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  • Crítica | V/H/S 2

    Crítica | V/H/S 2

    VHS2-Poster

    V/H/S 2 foi lançado sob muita expectativa. O trailer que o promoveu era interessantíssimo, e havia a promessa de que o filme fosse uma grande produção de horror, trazendo contos que superariam o original. Ocorre que, após o sucesso de seu antecessor, V/H/S, o projeto – novamente sob responsabilidade do criador do site Bloody Disgusting, Brad Miska –, mesmo tentando inovar em certos aspectos, perdeu fôlego, não por repetir a mesma fórmula do filme original, mas por, talvez, ouvir as críticas negativas relativas a detalhes técnicos que a fita tenha recebido – a qualidade técnica do primeiro filme é de fato precária, mas não atrapalha em nada a diversão.

    Ainda assim, V/H/S 2 conta com um dos contos mais insanos já escritos e filmados, superando todas as histórias restantes, inclusive os contos do filme anterior.

    TAPE 49

    Como dito, Brad Miska repete a fórmula que o consagrou, trazendo uma história principal que intercala com os outros contos. Aqui, Simon Barret escreveu e dirigiu Tape 49, que conta a história de um casal de detetives investigando o sumiço de um jovem. Ao adentrar a casa do rapaz, eles se deparam com diversas fitas VHS, às quais passam a assistir em busca de provas.

    Assim como no primeiro filme, a história é vazia e sem graça, não atraindo o espectador em nenhum momento, principalmente aqueles que já estão familiarizados com a franquia.

    PHASE I: CLINICAL TRIALS

    Logo de início, o primeiro conto propriamente dito já mostra o motivo de V/H/S 2 ser menos interessante que o seu antecessor.

    A fita dirigida por Adam Wingard e escrita por Simon Barret se inicia exatamente quando a câmera é ligada. e logo se percebe que o protagonista perdeu um olho e está fazendo um tratamento inovador que consiste na instalação de uma câmera atrás de uma prótese ocular realista, fazendo com que seu cérebro receba as imagens daquilo que a câmera está captando. E não preciso nem dizer que a câmera do rapaz capta mais do que deveria.

    O mais interessante em Clinical Trials são os truques de cinema utilizados em todas as vezes que o protagonista se olha no espelho, pois, teoricamente, a câmera está dentro de seu olho direito e, realmente, parece estar.

    Os pontos negativos se repetem por quase todos os contos, e consistem na qualidade das imagens, todas elas muito nítidas, contradizendo com o padrão (hoje) precário das fitas VHS, além das cenas de susto virem acompanhadas de sons altos de interferência ou trilha sonora, o que mostra certa falta de cuidado com o conteúdo da história, uma vez que usar esse tipo de artifício é como jogar um jogo de videogame com códigos de invencibilidade e munições infinitas. Totalmente sem graça.

    A RIDE IN THE PARK

    Dirigido pela dupla que, respectivamente, dirigiu e produziu o sucesso A Bruxa de Blair, Eduardo Sánchez e Gregg Hale, e escrito por Jamie Nash, A Ride In The Park é uma produção totalmente azarada por um único motivo: The Walking Dead. Talvez, se o grande sucesso apocalíptico zumbi não existisse, esse passeio no parque seria mais interessante. Trazendo um conceito interessante que mostra um ciclista (com sua GoPro acoplada no capacete) sendo atacado por um zumbi, podemos acompanhar sua transformação e o ataque a uma festa de aniversário sob o ponto de vista da câmera no capacete. Porém, todos os zumbis do conto são muito mal feitos, deixando qualquer membro da Zombie Walk aqui no Brasil totalmente orgulhoso de sua maquiagem.

    SAFE HAVEN

    De longe, Safe Haven é o melhor e mais insano conto de toda a franquia V/H/S, E não é por menos, uma vez que a fita é dirigida pelo louco Gareth Evans, responsável pelo premiado filme indonésio Operação Invasão. As cenas de violência que consagraram Evans permanecem intactas, sendo que as cenas de luta dão lugar à mente doentia do roteirista Timo Tjahjanto que, junto com diretor, mostra a história de um grupo de cineastas que estão filmando um documentário sobre uma estranha seita religiosa indonésia, cujo líder – um cidadão muito sinistro, por sinal, está sendo acusado de promover abusos sexuais às crianças da seita entre os demais membros do grupo.

