Crítica | Operações de Garantia da Lei e da Ordem
O novo filme de Julia Murat, com codireção de Miguel Antunes Ramos é um arremedo de reportagens, coberturas jornalísticas e flagrantes virtuais que tomam por base as manifestações de cunho progressista que ocorreram recentemente, em especial as que tomaram o Junho de 2013, os protestos que rodearam a Copa de 2014 e mais recentemente, os eventos no entorno do Impeachment de Dilma Rousseff. Operações de Garantia da Lei e da Ordem é dividido em atos, ou melhor em passos que visam mostrar o quão hipócrita e mesquinha é a busca pela manutenção do status quo, independente de quem está no poder.
As primeiras cenas são da presidenta Dilma, que à época, usava seu espaço enquanto comandante em chefe eleita para falar de alguns dos atos mais agressivos dos manifestantes que tomavam as grandes cidades brasileiras. De certa forma, esse foi o modo do documentário denunciar a culpa do Partido dos Trabalhadores e seus representantes em torno da promulgação da Lei Antiterrorismo que possibilita a qualificar manifestantes como terroristas. No entanto, o filme prossegue criticando a mídia manipuladora, em especial a Rede Globo de Televisão e seus demais canais de comunicação.
Há um debruçar aprofundado sobre as coberturas da mídia independente como Mídia Ninja, Coletivo Mariachi e até ao (hoje sumido) Rafucko, mostrando uma época em que praticamente todos esses canais estavam em uma fase embrionária e falando no mesmo tom e língua. A investigação dos cineastas inclui a culpabilização de Bruno Ferreira Teles, um rapaz que ficou famoso por ter sido acusado pela Polícia Militar do Rio de ter arremessado um coquetel molotov nos agentes da lei, sendo tudo isso desmentido graças as muitas câmeras que habitavam essas concentrações. Tal caso também foi bastante investigado em Encriptado (Black Code), de Nick de Pencier, que esteve presente no Festival do Rio, com a diferença que Pencier teve acesso a Bruno diretamente.
Fora o azedume com o modo como a Globo conduz sua Central de Jornalismo, há pouca contestação factual, nem mesmo nos momentos em que se discute as acusações a Marcelo Freixo de ter ligação com os Black Blocks. A sensação ao final é de assistir a um medley dos melhores momentos a respeito de tudo o que aconteceu politicamente nas ruas a partir de junho de 2013, com uma ironia fina e discreta que na maioria dos casos, mostrou pouco ou nada do motivo que a fez vir e o trabalho de Murat e Ramos é mais de curadoria e estudo do que de viés criativo. Não há nada de pejorativo nisso, aliás bons filmes recentes se utilizam de imagens alheias. Doméstica, Pacific, Carnívora são apenas alguns exemplos recentes brasileiros, mas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem era esperado um pouco mais de senso crítico, ou um viés de discussão minimamente desenvolvido.
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