Crítica | Coach Carter: Treino Para a Vida
Thomas Carter é um diretor especializado em filmes inspiradores e motivacionais. Coach Carter: Treino Para a Vida é um longa que narra a história real de Ken Carter, um dono de loja de artigos esportivos, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. O personagem icônico de Samuel L. Jackson é um homem rígido, com bastante entendimento do esporte e seu caráter transformador, dentro e fora das quadras.
O filme é produzido pela MTV e já em seu início fala a respeito de Ty Crane, um jogador fictício do Colégio St. Francis que seria o próximo LeBron James. O drama é apresentado de uma forma rápida e apressada. A narrativa se vale de muitas liberdades criativas, e para uma história biográfica isso é bastante complicado.
O time do Oilers é formado por alguns garotos jovens, como Jason Lyle (Channing Tatum); Damien Carter (Robert Ri’chard), filho do treinador; o latino metido com bandidos Timo Cruz (Rick Gonzalez); o promissor jogador Junior Battle (Nana Gbewonyo); o esperto e rápido Worm (Antwon Tanner); e claro, Kenyon Stone (Rob Brown) que tem que lidar com questões de paternidade não-planejada. Cada um deles tem um certo tempo de tela, e isso o torna arrastado em diversos momentos e se perca em meio a narrativa.
Ao menos a abordagem não é simplista quanto a jornada, os jogadores variam entre o receio de sair do time e insubordinações, mas não é uma historia livre de percalços, e os métodos do treinador são constantemente contestados pelos alunos. Além disso tudo, Carter tem dificuldades extracurriculares, pois ele passa da simples função de técnico do time de basquete a educar seus jogadores. A intimidade desses calouros é pesada, alguns tem apenas no basquete uma alternativa para um futuro, como é com Battle e sua mãe, interpretada por Octavia Spencer, e toda a sequência entre a personagem e o professor é um bom exemplo de que não é só a postura dos meninos que é incorreta, e ele também tem que ceder em alguns pontos, dosando isso com suas cobranças contumazes.
O filme gira todo em torno dos métodos, e mesmo com mais de duas horas de duração, mesmo com momentos dramáticos bem graves, há uma preocupação tão grande em adequar os garotos que boa parte da personalidade deles é tolhida. O fato deles terem que utilizar gravata nos dias de jogo conversa com uma postura que David Stern, ex-comissário da NBA empregou na liga profissional, como modo de reprimir o visual ligado a cultura hip-hop entre os jogadores, e essa escolha, pelo código de vestimenta é discutida até hoje como uma atitude preconceituosa do ponto de vista racial. Ter que esconder seu passado e cultura é no mínimo triste, e é um bocado complicado que um dos valores defendidos aqui seja algo semelhante.
Coach Carter é um filme irmão de Duelo de Titãs, trocando obviamente o futebol americano pelo basquete, com ambos baseando-se em histórias reais. A MTV faz um serviço bem semelhante ao que os estúdios Disney fizeram, ainda que resulte em mais situações complicadas. Os momentos decisivos são bem diferentes em abordagem, mas até o momento agridoce das finais são utilizadas como forma de aprendizado.