    Para o azar da equipe de filmagem, eles se descobrem exatamente no meio do “juízo final”, a chamada “redenção” dos membros da seita. Sangue. Muito sangue. Assassinatos, suicídios coletivos, pessoas explodindo e uma cena de parto que deixa encabulado até o mais cético.

    Se você não se interessou pela franquia V/H/S, procure por Safe Haven na Internet. É obrigatório.

    SLUMBER PARTY ALIEN ABDUCTION

    Hollywood parece sentir falta de filmes de suspense/terror com temática de abdução por alienígenas, e Slumber Party Alien Abduction, de certa forma, tenta (sem sucesso) preencher o vazio deixado após o lançamento de grandes clássicos como Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Fogo no Céu.

    O segmento se parece bastante com o clássico B de abduções Estranhas Criaturas, de 1998. Com o sucesso de A Bruxa de Blair, o filme, em found footage, conta a história de uma família que, durante o jantar do feriado de Ação de Graças, recebe em sua propriedade a visita de seres extraterrestres nada amigáveis.

    O conto, dirigido pelo talentoso Jason Eisener, diretor de Hobo With a Shotgun, mostra de forma muito inteligente a invasão da residência e consequente abdução de uma família sob o ponto de vista do cachorro da casa, que teve uma câmera acoplada em sua coleira durante uma festa do pijama.

    Mesmo que o filme seja urgente e frenético, os bons momentos da fita são atrapalhados pelo auxílio de sons impertinentes que buscam causar sustos, o que de certa forma deixa o espectador irritado. Numa produção assim, espera-se que a própria trama, aliada a um roteiro e uma direção competente, cause medo por aquilo que está acontecendo em tela, e não por causa de um barulho alto quando se menos espera.

    Mas, em que pesem todos os aspectos negativos, o saldo de V/H/S 2 ainda é positivo, porque além de trazer Safe Haven, possui ótimos momentos, fazendo com que o fã do terror se sinta agraciado com histórias de qualidade criadas e dirigidas por diretores conhecidos ou promissores do cinema underground, sendo exatamente esse o conceito de toda a franquia.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | V/H/S

    Crítica | V/H/S

    A primeira vez que tive contato com a franquia V/H/S foi quando o trailer do segundo filme, V/H/S 2, havia sido lançado. Os fãs de terror e os sites especializados estavam em polvorosa com o conteúdo daqueles poucos minutos. E, sim, o conteúdo era interessantíssimo, intrigante, e principalmente assustador.

    V/H/S é um projeto audacioso de Brad Miska, conhecido por ser um dos fundadores do site Bloody Disgusting, talvez o maior portal sobre terror já feito. Consiste na reunião de curtas-metragens de terror gravados em fitas VHS. O projeto fez muito sucesso, rendendo mais duas continuações, sendo que Miska, ao criar a franquia, entrou em contato com promissores diretores e roteiristas, que entregaram histórias muito bem feitas e principalmente cheias de tensão – algumas delas com finais surpreendentes –, as quais passaremos a analisar a seguir.

    TAPE/56

    Dirigido por Adam Wingard e escrito por Simon Barret, Tape/56 é o curta-metragem base para todas as outras histórias. Um grupo de jovens delinquentes anda pela cidade aprontando pegadinhas, praticando vandalismo e até abusos sexuais, tudo, obviamente, documentado por câmeras. Eles são recrutados por um amigo a invadir uma casa para recuperar a mítica Fita 56. Ao adentrarem a residência, encontram o dono morto, sentado no sofá, em frente a uma televisão, com diversas fitas VHS no chão. Um deles senta-se em frente à tela e começa a assistir à primeira fita VHS, enquanto os outros procuram mais fitas pela casa.

    Tape/56 é o único curta que é intercalado com os outros justamente porque cada um deles é visto por um membro dos delinquentes. De longe, é a história mais fraca, porque contém os clichês menos interessantes dos gêneros de suspense e terror.

