Crítica | A Dama Dourada
A Dama Dourada (Woman in Gold, EUA, 2015, Dir: Simon Curtis) é daqueles filmes com uma história tão impressionante que só faria sentido se ela fosse baseada em fatos reais, como é o caso. Quase 50 anos depois, Maria Altman, uma judia austríaca radicada nos EUA, tenta reaver do principal museu da Áustriao quadro A Dama Dourada do pintor Gustav Klimt, roubado pelos nazistas com a conivência do governo austríaco.
O roteiro do desconhecido Alexie Kaye Campbell conseguiu compilar a batalha jurídica de Maria Altman e Randy Shoenberg em uma narrativa de fácil entendimento. Ele acerta ao mostrar de forma didática todas as etapas de um processo complexo e inédito além das implicações, gerando a premissa do filme: a justiça na reparação histórica como o seu principal questionamento, a quem pertence uma obra de arte? A quem o pagou ou ao público?
Campbell também opta por contar em paralelo a história da fuga de Maria da Áustria para os EUA, além do roubo do quadro do Klimt pelos nazistas. Há um diálogo entre as situações e o roteiro acerta ao reforçar a grande discussão.
O roteiro, no entanto, falha ao escolher a via melodramática ao criar vilões e situações que não necessitavam de tanta carga emocional, dessa forma o filme perde muita força. Outro problema narrativo é não dar informações suficientes sobre a situação financeira de Randy, como se manteve depois de pedir demissão.
A direção de Simon Curtis já era conhecida pelo bom filme Sete Dias com Marilyn, e aqui ele mantém uma narrativa visual satisfatória. No entanto, o tom melodramático na escolha de um roteiro que escolheu ir por um caminho fácil diversas vezes, além da direção de atores, pode incomodar.
O elenco é um dos grandes trunfos da obra. Helen Mirren compõe bem Maria Altman, e as participações especiais do ótimo Daniel Brühl e Katie Holmes, e ainda as pontas de Charles Dance e Jonathan Pryce só enriquecem o filme, isso sem esquecer Tatiana Maslany e Max Irons, que dão vida à jovem Maria e seu marido. A maior surpresa, no entanto, vem de uma atuação satisfatória de Ryan Reynolds, que conseguiu imprimir sentimentos críveis ao advogado Randy Shoenberg.
A fotografia de Ross Emery alterna entre o presente do final dos anos 90 em Los Angeles e Viena onde é naturalista, e o passado dos anos 40 em Viena, em que escolhe tons de cinza e bege, além de uma saturação, para marcar a diferenciação entre as épocas. A edição de Peter Lambert segue o roteiro ao mostrar em paralelo os eventos passados sempre dialogando com o presente. Em especial a sequência da fuga de Maria e seu marido dos nazistas e as cenas nos tribunais são a grande contribuição da edição ao filme.
A produção vale a pena para tentar entender a reparação histórica e as suas consequências em diversos níveis.
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Texto de autoria de Pablo Grilo.