Crítica | A Grande Vitória
Demonstrando o bom momento do cinema nacional que se expandiu além dos filmes de mazelas sociais ou excessivamente formatados por patrocinadores, A Grande Vitória apresenta uma tradicional história esportiva que parte da trajetória de Max Trombini como argumento fundamental em defesa do esporte.
Baseada no livro Aprendiz de Samurai, escrito pelo próprio Trombini, a trama dirigida por Stefano Capuzzi inicia-se com um profundo mergulho memorialístico. Vivendo em uma casa simples com sua mãe e os avós, o jovem Max tem como figura patriarcal o avô, que, ao lado das pequenas pílulas de sabedoria madura, ensina-lhe golpes de judô. Após brigas na escola que quase geram uma expulsão, o garoto é orientado a praticar o esporte como forma de conquistar disciplina e responsabilidade.
A trajetória inicial do personagem atravessa uma tradicional narrativa de uma família humilde que, com esforço, dedica-se a estruturar o futuro do garoto. Ciente de uma vida modesta, Max dedica-se com amor ao esporte e faz dele um objetivo de vida rumo a um sonho: competir pelo Brasil nas Olimpíadas. O roteiro da produção é simples, mas enfocado de maneira ideal no personagem do garoto. O drama equilibra-se de maneira sensível, sem parecer exagerado ou fatalista, e ainda consegue expandir temas sobre conflitos naturais da juventude – como o reconhecimento, a procura da identificação própria e a busca pelo pai ausente de Max – sem que se perca o cerne da trama centrado no esporte. Algo que produz uma carga emotiva bem delineada entre os conflitos exteriores e a força interna, evidenciada pela trilha composta pelo maestro José Carlos Martins – inspirada nas obras de Bach –, que dá o tom magistral da jornada em composições que utilizam o piano como base melódica.
Em seu primeiro papel cinematográfico, Caio Castro, que interpreta o personagem central, é apoiado por Tato Gabus Mendes, o primeiro mestre sensei do garoto e quem o acompanha em sua trajetória. Os dois personagens produzem a tradicional equipe de mestre e aprendiz e demonstram muita dedicação em cena, como se os próprios atores acreditassem na história que estão contando. Na infância do personagem, a trama conta ainda com Rosi Campos como a diretora do colégio; Moacyr Franco, que faz o simpático avô de Max; o próprio Trombini sendo testemunha de sua história como um professor de educação física; e Carlos Massa, o Ratinho, em uma pequena participação como um dono de supermercado que apoia o início de carreira do judoca. Porém, ao contrário do que possa ser pressuposto no cartaz, o papel de Sabrina Sato não merece o destaque exagerado oferecido pelo pôster. Mesmo que seja um personagem importante e definidor na história de Max, seu tempo em cena não ultrapassa 10 minutos, e Sato está longe de manter-se ao menos na base de uma interpretação crível, levando-nos a crer que sua figura conhecida talvez tenha sido o motivo de apelo para figurar na divulgação.
Defendida com paixão, a produção é um filme esportivo e sensível. Uma biografia registrada de um aprendiz, que parece nunca escolher os caminhos mais fáceis.