smoke – The Whippoorwill

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    Apesar de ainda pouco conhecida por aqui, o Blackberry Smoke pouco a pouco vem fazendo barulho. A banda existe desde 2000 e The Whippoorwill é seu terceiro álbum de estúdio e consolida a banda como uma das melhores da atualidade. Junte The Faces, Lynyrd Skynyrd, Rolling Stones, Hank Williams e Allman Brothers e você terá uma ideia do que esperar do álbum. Discaço!

    Black Country Communion – Afterglow

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    Com dois álbuns lançados e uma tensão entre o quarteto, Afterglow parece ser o último disco do Black Country Communion. Uma pena. Afterglow marca o auge do supergrupo formado por Glenn Hughes (vocais e baixo), Joe Bonamassa (vocais e guitarra), Jason Bonham (bateria) e Derek Sherinian (teclados) e um entrosamento maior entre eles, algo que ainda soava um tanto “artificial” nos discos anteriores. Só nos resta torcer para que os integrantes se entendam e continuem nos presenteando com trabalhos como Afterglow.

    Chris Robinson Brotherhood – Big Moon Ritual

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    Com o hiato do Black Crowes, o vocalista da banda, Chris Robinson, decidiu se mexer e juntou alguns amigos e gravou Big Moon Ritual. O álbum tem uma sonoridade setentista interessantíssima, cheia de referências de blues, soul, country, e claro, rock and roll. Daqueles discos para você deixar os problemas do mundo de lado e focar nos pequenos prazeres da vida.

    Danko Jones – Rock And Roll is Black and Blue

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    Rock And Roll is Black and Blue marca o retorno do trio canadense à velha forma. Após dois álbuns medianos, o Danko Jones entrega um discaço cheio de peso, agressividade e um ecletismo rítmico em seu som, tudo isso com a simplicidade típica da banda. Daqueles pra ouvir repetidas vezes e não enjoar.

    Patti Smith – Banga

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    Banga é um retorno às origens de Patti Smith, dada as similaridades com seu álbum de estréia, Horses. Assim como Horses, Banga mergulha num universo poético aberto às abstrações e inúmeras referências, de Tarkovski à Amy Winehouse. Extremamente reflexivo e denso, onde cada audição pode lhe proporcionar novas sensações.

    Flying Colors – Flying Colors

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    Flying Colors é o supergrupo formado por Casey McPherson (vocalista), Steve Morse (guitarra), Dave LaRue (baixista), Neal Morse (teclados) e Mike Portnoy (bateria) e trazem como influências elementos de progressivo, funk, folk e heavy metal, o resultado é um álbum excelente. Esse caldeirão de ideias entrega um álbum riquíssimo, cheio de belas canções e extremamente acessível.

    Bruce Springsteen – Wrecking Ball

    Wrecking Ball

    Bruce Springsteen entrega discos que são retratos de uma época. Wrecking Ball não é diferente dos demais, Springsteen põe o dedo na ferida e escancara para o mundo o registro de uma sociedade entregue à ganância e corrompida pelo dinheiro. Álbum irretocável e com muito a dizer sobre o caos que vivemos. Siga o conselho do compositor e “Get yourself a song to sing and sing it ‘til you’re done. Yeah, sing it hard and sing it well. Send the robber barons straight to hell”, eu farei o mesmo…

    The Porters – Rum, Bum and Violina

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    O The Porters resgata um rock and roll despretensioso daqueles para se ouvir enquanto você aprecia uma cerveja gelada. O vocal rascado e rouco de Volker Grünner se encaixa perfeitamente na proposta da banda, tudo isso aliado a ótimos arranjos de violinos, banjos e acordeões, tudo isso numa pegada punk-rock cheio de influências de country, folk e música celta. Divertidíssimo.

    É isso aí galera, como puderam perceber, muita coisa teve de ficar de fora para a entrada de outras, aproveitem a oportunidade e deixem suas listas no campo de comentários. E claro, tirem a bunda da cadeira e corram atrás de novos sons.

    Menção honrosa: Baroness – Yellow & Green, The Cult – Choice of Weapon , Graveyard – Lights Out, Rival Sons – Head Down, Van Halen – A Different Kind of Truth, Alabama Shakes – Boys & Girls, Michael Kiwanuka – Home Again, Bob Dylan – Tempest, Soundgarden – King Animal, Soen – Cognitive, Lamb of God – Resolution, Neil Young – Psychedelic Pill, Adrenaline Mob – Omertá, Stone Sour – House of Gold & Bones Part 1, Fiona Apple – The Idler Wheel, Aimee Mann – Charmer, Howlin’ Rain – The Russian Wilds, Europe – Bag of Bones, Witchcraft – Legend, Mark Lanegan Band – Blues Funeral, Spectrum Road – Spectrum Road , Orange Goblin – A Eulogy for the Damned e tantos outros.