Resenha | Capitão América: O Soldado Invernal
Dando prosseguimento à saga Tempo Esgotado, Ed Brubaker e Steve Epting retornam ao clima de espionagem da história original, continuando a resolução do mistério da identidade do assassino. Aleksander Lukin, um general soviético renegado, assume a máscara da sombra, caracterizando os arquétipos de Joseph Campbell. Sua personagem variava entre um possível aliado da S.H.I.E.L.D. e a óbvia condição de antagonista dos interesses da agência. A posse do artefato mágico danificado, o Cubo Cósmico, mostra que vieram dele as ordens dos assassinatos da saga anterior.
Steve Rogers se recusa a acreditar na “ressurreição” de Bucky Barnes, e mais ainda em sua participação das ações inimigas. Nick Fury revela que ele talvez seja a arma secreta da KGB durante o período da Guerra Fria. Ao finalmente se ver diante da verdade, ele torna-se agressivo e reage de forma espontânea, instintiva e desmedida, quebrando alguns dos objetos do QG. A questão torna-se ainda mais calamitosa graças à explosão de uma arma de destruição em massa em solo americano, orquestrada obviamente por Aleksander Lukin.
Na edição 11, equivalente à parte três do arco, é mostrado um envelope de onde são tirados os arquivos em que é desbaratada a transformação do antigo parceiro-mirim do herói do título, que como seu parceiro exemplar, também fica congelado por bastante tempo. O intuito dos soviéticos em inverter o símbolo norte-americano e voltá-lo contra seus antigos patronos era causar nos seus inimigos um efeito psicológico de inferioridade, e de certa forma conseguiram, ao atingir o primeiro vingador em cheio. As ações do Soldado Invernal aconteceram nos anos 50, com exitosos resultados, quase sempre com bastante violência, especialmente quando os alvos são autoridades ou importantes cidadãos estadunidenses.
A origem do arquivo secreto é desconhecida. Steve Rogers acredita que tenha vindo do próprio Cubo Cósmico. A possibilidade de seu antigo parceiro ter sido manipulado pelos crimes que cometeu não faz com que o herói sinta-se melhor, tampouco o exime do sentimento de auto culpa.
Desde o começo a parceria era controversa, até mesmo Rogers foi bastante arredio com a ideia. No entanto, aceitou o dever pelo valor simbólico que teria um jovem ostentando a bandeira azul, vermelha e branca nos campos de batalha da Europa. O Capitão tenta espairecer e deixar isso de lado, usando o vigilantismo pela noite de Nova York, até que o Falcão é enviado por Fury para auxiliá-lo, para ouvi-lo e entregar seus préstimos como amigo. Na cabeça do mandante da S.H.I.E.L.D., o Sentinela da Liberdade precisava suprir a carência causada pelos últimos fatos e, claro, pelos sentimentos provocados por eles.
O derradeiro argumento começa com o Soldado Invernal mirando o crânio de seu antigo mentor, logo após ele questionar, pela primeira vez em anos, as ordens de Lukin. A reticência em sua atitude demonstra a dualidade em sua psiquê, não sabendo exatamente para quem a sua fidelidade é devida. A esperada sequência de luta entre os dois é interessante pelo aspecto visual dos desenhos de Steve Epting num primeiro momento, e ganha ainda mais importância nos diálogos entre o Bandeiroso e Soldado Invernal, nos quais a troca de farpas acontece devido à chamada de Rogers sobre a antiga identidade de Barnes, e, claro, às referências ao seu ethos há muito abandonado.
O final do embate é construído demasiadamente bem, de modo que o protagonismo acaba por ser dividido igualmente entre os dois “rivais”. O ímpeto de Bucky Barnes é em permanecer no estado de autoengano, ignorando os fatos que ocorreram consigo e como ele lutou até o incidente que o sepultou. A situação de ter de conviver com a própria consciência pesada e com a incômoda sensação de se sentir manipulado faz com que o ex-fantoche soviético busque justiça de seus antigos patronos. Brubaker premia a edição com um plot twist até esperado, se analisado minuciosamente o seu texto, atiçando ainda mais a curiosidade do leitor, ávido por mais histórias desse novo tomo do Capitão América.