Resenha | Star Wars: O Último Comando – Timothy Zhan
O capítulo derradeiro da trilogia de Timothy Zhan retoma o personagem principal em posse de uma importante arma estratégica já que, finalmente, o grão-almirante Thrawn usa a tecnologia de clonagem utilizada pela antiga República. O primeiro tomo se inicia como manda a tradição, a bordo da Quimera, embora exista neste O Último Comando uma maior divisão de ações, entre vilões e mocinhos. A disputa ideológica entre Joruus C’Baoth e Grão-Almirante Thrawn é o aspecto mais interessante, pontuado com um desafio travado entre ambos, com o militar encarregado de tentar levar Leia grávida ao ponto onde está o jedi sombrio.
O argumento dos livros de Zhan decaem muito mas ainda guardam bons momentos como a mostra da resignação e batalha sentimental de Mara Jade ao se aproximar da figura de Luke Skywalker. Além disso, há uma boa repercussão sobre a libertação do Almirante Ackbar que, em momentos anteriores, foi acusado de alta traição pela Aliança Rebelde.
O ancião C’Baoth fica cego em relação a busca pelo poder, tencionando tomar a força os gêmeos Jacen e Jana, herdeiros de Leia. Sua necessidade de ter os rebentos a fim de treina-los eles e torna-los seus alunos na força sombria o deixa arrogante, subestimando e tentando impor seus ditames até mesmo a Thrawn que o mantém perigosamente perto. Caso esta motivação fosse clara, poderia haver um sentido, mas logo o velho homem se contenta com a possibilidade de ter Luke, ou Leia ou Mara Jade com discípulos, demonstrando que suas motivações são pequenas.
Por sua vez, o almirante azulado da raça Chiss segue sóbrio e dominador. Deixando-nos com a impressão deque ele é o grande almirante indicado para tentar remontar o Império, o único capaz de gerar confianças nas tropas que restaram além de possuir inteligência estratégica para tal.
Outra trama evoluída são os sonhos de Mara Jade com seu antigo mestre que lhe ordena assassinar a pessoa por quem se apaixonou. Apesar de repetir o clichê de Ascensão Sombria, o plot é consistente, em especial porque quase todas as tramas secundárias finalizam de forma boba.
Os personagens periféricos tentam a duras penas aparecer neste combate, mas a maioria é apenas citada. Han Solo e Chewbacca prosseguem tentando alistar esforços de contrabandistas e clandestinos em geral, como vinham fazendo antes e participam de algumas ofensivas. A questão dos clones defeituosos também tenta soar interessante mas resulta em algo banal – que pode ou não ter inspirado os eventos de Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith. A análise sobre a saúde desse clones justificaria a questão dos kaminoanos na nova trilogia, grupo que seria os melhores neste ramo. A exploração do tema da raça dos Noghri ganha contornos mais sérios do que antes, um ponto positivo na trama, ainda que haja uma supervalorização evidente próximo ao desfecho.
O esquadrão Rogue é apresentado com uma maior ingerência nos fatos ao ponto de interferirem na batalha política de Leia com o botano Borsk Fey’lya, discussão esta que demonstra que não havia unanimidade sobre o que seria o embrião da Nova República, além de evidenciar as problemáticas de um cenário político verossímil. O livro ajuda a aprofundar a tramóia social desta nova fase, elevando o “combate” ao maniqueísmo barato, utilizando subterfúgios de Luke junto aos Noghri em um comportamento moralmente discutível e pragmático, mas ainda aceitável diante do cenário caótico.
Exceto pelos exageros em seu desfecho, estes fatos são bem executados na história. Zhan consegue estabelecer uma aura interessante, bem menos aventuresca do que aquela apresentada nas películas e mais caucada no militarismo. É no resgate destes conceitos que se nota o principal problema do livro, já que repete aspectos dos filmes da trilogia – em especial O Retorno de Jedi – incluindo até mesmo um ambiente florestal onde Jade e Skywalker discutem a sua relação e a morte do mandatário do Império.
As escolhas do autor para o embate entre Luke e C’Baoth são complicados e com péssimas ideias. Apelar para a emoção em Mara Jade era esperado mas clonar o herói da jornada é uma saída boba e pueril. A versão duplicada de Luke se assemelha ao conceito bruto do Super-Homem Bizarro, mas não tem em sua volta o background que torna o vilão do kriptoniano em algo digno de uma boa discussão, apesar das suas características paródicas. A ideia por trás de Luke banaliza a clonagem e faz a ideia de Timothy Zhan sobre as Guerras dos Clones parecer terrível.
O fim de de ciclo de Joruus C’Baoth é igualmente fraco, imitando os momentos finais de Jedi, tendo como único ponto positivo o encerramento da maldição de Mara Jade. No entanto, o jedi do lado negro – lembrando que o conceito de sith não estava estabelecido ainda – era um adversário secundário, o vilão mais poderoso e bem construído da história teria um fim súbito e anticlimático, mas condizente com toda sua trajetória.
A trilogia Thrawn é um divisor de águas, não só na questão do Universo Expandido, hoje chamado de Legends, mas como no universo de Star Wars em geral, uma vez que diversos elementos dos livros foram agrupados nos filmes de Lucas. O bom caráter bélico iniciado em Herdeiro do Império segue bem sustentado, assim como o carisma e força de seu personagem vilanesco, mas o texto não corresponde a expectativa criada em seu lançamento, tampouco o nível se iguala aos momento icônicos anteriores.O legado de Thrawn se destaca devido aos personagens, porém, sua condução foi prejudicada devido a necessidade comercial, resultando em uma quantidade excessiva de clichês. Pouco para aquilo que era uma espécie de Episódio IX de Star Wars. Dentro das restrições impostas, Zhan fez o possível para manter a harmonia entra a plausibilidade da história política do universo – aliás, nunca antes tão desenvolvida como agora – e a expectativa de aventura escapista, que claramente perde para os episódios do cinema, mas em comparação melhor construída nesta trilogia do que em outros momentos do Universo Expandido.
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