Tag: thriller jurídico

  • Resenha | O Dossiê Pelicano – John Grisham

    Resenha | O Dossiê Pelicano – John Grisham

    Em uma estante de mil cores e rótulos, na qual você poderia achar os melhores livros do mundo e dos mais diversos assuntos, e tamanhos, haveriam exemplares que nos ganhariam fácil por suas histórias, suas polêmicas, seus personagens célebres que superam a distância entre olho e página e se tornam quase tangíveis – até mesmo pelos traços coloridos de determinada capa, neste mundo de leis visuais soberanas. Outros, porém, nos arrebatariam por suas narrativas, igualmente irresistíveis, e tramas entrelaçadas feito nó de marinheiro, de modo que o conjunto que nos guia torna-se sedutor o bastante para prender a atenção de reles mortais – sedentos por novas realidades e, sempre que possível, novos padrões para se agarrar e alojar novas meia-certezas.

    Fica-nos a dúvida, portanto, se John Grisham sabia estar construindo uma trama dessas com seu famoso O Dossiê Pelicano, já adaptado ao cinema pelo grande cineasta Alan J. Pakula, de Todos os Homens do Presidente, e traduzido para inúmeros idiomas desde sua publicação original, em 1992. Mesmo com sua releitura para o Cinema tendo ficado abaixo do esperado, e com uma capacidade de adaptação um tanto fraca e óbvia para o audiovisual, a obra de Grisham cai fácil no batido lema popular de que “o livro é sempre melhor que o filme”. Isso porque é sob a batuta de seu criador que ficamos a par de todos os detalhes que verdadeiramente movem uma trama mais complexa do que parece ser, inclusive após uma primeira leitura rápida a fim de se tirar conclusões imediatistas, sempre errôneas e superficiais.

    Aqui, temos uma jovem e brilhante estudante americana de direito, Darby Shaw, ainda no começo da faculdade, e seu professor e amante Thomas Callahan, cada vez mais apaixonado e envolvido, junto dela, na morte sem motivação aparente de dois famosos juízes da Suprema Corte dos EUA – um deles, o mais veterano em atividade no país, e outro que escondia sua verdadeira identidade gay de todos, principalmente após sua nomeação ao alto grau de juiz do supremo. Nisso, Shaw prova para si mesmo sua genialidade prematura resolvendo escrever um dossiê minucioso sobre a misteriosa morte desses dois homens tão diferentes, e que em comum tinham apenas o ofício e a nacionalidade. Contudo, suas palavras e teorias estão certas, e antes de irem parar nas mãos do FBI, acabam por chegar nos ouvidos de gente que tem muito a perder com o vazamento de verdades de grande impacto nacional.

    Shaw passa a desconfiar até de sua sombra, contando com poucos amigos e lugares para se esconder, enquanto os capítulos do livro comem sua fé nos outros, sua certeza em sobreviver até o dia seguinte, vagando de hotel em hotel com assassinos podendo estar em qualquer lugar, mas jamais em sua inteligência pessoal – curioso como a personagem tampouco se arrepende de ter revelado seu custoso dossiê, pois se desejam sua cabeça em uma bandeja, é porque suas noções estão cobertas de razão – até demais. Sendo um compêndio de momentos tensos e episódios eletrizantes muitíssimo bem traduzido ao português por Aulyde Soares Rodrigues, e publicado aqui pela Rocco, famosa no Brasil por ser a editora oficial dos livros de Harry Potter, Grisham propõe um estudo aprofundado de como a psicologia humana age sob pressão, e acima de tudo, o enorme preço que uma verdade pode ter para aqueles que não podem pagá-lo, afinal, o que mais impressiona numa leitura como em O Dossiê Pelicano é, sem sombra de dúvidas, o inebriante delinear de sua trama.

