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  • Crítica | O Predador (2018)

    Crítica | O Predador (2018)

    Após alguns episódios fracos, crossovers mal malfadados e um universo expandido que varia entre quadrinhos bem legais e outros tão ruins quanto os últimos filmes, a franquia Predador seguia sem muitas esperanças de que dias melhores viriam, prejudicada até pelo fracasso que foi Prometheus e Alien Covenant, últimos filmes da saga rival do personagem criado por John e Jimm Thomas. Shane Black, que atuou no primeiro longa é o responsável pelo roteiro e direção de O Predador e a mudança nos rumos da história prometiam muito mais que a proposição do artigo no título.

    A história de Fred Dekker (Enterprise e Deu a Louca nos Monstros) e Black começa já mostrando o espaço, com uma nave correndo o universo, abrindo um portal e entrando na atmosfera terrestre. Claramente não há uma preocupação em criar suspense nas figuras dos alienígenas caçadores, como houve em praticamente todos os episódios da franquia.

    Apesar de perder-se o efeito surpresa, o texto tem um elemento que tenta substituir isso e em alguns momentos acerta bastante na troca, o foco nos desajustados mentalmente mostrado como personagens humanizados, sentimentais e até evoluídos dá um certo ar de maturidade à trama. Essa exploração de temática se bifurca na história que envolve o agente especial Quinn McKenna (Boyd Holbrook), um militar especialista em resgates e execuções, e que tem uma relação conturbada com seu filho, Rory McKenna (Jacob Tremblay), um menino que possui distúrbios psíquicos.

    Aqui, cada um dos personagens tem seu espaço, ainda que não tenha grande exploração desses arquétipos. A exposição das histórias dos personagens é mais que suficiente para que o espectador se importe com cada um deles, fato que não acontecia sequer com o grupo de brutamontes do O Predador, de 1987, onde todos (exceto o próprio Shane Black) pareciam saídos de um concurso de Mister Universo. Aqui o foco não é num exército de Rambos e Braddocks sendo desconstruídos, e sim na resolução dos problemas via pessoas em que não há qualquer confiança por parte dos que as cercam ou empregam, e isso faz compensar até a falta de carisma de Holbrook, em especial pelas participações de Thomas Jane, Keegan-Michael Key, Augusto Aguilera. Mesmo o chefe de operações Traeger (Sterling K. Brown), que chefia a organização que “pesquisa” sobre o alien parece também ter algum traço de insanidade, mostrando que a loucura parece ser algo impresso na identidade também dos que comandam os soldados, não importando a patente, quem financia e propaga a guerra.

    O problema maior do filme é a utilização máxima de clichês. O conjunto de piadas que está presente em Máquina Mortífera, Beijos e Tiros, Homem de Ferro 3 está lá presente, assim como a química inter-racial entre heróis, em especial na dupla McKenna e Nebraska Williams (um dos cinco loucos, interpretado por Trevante Rhodes) está presente – e também ocorre na dobradinha Jane e Key – além é claro de também exagerar-se demasiado nas frases de efeito e falas descoladas. Parece que todos os personagens passaram por um curso de media training.

    Além desse problema de estereótipos, também existe uma utilização péssima da especialista Casey Bracket vivida por Oliva Munn. A personagem é teoricamente especial, inteligente e expert no assunto que toca os vilões inter-planetários, mas o tempo inteiro ela é posta como a personagem que está lá para embelezar o filme, o que é bizarro, pois isso jamais foi necessário dentro dos outros três capítulos, mesmo com Alice Braga em Predadores. Há uma jogada visual legal, pois em muitos momentos Munn faz lembrar Elpidia Carrillo, a Anna do filme original, mas sua função é bem distante dessa, já que ela é a pessoa responsável por preservar a ciência toda que envolve o contato imediato com essa criatura letal, mas ao menos nesse ponto, o filme não leva quase nada a sério, se assemelhando a filmes de ação descompromissados, como o recente Mega Tubarão, o que é péssimo, pois Predador jamais foi somente um exemplar de filme de ação, sempre discutiu mais, e só colocar uma nova versão bombada do personagem é muito pouco.

    Black traz um filme divertido, engraçado e com um caráter bem definido, de muita diversão, onde o escapismo supera demais a desconstrução de gênero. A reinvenção dele é mais acertada que Predador 2: A Caçada Continua, em especial por não apelar demais para estereótipos estrangeiros, embora nesse não haja uma ironia e crítica social como no longa de Stephen Hopkins. O diferencial dele é a química dos personagens e a valorização dos flagelados, deixando espaço para possíveis continuações, onde claramente haverá um upgrade enorme das forças de defesa da Terra.

