Tag: Rawson Marshall Thurber

  • Crítica | Com a Bola Toda

    Crítica | Com a Bola Toda

    Os anos noventa foram repletas de comédias populares cujo maior foco humorístico era o besteirol, e no inicio dos anos 2000 uma boa parte dos filmes engraçados se valiam disso também. É o caso do filme de Rawson Marshall Thurber, Com A Bola Toda, longa de 2003 que começa com o estranho (e meio trágico) comercial da Global Gym, a academia de White Goodman, o personagem caricato e mega bizarro de Ben Stiller, que aliás é um homem rico e vaidoso. Logo é mostrada a contra posição dele, o personagem de Vince Vaugh Peter La Fleur,  um homem excluído, fracassado e que acorda recebendo o lambidas de seu cachorro no saco escrotal.

    Peter além de um encostado, é dono de uma academia barata, a Average Joe, que é frequentada por gente ainda mais excluída e estranha que ele, verdadeiros perdedores, que usam o lugar como o lugar onde podem praticar eventos esportivos sem serem espancados e humilhados por bullys ou por pessoas normais.

    É incrível como, mesmo Stiller estando um bocado em desgraça graças a alguns filmes ruins que fez, e Vaughn sendo mal visto pela maioria dos trabalhos sérios que tentou protagonizar –entre eles Swingers, Crime Desorganizado e Psicose de Gus Van Sant – ainda assim há um bom conjunto de atores, inclusive alguns que fariam sucesso mais a frente, como Justin Long e Alan Tudyk, que fazem respectivamente um homem delicado e estabanado, enquanto o segundo acha ser um pirata. Além disso, há Christine Taylor, que faz a advogada Katherine Vetchque tenta agitar as finanças do lugar, que em breve, precisaria ser fechado, a não ser que encontrassem uma saída, que incluiria White.

    Todo o universo de Goodman é bem bizarro, mesmo para os outros personagens, que vivem protagonizando piadas físicas o tempo todo. Há referencias homo-eróticas no treinamento de levantamento de peso e seu modo de cobrar os alunos tem formato quase nazista, inclusive com televisores gigantes dele cobrando as pessoas como o mito do Grande Irmão de George Orwell. Há também estátuas de lutadores nus, não entende o conceito de metáfora, e tenta parecer culto diante das mulheres, com direito a bombar ar num espaço nos shorts que imita a o volume peniano. De certa forma, o personagem repete o homem que Stiller fez em Turma da Pesada, que também era um professor de ginástica fanático por sua aparência.

    É tudo tão ridículo que soa como crítica e comentário social, que é evidentemente muito engraçada, seja na forma como fala do culto ao corpo ou como o roteiro de Thurber profetiza em 2004 sobre modas atuais, como os estereótipos presunçosos que normalmente se associa a quem faz Crossfit, Goodman seria algo nesse sentido. O script não é muito elaborado, rapidamente arruma desculpa para as pessoas da Average Joe conseguirem o dinheiro, em um campeonato de Queimado, ou Dodgeball, que pagaria 50  mil ao vencedor do torneio, em Las Vegas.

    Tudo envolvendo o esporte é engraçadíssimo, a inabilidade do time, a associação que organiza o desporto, a ADAA -American Dodgeball Association of America – e ainda se permite soar pervertido, mostrando a Queimada como um esporte que se originou nos bares de ópio da China, disputado com cabeças humanas ao invés de bolas, sem falar que os lemas da  prática esportiva são a violência, exclusão e degradação.

    O conjunto de atitudes de White Goodman é tão bizarra que qualquer evento normal soa estranho aqui. A pessoa que fala de maneira comum, como a moça que é interesse romântico do protagonista e antagonista parece uma personagem alienígena, de fora do universo. Há um poder magnético dos personagens, os que frequentam a Average Joe tem adversário esquisitos e obsessivos a frente, embora seja em um espírito bem diferente do seu. Até quando atraem um mentor, é um descompensado mental, Patches O’Houlihan, que na velhice, é feito por Rip Torn, em uma clara referencia ao personagem Tenente Dan Taylor de Forrest Gump, que por sua vez, satiriza de certa forma Ron Kovic de Nascido em 4 de Julho.