    O estilo de Grisham, provocador com sua prosa, seus diálogos curtos, ricos e objetivos, e estimulante no que tange a sua refinada e constante construção narrativa, explorando o lado maquiavélico do poder e das influências políticas, e cooperando para que todos os arcos das personagens ganhem sua digna e devida importância no contexto geral da história, é absolutamente inspirador. Tanto para os seus meros leitores ocasionais, quanto aos futuros escritores e escritoras, ávidos não só por novas palavras, mas por novas maneiras e simetrias irresistíveis de demonstrá-las e jogá-las ao nosso colo com essa rara sagacidade e bom gosto, como é exatamente o caso aqui, ao longo de velozes quatrocentas páginas nas quais podemos adentrar, sem receio, num amplo e imprevisível território de perseguição e desconfiança, coletiva e institucional, irremediáveis.

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  • Resenha | A Intimação – John Grisham

    Resenha | A Intimação – John Grisham

    Reuben Atlee, um velho juiz da pequena cidade de Clanton, Mississipi, envia uma intimação aos filhos, Ray e Forrest, convocando-os para uma reunião de família em Maple Run, a mansão decadente em que passa os dias recluso desde que perdeu as eleições para um candidato mais jovem. Ray, o filho mais velho e formado em Direito, é professor universitário e mora em Charlottesville, Virgínia. Forrest, o mais novo, é um ex-viciado que salta de um emprego a outro. Ray é o primeiro a chegar para a reunião, e encontra o pai morto no sofá e um testamento recém-escrito na escrivaninha. Ao vasculhar os armários em busca de documentos, encontra dezenas de caixas repletas de dinheiro em espécie. E a decisão sobre o que fazer com o dinheiro definirá o que acontecerá com Ray dali em diante.

    Exceto pelo fato de pai e filho serem formados em Direito, a trama não explora muito os meandros do mundo da advocacia, diferentemente da maioria das obras de Grisham. Não há grandes batalhas travadas dentro e fora dos tribunais, nem discursos inflamados dos advogados, nem estratégias explorando brechas nas leis. Mas nem por isso a intriga e o mistério que cercam os personagens são menos interessantes. Aliás, talvez por isso o livro consiga ser mais atraente para aqueles que não se interessam por thrillers jurídicos.

    O suspense do livro é criado por dois mistérios. O primeiro — “de onde veio o dinheiro?” — é bem explorado e se desenrola aos poucos. Afinal, a renda de um juiz, ainda mais um juiz aposentado, não justificaria aquela fortuna. E o leitor, assim como Ray, vai recebendo e seguindo algumas pistas falsas até finalmente encontrar o fio da meada. O outro mistério, o clássico “whodunnit”  — quem está perseguindo e ameaçando Ray — revela-se bem menos interessante e de resolução quase óbvia a partir de certo ponto da narrativa.

    Apesar de pouco explorada no livro, a questão sobre o que fazer ao encontrar tal montante de dinheiro naquelas circunstâncias é bastante cativante. Impossível não parar alguns minutos, várias vezes durante a leitura, e ponderar sobre qual seria nossa reação. Possivelmente daí advenha o maior atrativo do livro, já que em termos de suspense e originalidade da trama ele fica bem aquém de outros romances do autor.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | O Cliente – John Grisham

    Resenha | O Cliente – John Grisham

    Um garoto de 11 anos, Mark Sway, vai para o bosque próximo ao trailer onde mora para fumar escondido com o irmão mais novo, Ricky. Estão no lugar errado, na hora errada, e acabam presenciando algo que não deveriam: o suicídio de um homem. O suicida, um advogado de New Orleans, Jerome Clifford, conta a Mark detalhes sobre o caso em que estava trabalhando. Pressionado tanto pelo FBI quanto pela Máfia, contrata uma advogada cinquentona, Reggie Love, para ajudá-lo a se esquivar da obrigatoriedade de contar o que viu e conseguir proteger sua família.