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  • Crítica | O Predador (1987)

    Crítica | O Predador (1987)

    Clássico de ação que brinca com elementos de ficção-científica, O Predador é um filme dedicado a prática da competição. O conceito de cadeia alimentar prevê que uma espécie subjugará à outra quando a mais forte julgar necessário ou apenas conveniente. Antes de se estabelecer a tal rivalidade, entre alienígena e homem, é mostrado o chamado à aventura, com a necessidade de convocar um grupo de resgate que iria atrás de um avião pois havia sumido, e a bordo havia um embaixador importante. Tal factoide é apenas um evento genérico e uma desculpa para chamar a atenção da tropa que é mostrada. O exército chama o homem mais importante e qualificado para o caso, Alan “Dutch” Schaefer, vivido pelo astro em ascensão Arnold Schwarzenegger (Comando Para Matar).

    Após medir quem ganharia na queda de braço com seu amigo Dilon (Carl Weathers, o Apollo Creed de Rocky), ele se embrenha na selva, com sua equipe, Mac (Bill Duke), Blain (Jesse Ventura), Billy (Sonny Landham), Poncho Ramírez (Richard Chaves), Hawkins (Shane Black) para lá, bater de frente com alguns asiáticos – os inimigos americanos da vez. Lá, eles descobrem que o ardil não passava de um despiste para executar sumariamente os inimigos, uma vez que Dutch é honrado demais para massacrar opositores sem um motivo ético por trás. A partir desses primeiro tomo, há uma sucessão de desenganos. O grupo tático se enfia numa armadilha na selva, onde conhecem o verdadeiro inimigo, uma criatura humanoide com traços anfibicos e reptilianos.

    O filme de John McTiernan não possui grandes embates físicos, exceto no final. A caça que a criatura faz de suas presas se vale de estratégia, silêncio e muito planejamento. O roteiro de John e James Thomas brinca muito bem com a inevitabilidade da morte, e a solução final para que os heróis tenham uma vitória sobre o inimigo é dada graças ao ocaso, uma vez que Dutch percebe que a lama o camufla sem ter tido a intenção disso.

    Apesar de ser contemporâneo de Rambo – Programado Para Matar, O Predador tem uma duração um pouco maior – 106 minutos -, bem empregados no sentido de apresentar um pouco do plano de fundo dos personagens, construir tensões, além de apresentar um vilão formidável e repleto de mistérios. Bastante econômico, o filme não se perde tempo explicando os motivos que fazem a criatura impingir mau aos soldados e demais terráqueos.

    O Predador tem uma função importante na carreira de Schwarzenegger, que é a de acrescer um filme realmente de qualidade indiscutível, com ação frenética e um adversário a altura. Por mais que Conan – O Bárbaro e Exterminador do Futuro tenham sido filmes com sucesso de público e crítica, é neste longa que o ápice do herói de ação abraça o ator fisiculturista de vez, e sem esse precedente, certamente Exterminador do Futuro 2 não lograria o mesmo êxito que teve, tampouco faria o mesmo sentido.

    Dutch é um comandante repleto de carisma, suas frases feitas funcionam melhor que as de John Matrix, por exemplo, até porque aqui se teme pelo perigo que ele e seus amigos passam. O destino do mundo está nas mãos dele e a confiança de que ao final da odisseia o lugar será mais seguro é recompensado, com uma luta complicada e que quase acaba mal para o herói. Da parte do antagonista criado pelos irmãos Thomas, quase todo segmento em que ele fez parte dispõe de tanta criatividade, brilhantismo e simplicidade quanto aqui, ainda que a continuação de 1990 seja de certa forma subestimada.

    https://www.youtube.com/watch?v=I053U33pvr8

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  • Crítica | Dois Caras Legais

    Crítica | Dois Caras Legais

    Dois Caras Legais

    Embora tenham históricos profissionais bastante distintos, em Dois Caras Legais, Ryan Gosling e Russell Crowe apresentam-se uma dupla coesa, irreverente e com uma química há muito esquecida nas comédias de ação.

    The Nice Guys tem um quê de irmãos Coen com um ar setentista que está bastante presente não só na trilha, fotografia e nos demais recursos técnicos, mas também na paleta temática do filme. Os dois protagonistas são investigadores que estão seguindo as pistas do desaparecimento de uma garota chamada Amélia e a morte de uma atriz pornô. Aos poucos, os casos se entrelaçam e os rivais precisam se unir para solucionar ambas as questões.

    O longa, como um todo, abusa do politicamente incorreto em diversos momentos. E é curioso como isso é feito de maneira bastante honesta. Trata-se de um produto nonsense. Ou seja, aqui, esse tipo de humor é muito bem-vindo, pois fica óbvia a intenção do roteiro e da direção de rir com o outro, e não do outro. O humor americano, por vezes reduzido ao pastelão, emerge de maneira bastante funcional e de bom gosto – dentro da proposta do filme, é claro.

    Gosling interpreta um pai solteiro, envolvido em problemas com alcoolismo e está muito bem no papel. Talvez, até melhor que Crowe. A verdade é que as duas personas se complementam de maneira muito agradável, mas o roteiro permite que Gosling brilhe mais. Vem do background dele, também, a personagem mais interessante, sua filha Holly, interpretada pela jovem atriz Angourie Rice. Apesar de a “criança adulta” ser um estereótipo bastante clichê, a atriz entrega uma atuação que consegue se desprender o suficiente desse lugar-comum. Seus momentos em tela funcionam como uma boa dose pueril num filme em que a pornografia está presente como pano de fundo.

