Crítica | Linha de Frente
Uma produção que carrega os nomes de Jason Statham como protagonista e Sylvester Stallone como roteirista sem dúvida chama a atenção. O mínimo que se espera é um filme de ação razoavelmente divertido, apoiado em clichês do gênero, e, talvez, com uma dose de auto-ironia – tendo em vista a parceria dos dois brucutus na franquia Os Mercenários. Uma pena, então, que Linha de Frente fique abaixo do mediano, comprometido por um roteiro muito confuso e uma direção pouco inspirada.
O eterno Frank Martin/Chev Chelios desta vez vive Phil Broker, um ex-policial que se muda para uma pequena cidade da Luisiana. Viúvo há pouco tempo, ele só quer ficar na moita e criar sua filha em paz, mas é óbvio que os problemas o perseguem. A escalada é quase surreal: a pequena Maddy, treinada pelo papai, defende-se de um bully na escola. A mãe do garoto (Kate Bosworth) é uma viciada maluca que pede vingança ao irmão traficante, Gator Bodine (James Franco). Ele, por sua vez, descobre o passado de Broker e o “vende” para antigos desafetos. Parece muito forçado? Calma, que a coisa ainda piora.
É possível dar um desconto para Statham, que, bem, é sempre ele mesmo, e para a estreante Izabela Vidovic, muito carismática como Maddy. Todos os outros personagens são mal definidos e mal aproveitados, configurando-se como o problema maior do filme. Suas atitudes são contraditórias, seus objetivos e índoles parecem mudar de acordo com a necessidade da trama. A personagem de Bosworth surge como uma megera cuja reação é muito exagerada diante de uma situação pequena. E, do nada, cria consciência e se redime. Bodine (com direito a Franco caricato até dizer chega) indica que vai ser o vilão principal, mas é reduzido a um papel acessório, e termina enlouquecendo e decidindo ser o malvadão-mor, de maneira nem um pouco convincente.
A trama limita-se a criar problemas para o herói, resolvê-los rapidamente e partir pra outra situação de perigo, sem muita preocupação com lógica e coesão narrativa. Fica gritante a indecisão entre destacar Bodine ou os vilões do passado de Broker (que acabam sendo um subplot mal encaixado). Além de vários personagens que aparecem e somem aleatoriamente, como a professorinha/interesse amoroso (Rachelle Lefevre), o xerife talvez corrupto, mas gente boa (Clancy Brown), e a namorada do vilão (Winona Ryder). Triste dizer, mas Linha de Frente é o velho Sly num de seus piores momentos criativos.
Nem visualmente o filme consegue ganhar muitos pontos. O diretor é Gary Fleder, que, dos trabalhos mais relevantes, fez O Júri e Beijos Que Matam. Aqui ele apela pra cansativa estética da câmera tremida, que, aliada à fotografia escura nos momentos mais climáticos, resultam em sequências de ação pouco interessantes. As cenas que mostram as habilidades marciais do protagonista à luz do dia até empolgam, mas são poucas. O desfecho traz tiroteios e perseguições automobilísticas genéricas e filmadas à noite, sacramentando mais um capítulo esquecível da extensa filmografia de Jason Statham. Ele ainda é o cara, mas tá devendo.
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Texto de autoria de Jackson Good.