Crítica | Sobrenatural: A Origem
Terceira parte da franquia, Sobrenatural – A Origem sobrevive apesar da saída do antigo diretor James Wan – agora ocupando a cadeira de produção executiva – e da substituição pelo roteirista e criador das personagens Leigh Whannell. O começo terno, exibindo uma aura pouco parecida com a adrenalina, devagar, bem diferente das partes um e dois, introduz a simpática Elise Rainier (Lin Shaye), a geriátrica médium que fez suas aparições nos outros episódios e que, de certa forma, conduz a trama.
Elise se compadece da jovem Quinn Brenner (Stefanie Scott), que à procura em saber se os acontecimentos à sua volta têm a ver com a recente morte de sua mãe, acredita estar sendo visitada pelo espírito de sua saudosa parente. A velha senhora prontamente recusa o chamado à aventura, em virtude de seus próprios problemas e dos fantasmas que a seguem, traumatizada após acontecimentos envolvendo o seu antigo companheiro.
Whannell sabe trabalhar bem a atmosfera, reprisando alguns dos bons momentos de Wan, ainda que com uma abordagem diferenciada. O contato de Quinn com os tais espíritos vai aos poucos se agravando, a ponto da personagem quase ter uma morte trágica, o que causa um abalo sentimental e físico significativo. Mesmo os sustos são gradativos e menos recorrentes, refutando de certa forma a fórmula apresentada antes, fazendo do terceiro capítulo menos sensacionalista que as versões do diretor malaio.
A fotografia se vale demasiado de elementos escuros, mostrando pegadas na graxa quando a luz predomina, além de mostrar, quase todo o tempo, sujeiras ligadas à lama, signos universais de imundície da alma. Curioso como a condução logo muda, usando a claridade como elemento de terror.
O argumento utiliza a imobilização do deficiente como artifício para salientar a condição de vulnerável, como de Franklin Hardesty em Massacre da Serra Elétrica de 1974. A casa onde se passa grande parte da trama é composta minuciosamente por uma arquitetura visualmente semelhante a do Hotel Overlook, de O Iluminado, clássico kubrickiano. A tradição de representar o lar do morticínio é uma alegoria ao original Poltergeist – O Fenômeno, de Hooper e Spielberg, além de arrematar os últimos momentos com o vilão dos outros filmes da cinessérie Sobrenatural.
A mudança do gênero é fluída, executada de modo natural, flertando com filmes de possessão. Apesar de não reprisar o brilhantismo dos anteriores, há uma solução ótima para o “resgate da alma”, que beira a pieguice, mas contorna bem o sentimentalismo barato. A direção é inteligente e o roteiro não é imbecilizado, como espera-se das continuações caça-níqueis. Whannell consegue disfarçar bem seus defeitos como diretor, utilizando o roteiro ao seu bel prazer e suplantando as lacunas que faltam no background, o que resulta em um belo trabalho de Sobrenatural – A Origem.