    Muito antes de Dan Brown, John Grisham já conquistava os leitores com thrillers instigantes praticamente impossíveis de largá-los antes de se chegar ao final. Pode-se dizer que Grisham é especialista em thrillers jurídicos. Não de tribunais, visto que apenas ocasionalmente aborda julgamentos. O que ele explora com desenvoltura são os meandros da lei e a atuação dos advogados. Formado em Direito e especializado em defesa criminal e processos por danos físicos, em seus livros consegue mesclar ao suspense uma boa dose de críticas ao sistema judiciário e às grandes “firmas” de advocacia.

    E este livro não é diferente. E talvez por ter um protagonista de apenas 11 anos, a tensão é amplificada. Apesar de em alguns trechos Mark não agir ou pensar, exatamente como uma criança de sua idade, é sua fragilidade, o fato de estar indefeso frente a adultos manipuladores, que faz o leitor se importar ainda mais com o personagem. Porém, o dramalhão passa longe, não há exagero nas tintas pelo fato de Mark estar sozinho, enquanto a mãe está no hospital acompanhando o irmão mais novo.

    Mark e Reggie são responsáveis pelas respostas mais sarcásticas e divertidas de todo o livro. E esse contraponto é essencial para manter o equilíbrio entre o drama do garoto e o suspense gerado pelas ações de seus perseguidores. Não é de roer as unhas, mas consegue manter um bom ritmo.

    Assim como outros livros do autor, O Cliente teve uma adaptação cinematográfica lançada em 1994. Com roteiro de Akiva Goldsman e dirigido por Joel Schumacher, tem Brad Renfro no papel de Mark Sway e Susan Sarandon como Reggie Love. Bastante fiel ao livro, peca apenas ao não conseguir transpôr o suspense e a tensão do livro para o filme.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | Acima de qualquer suspeita – Scott Turow

    Resenha | Acima de qualquer suspeita – Scott Turow

    Scott Turow é autor consagrado quando se trata de thrillers jurídicos, best-seller em vários países. O livro que iniciou todo esse sucesso do autor e o primeiro de ficção a ser publicado por ele é o Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent), que inclusive virou filme, em 1990.

    A obra trata de Rozat Sabich, conhecido como Rusty, advogado de sucesso e de carreira sólida que um dia é informado da morte de uma colega de trabalho chamada Carolyn Polhemus, que foi vítima de um estupro e depois assassinada. Rusty acaba por ter de investigar o crime, e logo se revela que ele não era só um colega de trabalho da vítima. Rusty e Carolyn tiveram um romance secreto, já que ele sempre foi casado.

    No decorrer da história, Rusty vê a si mesmo envolvido nas circunstâncias misteriosas do assassinato e então é obrigado a provar sua própria inocência, mesmo com todos os fatos, provas e opiniões de amigos dizendo o contrário.

    O livro é daqueles que não se consegue parar de ler, já que sempre há uma mini-reviravolta e tensão no ar. A leitura é fácil e a história é muito dinâmica, sem se prender a jargões e clichês jurídicos. Toda a obra de Turow é muito clara e acessível. Em várias partes da história, temos revelações sobre as personagens no passado e presente e suas intrincadas relações, que, ao passar das páginas, vão deixando o enredo bem mais complexo, o que motiva o leitor querer ler sem parar até o final.

    Por conta de toda o detalhismo do autor, que interliga as personagens e destrincha atos, falas e gestos dos mesmos para revelar suas motivações e suas personalidades, a leitura pode ser um pouco cansativa no começo, mas é parte essencial para o que autor propõe, que é muito mais que simplesmente contar uma história e fazer o leitor passar o tempo. O autor propõe que, com base na caracterização bastante humanizada das personagens, os leitores possam tirar suas próprias conclusões durante a história e descobrir o assassino, dentre aos vários suspeitos que aparecem ao longo do enredo.

    Então, se você quer uma ótima leitura e um ótimo exercício mental, Acima de qualquer suspeita é ideal para você.

    Texto de autoria de Robson Rossi.