    É incrível como o longa consegue equilibrar bem as partes que só faz humor escrachado, com outras que é pretensa e pseudo sério, como quando há comentários televisivos da ESPN. Por mais que hajam piadas de cunho sexista e até xenófobas, mas eles fazem troça até dos próprios personagens, que estréiam no campeonato com roupas de BDSM. Todos são ironizados igualmente, e por incrível que pareça, o jogo em si é bem emocionante, e contem algumas participações especiais como a de David Hasselhoff.

    O elenco em entrevista falavam sobre a dificuldade que tinham ao jogar, de não vacilar e se acovardar quando vinham as bolas vinham. Gary Cole e Jason Bateman, que eram a dupla do ESPN Ocho, precisaram regravar a maioria de suas falas pois o roteiro constantemente mudava, mas com todas as piadas, o filme teve um legado, pois ligas de queimada adulta começaram a surgir em todo o país na época do lançamento do filme, resultando até em um convite a Cole para participar do cerimonial pré jogo em um torneio em Chicago, Illinois.

    Cada um dos personagens tem seu momento de gloria, mesmo os pequenos, e a  personalidade agregadora de Peter apesar de irritante, e carregada de uma necessidade de aceitar a todos sempre revela bastante é forçada demais, ainda mais na característica de isenção, mas mesmo não soando bem, faz sentido os excluídos se reunirem em torno de si, até porque por mais boa praça que ele fosse, era também um fracassado.

    Com a Bola Toda louva o comportamento dos excluídos, também conhecidos como Underdogs, não só na jornada da Average Joe, mas até na transmissão da ESPN 8, The Occho. Em um universo em que os animadores homens são bulllys, é natural que todo o resto seja grotesco e bizarro, e dada essa mensagem, até o desfecho de La Fleur sendo orientado por Lance Armstrong e a mensagem final inclusiva não soa tão cafona, principalmente por ter no baú de dinheiro que ele ganha no final, escrito Deus Ex Machina, que demonstra o quanto o script, elenco, diretor e demais membros da produção não levam nem filme e nem o esporte a sério.

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  • Crítica | Arranha-Céu: Coragem Sem Limite

    Crítica | Arranha-Céu: Coragem Sem Limite

    Dwayne Johnson tem sido sinônimo de filmes com bilheterias altamente lucrativas. O popular The Rock já protagonizou esse ano Rampage: Destruição Total, no ano passado Jumanji: Bem-Vindo a Selva, a série Ballers e fez parte do elenco de Velozes e Furiosos 8. Sua presença normalmente é associada a um bom investimento de marketing, e nesse Arranha-Céu: Coragem Sem Limite não é muito diferente.

    Rawson Marshall Thurber já tinha feito outro filme com o astro, Um Espião e Meio rendeu bem e deverá gerar algumas continuações. A nova empreitada também é roteirizada pelo cineasta e traz uma história que faz lembrar demais a de Duro de Matar, ainda que tenha personalidade e complexidade bem diferentes da saga de John McLane. Johnson vive Will Sawyear e sua primeira cena mostra ele como um sujeito que dez anos antes, vai atender um chamado de emergência. Ao tentar impedir um crime, a ação dá errado, matando os reféns e deixando o agente sem uma das pernas. Will se reinventa, casa com a médica Sarah (Neve Campbell) e tem dois filhos com ela.

    Após um convite de um antigo companheiro, Sawyear decide verificar a segurança de um empreendimento bilionário e audacioso, um prédio enorme e com centenas de andares que estava sendo preparado para ser habitado por pessoas. Nesse meio tempo, o local é atacado por bandidos estrangeiros e um show de clichês começa. A história em si não tem absolutamente nada de novo, tampouco os feitos mentirosos do herói tem algum tipo de ineditismo. De fato ele parece muito com as aventuras escapistas que lotavam as fileiras das locadoras nos anos noventa, mas o modo como toda essa jornada é mostrada é absurdamente bem feita, muito por conta da direção de fotografia de Robert Elswit, que consegue registrar muito bem os momentos com efeitos práticos, aliado a efeitos digitais que fazem todas proezas de Will soarem ainda mais grandiosos.