    AMATEUR NIGHT

    A primeira fita a que o grupo assiste é dirigida e escrita por David Bruckner, e mostra alguns rapazes se divertindo num pub quando conhecem duas jovens, sendo uma delas bastante esquisita. Após muita bebedeira, eles conseguem convencer as moças a passarem o resto da noite com eles num motel barato. Embora o desfecho da história seja o mais comum possível, o mérito desta fita recai na atuação dos atores, deixando o espectador tenso e com medo, assim como os protagonistas.

    SECOND HONEYMOON

    Second Honeymoon mostra um casal, como o próprio nome já diz, vivendo sua segunda lua de mel, viajando pelos Estados Unidos e dormindo em motéis à beira de estrada. Em uma das noites, eles recebem uma visita inesperada. Aliás, a cena em que a visita aparece é muito bem feita e realmente causa intrigas, fazendo aquele que está assistindo a ela se perguntar várias coisas. O desfecho é muito inesperado, mas totalmente plausível. A fita conta com a direção de Ti West, que também escreveu o curta.

    TUESDAY THE 17TH

    Fita totalmente inspirada em Sexta-Feira 13, Terça-Feira 17 conta a história de quatro amigos indo acampar num local onde uma das personagens jura que foi a sobrevivente de um massacre ocorrido tempos atrás. A semelhança com a história de Jason Voorhees é tão grande que os personagens, inclusive, nadam num lago, em alusão ao Crystal Lake. O que difere do clássico do terror é justamente a ameaça, que, mesmo sendo violentíssima e agressiva, manifesta-se de uma forma que só a câmera consegue captar, por meio de interferências. Muito bom!

    THE SICK THING THAT HAPPENED TO EMILY WHEN SHE WAS YOUNGER

    Dirigido por Joe Swanberg e escrito por Simon Barret, essa talvez seja a fita com o final mais surpreendente de todos. James é um médico que está viajando a trabalho e mantém contato, pela webcam, com sua namorada Emily, que vem reclamando de um inchaço em seu braço. A jovem também acredita que o apartamento para o qual se mudou é mal assombrado. Esse segmento lembra bastante Atividade Paranormal, mais precisamente o quarto filme da franquia, em que algumas das manifestações da entidade se dão enquanto a protagonista conversa por meio da câmera com o namorado. Ao contrário do quarto filme do segmento milionário, The Sick Thing… é muito melhor, com um final que te deixa com um semblante de dúvida, algo que talvez nunca será explicado, mas que demonstra a mente doentia dos roteiristas do projeto.

    10/31/1998

    Como o próprio nome diz, o último conto de V/H/S se passa durante a noite de Dia das Bruxas, em 31/10/1998, e mostra um grupo de rapazes se preparando para uma festa de Halloween que acontecerá numa casa. Ao chegarem ao local, eles percebem que a mansão está aberta, mas vazia, o que é muito estranho. Porém, ao irem ao sótão da mansão, eles descobrem um grupo de homens prestes a assassinar uma moça aprisionada por eles. Aparentemente, trata-se de algum ritual satânico, e os jovens conseguem evitar a morte da garota. Ocorre que, na verdade, eles impediram um exorcismo, e a entidade demoníaca passa a se manifestar pela casa toda. Braços saem pelas paredes, objetos de decoração voam pela casa. Tudo muito bem feito (considerando o orçamento “pobre”) e muito bem conduzido pela direção colaborativa do grupo conhecido como Radio Silence, formado pelos diretores e roteiristas Matt Bettinelli–Olpin, Tyler Gillett, Justin Martinez, Glenn McQuaid e Chad Villela.

    O saldo de V/H/S foi tão positivo que existem outras duas continuações: V/H/S 2, de 2013, e V/H/S Viral, de 2014.

    Quem se preocupa demais com detalhes técnicos ou com a qualidade dos curtas deve passar longe da obra, pois vai reclamar bastante. A impressão é que o projeto foi feito para os fãs mais hard core, aqueles que cresceram assistindo a grandes clássicos do terror, mas que não são um primor de técnica. Outro detalhe importante é que, para alguns, será fácil reconhecer algumas homenagens, ou easter eggs. O estilo é o já desgastado found footage, que, aqui, não é um problema, uma vez que contribui para a tensão dos contos e que de certa forma ajuda a mascarar as falhas técnicas. Que mais fitas e talentos sejam descobertos!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.