Review | Boston Legal
Boston Legal foi uma daquelas séries que foi chegando sem muito alarde e hoje em dia é considerada uma das melhores séries já transmitidas. Produzida como um spin-off de The Practice, porém, com uma diferença grande em relação ao roteiro de sua percursora, Boston Legal abusava de um humor ácido e irônico.
Com produção e roteiro de David E. Kelley (produtor também de Ally McBeal, The Practice, entre outras), Boston Legal estreou na TV americana em 2004 pela ABC. E talvez por ser uma cria de The Practice, muitos demoraram para apostar no potencial da série, não desmerecendo a original, porém, não acreditavam que a série teria algo novo a acrescentar no que sua antecessora já tinha feito. Ledo engano.
A série trouxe o dia-a-dia de um grande escritório de advocacia, Crane, Poole & Schmidt, focando em seus personagens e seus casos jurídicos diários. Entre seus protagonistas estão ninguém menos que James Spader, onde interpretava Alan Shore, um manipulador e inescrupuloso advogado que passa a trabalhar nesse novo escritório (o personagem de Spader participou da última temporada de The Practice). O outro destaque fica com ninguém menos que William Shatner, que interpretava o advogado egocêntrico e fundador da firma de advocacia, Crane, Poole & Schmidt, Denny Crane, antes um grande advogado, mas que hoje não passa de uma caricatura de si mesmo.
Entre o elenco de apoio, podemos citar Mark Valley, que interpreta Brad Chase, um associado da firma e típico escoteiro, acabou sendo contratado pela firma para dar apoio direto a Denny Crane, já que os demais sócios acreditam que o mesmo só venha a causar problemas. O elenco feminino está repleto de talentos, além de todas serem um colírio e tanto para os olhos. Entre elas temos Rhonda Mitra como Tara Wilson, antiga namorada de Alan Shore, Monica Potter como Lori Colson, uma advogada centrada e um tanto conservadora, Candice Bergen chega durante o meio da temporada interpretando a Sócia Sênior da firma, Shirley Schimidt, que vem a missão de reestruturar o escritório.
As temporadas de Boston Legal sempre deram pouca importância para o elenco de coadjuvantes, havendo uma troca frequente de atores. O ponto forte da série é sem dúvida o desenvolvimento da amizade entre Denny e Shore, que aliás, é de se aplaudir de pé a química entre os dois atores, o que acabou rendendo um Emmy para ambos já em sua primeira temporada. Essa amizade seria desenvolvida com maestria durante toda a série.
O roteiro de Kelley traz textos inteligentes, repletos de humor negro e sarcasmo, com diálogos ácidos e que passa longe dos enlatados americanos, inclusive, a série faz críticas severas ao governo americano, seja através da visão racional de Shore ou do discurso republicano de Crane que beira a ingenuidade muitas vezes, mas vez ou outra, acerta.
Além disso tudo, a série traz uma trilha sonora memorável, tendo sempre ótimos temas de Blues e Jazz tocados durante seus episódios, inclusive um episódio especial de Natal com William Shattner cantando um clássico natalino que dificilmente esquecerei.
Confesso que ao assistir a série, julguei que fosse apenas mais uma série jurídica, mas ela está muito acima disso. Questões morais, religiosas e políticas são abordadas de maneira inteligente e buscando o questionamento do telespectador, ao menos a dúvida razoável sobre esses temas, como um bom advogado deve fazer para convencer um tribunal ou juiz.