    Ainda é cedo para arriscar se o filme dirigido por Shane Black – que fez os sensacionais Máquina Mortífera e Beijos e Tiros e o terrível Homem de Ferro 3 – ganhará uma sequência, mas fica evidente que o roteiro trabalha na tentativa de deixar ganchos que sirvam para a construção do texto de um segundo episódio.

    Os destaques negativos ficam a cargo do timing cômico, que por vezes não funcionou, e do tempo de exibição. Em determinado momento fica difícil não sentir o tempo passar arrastado, sobretudo no arco intermediário. Felizmente, o arco final compensa essa sensação dando uma acelerada no ritmo do desenvolvimento dos plots.

    Dois Caras Legais dificilmente será lembrado como um filme grandioso, mas consegue alcançar o feito de misturar ação e comédia nonsense com acontecimentos críveis, o que não é nada simples. É um ponto bastante positivo na carreira cheia de altos e baixos do diretor.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Máquina Mortífera

    Crítica | Máquina Mortífera

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    Em 1987 começava a franquia Máquina Mortífera. Dirigida em sua totalidade por Richard Donner, este episódio é roteirizado apenas por Shane Black, e apesar dos trabalhos anteriores de ambos flertarem com “histórias de Supertiras dos anos 80”, este Lethal Weapon oferece um pouco mais de conteúdo e substância em comparação com os seus primos cruzados.

    A começar pela dinâmica da dupla de protagonistas – que marcaram época e ditaram tendências. Roger Murtaugh, feito por Danny Glover e Martins Riggs com um Mel Gibson mais canastra do que nunca, são apresentados como dois policiais em momentos bastante distintos. Murtaugh é um afro-americano recém cinquentenário que vive no subúrbio de Los Angeles com uma família que concentra todo o seu foco e considera-se velho demais (clichê repetido muitas vezes em toda a cine-série) para o trabalho de policial em LA. Já Riggs é o novato realocado para o departamento de Roger por ser uma bomba relógio, com sérias tendências suicidas e total desprendimento social, mora em um trailer imundo, fuma como se não houvesse amanhã, não teme morrer, tem um passado trágico que o faz chupar pistolas o tempo todo e pra piorar é um exímio atirador. O grande trunfo do roteiro é a química entre os parceiros que se vêem juntos por obrigação – ao menos no início – mas tornam-se indispensáveis um ao outro, juntos eles aprendem a valorizar o que a vida e o trabalho podem lhe proporcionar, seja apenas a emoção e adrenalina no ofício ou um sentido um pouco maior do que apenas viver “um dia após o outro”.

    Além de ser bastante divertido, questões cotidianas importantes são abordadas: criação de filhos, união familiar, discussão de valores e segurança de entes queridos de policiais, corrupção de membros do alto escalão de órgãos governamentais, tráfico de entorpecentes, prostituição, violência urbana excessiva, mercado de vídeo erótico, ainda que alguns desses temas sejam apenas arranhados. Mesmo tocando nesses assuntos, o episódio ainda é apontado como uma diversão para “toda a família”, graças direção de atores, assim como as mil piadas e absurdos tão comuns nos filmes de brucutus.

    Tudo no filme é engraçado, a começar por um dos vilões, Mister Joshua (Gary Busey), caricato ao máximo e mau por natureza, que é tão ruim que odeia o natal. O ponto alto de sua existência é também onde o filme atinge a escala máxima do “Massa Véio”: após uma perseguição armada, Riggs e Joshua resolvem sua disputa na mão, no quintal de Murtaugh em meio a tempestade que lava os ombros ensangüentados dos heróis – nesse interim os outros policiais cercam os dois, não deixando escapatória ao bandido. O final do embate não poderia ser menos emblemático, com um tiro duplo de Murtaugh/Riggs, que serve como o batismo de sangue e como a representação gráfica de toda a parceria deles ao longo dos episódios seguintes da franquia: um sempre cobriria o outro, essa sempre seria a prioridade.

    A trilha sonora de Michael Kamen pontua muito bem os momentos de tensão, e ajuda a manter o clima do filme. Os solos de saxofone e guitarro em um estilo meio blue/jazz ressaltam as indagações e dúvidas dos personagens, seja as preocupações familiares de Murtaugh ou o instinto suicida de Riggs, sem as músicas de fundo certamente a aura de clássico de Maquina Mortífera não existiria.

    Lethal Weapon é uma metáfora sobre a história de amor e amizades entre dois homens, que descobrem novos sentidos para suas vidas, Murtaugh aprende a aceitar as agruras da idade avançada enquanto Riggs encontra uma nova família e mais motivos para viver além do trabalho. Foi imortalizado pelas atuações carismáticas de Gibson e Glover e funciona muito bem como uma diversão oitentista descompromissada.

    Ouça nosso podcast sobre Máquina Mortífera.