Resenha | A Cor da Magia – Terry Pratchett
São poucos os autores que conseguem soltar as amarras e fugir do óbvio, principalmente quando se trata de literatura fantástica, onde frequentemente nos deparamos com uma história repetitiva, com a formúla básica desse genêro, grupos de aventureiros partem com o objetivo de um bem maior, tudo isso somado à criação de um novo mundo, uma nova língua para alguns habitantes desse mundo (tentativa frustrada muitas vezes) e os personagens de sempre com suas personalidades batidas.
Não precisa ser grande conhecedor de leitura para notar as semelhanças das histórias de hoje com o que foi criado pelo Professor Tolkien. A velha forma de contar uma história vem sendo repetida inúmeras e inúmeras vezes, achar algo original no meio de tantos autores que têm medo de arriscar não é fácil, mas tem quem se arrisque, e Terry Pratchet é um desses.
A série Discworld já tem mais de 30 títulos lançados, e foi escrita pelo britânico Terry Pratchett. Infelizmente, apenas alguns desses títulos chegaram por aqui, e boa parte deles já estão esgotados e sem previsão de relançamento pela Editora Conrad, responsável pela série no Brasil. A Cor da Magia, primeiro volume da série, foi publicada em 1983 e traduzido e publicado no Brasil apenas em 2001.
A originalidade e o bom humor do autor é um colírio para os olhos, logo nas primeiras páginas ele descreve o mundo dos personagens da série mais ou menos assim: “Tente imaginar o mundo plano, no formato de um disco, esse disco é sustentado por quatro elefantes gigantes(!), e esses quatro elefantes são sustentados por uma tartaruga gigantesca(!!!) que fica vagando pelo universo”. Achou muita maluquice? Você não viu nada.
A Cor da Magia foca na ambientalização do leitor ao mundo apresentado pelo escritor, além de contar a história do mago Rincewind, que sabe apenas um feitiço, mas que nunca o utilizou, pois não se lembra, ou quando lembra tem medo das consequências que ele pode causar e DuasFlor, um viajante maluco e ingênuo que só arruma confusão e é acompanhado por sua bagagem que tem vida própria, com direito a dezenas de perninhas para correr e dentes para proteger quem tentar ameaçar seu dono.
O livro tem personagens fantásticos, como o Morte (sim, aqui ele é um homem), que para mim é o melhor de todos. Morte sempre aparece nos piores momentos, tentando levar a alma de um personagem e, sempre com tiradas de humor negro e sarcasmo. Temos também a espada mágica que não pára de falar nunca e tem poder sobre aquele que a empunha ou ainda um grupo de cientistas que estão desenvolvendo uma pesquisa para descobrir qual o sexo da tartaruga gigante e se ela pode ter relações sexuais com outra tartaruga gigante(?!).
Pratchett abusa das referências mitológicas e lendárias para criar sua história, mas usa tudo isso com extrema originalidade, dando toques de humor e até mesmo críticas a sociedade moderna, não deixando passar nada. Seu roteiro não é pré-delineado, e com isso ele vai brincando com os personagens sem se sentir obrigado a seguir o caminho habitual de boa parte das histórias que vemos por aí.
A Cor da Magia é extremamente recomendado, uma pena ter esgotado e a Conrad não ter planos de republicá-lo tão cedo, aproveito a oportunidade para fazer um apelo a Conrad que republique os volumes que estão esgotados ou que outra editora compre os direitos da série, porque eu quero garantir os meus.