    Se o texto apela demais para arquétipos, a expectativa pelo destino que a família Sawyear terá ao final de todo o drama é acompanhado pelo espectador com muita apreensão, graças principalmente ao tempo de tela que cada um dos personagens tem, em especial Neve Campbell. Outros membros do elenco servem bem de escada para The Rock, em especial Byron Mann que faz um policial de Hong Kong e Chin Han, que faz o projetista e gênio por trás do prédio Skyscraper.

    Johnson faz um protagonista sobre-humano, mas diferente do brucutu comum e exército de um homem só, e sim o sujeito que mesmo com suas limitações, consegue se superar e saltar para um prédio de mais de cem andares em chamas unicamente porque precisa salvar o que lhe restou de felicidade.

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  • Crítica | Um Espião e Meio

    Crítica | Um Espião e Meio

    Um Espião e Meio

    Situado num estranho mundo onde no high school Kevin Hart é um alguém super popular e propenso ao sucesso, e Dwayne Johnsson é um menino gordinho e vítima de bullying, Um Espião e Meio se propõe a ser uma comédia leve, assim como haviam sido os filmes do diretor Rawson Marshall Thurber, Com a Bola Toda e Uma Família do Bagulho. O começo do filme mostra os personagens Calvin Joyner (Hart) sendo congratulado por seus amigos e docentes, enquanto Robert Weirdicht ou Fat Bob (The Rock em uma terrível animação em CGI) se dedica basicamente a tomar banho ao som de uma música efeminada, no vestiário do colegial. Depois de uma humilhação pública, os dois estudantes acabam tendo uma estranha ligação emocional, muito mais intensa por parte de Robert, que se manifestaria no futuro.

    Na atualidade, Calvin ainda está com sua esposa Maggie (Danielle Nicolet), a mesma namorada da escola, e vive em crise tanto de trabalho como de meia-idade. De repente, se vê convidando Bob Stone para um happy hour. Stone é uma repaginação do personagem obeso mostrado no epílogo, e evidentemente tem muito mais mudanças para exibir e demonstrar diferenças, que vão muito além do upgrade em aparência, e envolvem violência e caça aos bullyers da vida adulta. Nesta parte, o mundo se ajusta à realidade vista fora do filme, com Johnson mostrando ser uma versão afável de Jason Bourne.

    A dupla se dedica a retornar ao ginásio onde estudaram, reativando alguns traumas do brucutu, fazendo-o sentir por um momento a insegurança de estar no rabo da cadeia alimentar adolescente, ao mesmo tempo que faz Call se sentir mal por não ter correspondido às expectativas que todos – inclusive ele – tinham sobre seu futuro.

    Logo, a CIA corre atrás do brutamontes, acusando-o de alta traição, e toda a verdade é supostamente revelada a Calvin, que passa a ser cúmplice de uma máquina humana de matar, só porque estendeu a mão a um sujeito carente no passado. Apesar de todas as mudanças que envolvem o trabalho incógnito de Bob, há ali uma persona que não evoluiu com o passar dos anos e a conexão com a única pessoa que foi piedosa com ele em outros tempos.

    O argumento de Ike Barinholtz, David Stassen e Thurber varia entre múltiplas viradas dramáticas, emulando os bons filmes de super espião como Missão Impossível, mesclado com uma comédia que carece de um ritmo melhor desenvolvido. A morosidade da metade até o final do filme incomoda bem mais que o conjunto de clichês envolvendo superação de traumas e inversão de desconfianças.

    Mesmo com esse conjunto de problemas relativos à cafonice e ao ritmo, Um Espião e Meio consegue ser uma comédia razoável, com algumas risadas previsíveis e inversões de valores interessantes. Em meio ao domínio do politicamente incorreto, o texto final consegue fazer troça com grupos que normalmente não são alvo da comédia, resultando em um filme bastante inclusivo, que enaltece um valor antigo e em desuso, que é a amizade pura e inocente.