Tag: Kate Bosworth

  • Crítica | O Sono da Morte

    Crítica | O Sono da Morte

    O Sono da Morte - poster

    Os sonhos são elementos poderosos de nosso cotidiano, tanto que a arte se ocupa frequentemente de trata-los. O cinema como arte audiovisual tem as melhores ferramentas para isso, e frequentemente o faz em filmes como A Origem, Vanilla Sky, Cidade dos Sonhos, cada um sob uma ótica diferente sobre o papel do sonho em nossa sociedade e sobre como isso se externaliza em cada um de nós. Se “Seguir seus sonhos” não garante encontrar a felicidade no fim do arco-íris, abandona-los deixam um sabor amargo de algo desperdiçado. Um sonho é um pouco do que nós somos, nos forma, e eventualmente tornam-se fantasmas que no fundo são apenas nós mesmos em conflito interno.

    O Sono da Morte parte de uma premissa que soa tentadora: Imagine que todos seus sonhos possam ser realidade. Assim, seguimos a trajetória de luto de uma família que se despedaçou pela morte de seu filho em um acidente doméstico, e vê na adoção do menino Cody (Jacob Tremblay) a esperança de um recomeço. Rapidamente Cody demonstra sua fascinante capacidade de tornar seus sonhos em realidade, e assim torna-se objeto da idealização de seus novos pais que vêm nele uma chance de cura de suas feridas. A analogia é óbvia, já que crianças são comumente vistas como extensão dos sonhos de seus pais, fazendo com que muitos cresçam sobre uma pressão que eventualmente os força a se reprimirem. Desta forma, a produção tem um objetivo bastante diferente do que seu título nacional sugere, sendo menos um thriller e mais um drama psicológico sobre as dores da perda, e sobre a forma como a memória e subconsciente lidam com os fantasmas acumulados do passado.

    Mas o encanto e poder dos sonhos está justamente no fato deles não se realizarem, de serem uma válvula de escape para temores e vontades sem o risco da vida real. Na vida real a materialização de um sonho implica em enfrentar a distância entre a idealização e o possível. E pior, implica em lidar com os pesadelos. Infelizmente, porém, boa parte do que oferece de interessante ao público ocorre em seus últimos 20 minutos, onde a falta de ritmo incomoda e afasta a possibilidade de emocionar.

    Jacob Tremblay é uma sensação do cinema como há um bom tempo não se via. Talento, carisma e personalidade forte são marcas deste ator mirim, e ele é aqui a melhor coisa do filme. É um ator capaz de provocar sensações reais, mesmo que o roteiro e trama não exijam muito da habilidade do elenco. Apensar dessa não exigência, o quase irreconhecível Thomas Jane consegue colocar-se abaixo das exigências não conseguindo expressar qualquer emoção um pouco mais profunda diante dos eventos fantásticos que presenciava, ou até mesmo em cenas mais corriqueiras.

    Vendido como thriller, O Sono da Morte estabelece-se como um interessante drama acerca da forma com que lidamos com nossos medos e ansiedades, e sobre como estes, quando mal tratados, tornam-se fantasmas ferozes que nos perseguem em sonhos e alcançam a vida real, afetando nossa vida e interação com as pessoas. Por uma falta de foco no que contar, as ideias e premissa interessantes soam deslocadas e amontoam-se em um final apressado demais para impactar o espectador, que sequer tem tempo de sentir receio do perigo ou se emocionar com as perdas que os personagens sofrem, falhando como drama e como terror ao optar por um final excessivamente piegas.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Linha de Frente

    Crítica | Linha de Frente

    Homefront-Movie-Poster

    Uma produção que carrega os nomes de Jason Statham como protagonista e Sylvester Stallone como roteirista sem dúvida chama a atenção. O mínimo que se espera é um filme de ação razoavelmente divertido, apoiado em clichês do gênero, e, talvez, com uma dose de auto-ironia  tendo em vista a parceria dos dois brucutus na franquia Os Mercenários. Uma pena, então, que Linha de Frente fique abaixo do mediano, comprometido por um roteiro muito confuso e uma direção pouco inspirada.

    O eterno Frank Martin/Chev Chelios desta vez vive Phil Broker, um ex-policial que se muda para uma pequena cidade da Luisiana. Viúvo há pouco tempo, ele só quer ficar na moita e criar sua filha em paz, mas é óbvio que os problemas o perseguem. A escalada é quase surreal: a pequena Maddy, treinada pelo papai, defende-se de um bully na escola. A mãe do garoto (Kate Bosworth) é uma viciada maluca que pede vingança ao irmão traficante, Gator Bodine (James Franco). Ele, por sua vez, descobre o passado de Broker e o “vende” para antigos desafetos. Parece muito forçado? Calma, que a coisa ainda piora.

    É possível dar um desconto para Statham, que, bem, é sempre ele mesmo, e para a estreante Izabela Vidovic, muito carismática como Maddy. Todos os outros personagens são mal definidos e mal aproveitados, configurando-se como o problema maior do filme. Suas atitudes são contraditórias, seus objetivos e índoles parecem mudar de acordo com a necessidade da trama. A personagem de Bosworth surge como uma megera cuja reação é muito exagerada diante de uma situação pequena. E, do nada, cria consciência e se redime. Bodine (com direito a Franco caricato até dizer chega) indica que vai ser o vilão principal, mas é reduzido a um papel acessório, e termina enlouquecendo e decidindo ser o malvadão-mor, de maneira nem um pouco convincente.

    A trama limita-se a criar problemas para o herói, resolvê-los rapidamente e partir pra outra situação de perigo, sem muita preocupação com lógica e coesão narrativa. Fica gritante a indecisão entre destacar Bodine ou os vilões do passado de Broker (que acabam sendo um subplot mal encaixado). Além de vários personagens que aparecem e somem aleatoriamente, como a professorinha/interesse amoroso (Rachelle Lefevre), o xerife talvez corrupto, mas gente boa (Clancy Brown), e a namorada do vilão (Winona Ryder). Triste dizer, mas Linha de Frente é o velho Sly num de seus piores momentos criativos.

    Nem visualmente o filme consegue ganhar muitos pontos. O diretor é Gary Fleder, que, dos trabalhos mais relevantes, fez O Júri e Beijos Que Matam. Aqui ele apela pra cansativa estética da câmera tremida, que, aliada à fotografia escura nos momentos mais climáticos, resultam em sequências de ação pouco interessantes. As cenas que mostram as habilidades marciais do protagonista à luz do dia até empolgam, mas são poucas. O desfecho traz tiroteios e perseguições automobilísticas genéricas e filmadas à noite, sacramentando mais um capítulo esquecível da extensa filmografia de Jason Statham. Ele ainda é o cara, mas tá devendo.

    Texto de autoria de Jackson Good.