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  • Crítica |  Best F(r)iends: Volume 1

    Crítica | Best F(r)iends: Volume 1

    Após ter seu filme The Room redescoberto quando foi homenageado em O Artista do Desastre, Tommy Wiseau resolveu sair do ostracismo para voltar a atuar, com seu amigo Greg Sestero, em Best F(r)iends: Volume 1, filme de 2017 dirigido por Justin MacGregor. Dessa vez, o roteiro é de Sestero, mas ainda se percebe uma boa dose de contribuição autoral da parte de Tommy.

    O filme começa com John Kortina (Sestero) andando rumo ao nada, com uma placa onde se lê que ele precisa de dinheiro para comprar plutônio, a fim de conseguir mover sua máquina do tempo. Ele está com a barba por fazer e com a camisa branca que usa toda ensanguentada e não se sabe se aquilo é real ou não. Logo, o excêntrico Harvey Lewis (Wiseau) o encontra, e oferece a ela trabalho, no necrotério onde o mesmo cuida de mortos. As conversas dos dois não possuem sentido, Harvey acha que John tem envolvimento com ninjas e samurais e na maioria das vezes, o personagem de Sestero permanece em silêncio, se limitando a balançar a cabeça positivamente na maioria das vezes.

    Kortina é chamado por seu novo amigo de Ninja-Man, e ele guarda algum estranho segredo. Ele é visto bisbilhotando no frigorífico do necrotério, ao mesmo tempo, Lewis tem um estranho hobby, de fazer rostos de cera, copiando as feições dos vivos e principalmente dos mortos. Os dois começam a se envolver emocionalmente, de uma forma tão intensa que faz se perguntar se estariam apaixonados um pelo outro, como muito se perguntou a respeito do que existia entre os seus interpretes, mas logo o roteiro trata de arrumar um interesse romântico para o mais moço dos personagens.

    MacGregor conduz o longa de uma maneira estranha, em alguns pontos ele deixa o filme parecer mais sério e introspectivos, com uma trilha sonora instrumental contínua, que agrega a historia um bocado de mistério dado o quão é hermética, com outros momentos em que as discussões entre os personagens são extremamente fúteis e banais. De certa forma ele evolui o quadro de The Room, pois aparentemente tem uma trama que se importa em ser desenrolada de modo mais sério, ao passo que não abre mão dos muitos clichês, e revela as preferências artísticas de Sestero e Wiseau, com exposição de pôsteres de filmes e atores que ambos admiram, como James Dean, ator talentoso e adepto do método e com atuação completamente diferente da maneira que Sestero e Wiseau interpretam.

    O maior problema do filme mora no fato dele não ter qualquer conclusão,  desse modo não dá para entender direito qual é a intenção de roteirista e diretor ao trazer esse filme à tona, se é seguir o mesmo estilo de The Room com uma técnica mais sofisticada, mas sem deixar de lado o visual típico de produções baratas para a televisão, ou se é justificar um pouco da excentricidade de Wiseau e até de Sestero, uma vez que esse é um produto mais do segundo que do primeiro.

    Há momentos em que a fotografia – assinada pelo diretor, MacGregor, fato que o impediria de entrar para a maioria das premiações de sua época, uma vez que é proibido assinar mais de um aspecto de direção dos filmes – é muito bem empregada, variando bem entre externas e internas, sem perder a fluidez, e em outros, claramente o cineasta filma de maneira desleixada, provavelmente para combinar com o péssimo desempenho de seu elenco.

    O mistério deixado para o final é cretino em um nível absurdo, não há tempo de tela para desenvolver isso, e mais uma vez levanta a possibilidade de acontecer entre os personagens uma relação homo erótica, que é encerrada de maneira bem semelhante as novelas mexicanas e brasileiras, com direito até a uma enigmática cena pós credita que tenta referenciar – ou fazer piada, é bem confusa e perturbadora – aos produtos de David Lynch, soando quase tão hermético quanto, obviamente com toda essa estética diferenciada dos produtos de Sestero e Wiseau.

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  • Resenha | The Disaster Artist – Greg Sestero e Tom Bissell

    Resenha | The Disaster Artist – Greg Sestero e Tom Bissell

    O filme The Room é taxado como um dos piores já feitos.  Por trás desta cômica atrocidade cinematográfica existem histórias de bastidores que valem muito a pena conhecer. Felizmente, tivemos esse privilégio por conta de um dos atores do filme, Greg Sestero, juntamente com Tom Bissell, no livro The Disaster Artist: My Life Inside the Room, the Greatest Bad Movie Ever Made (em tradução livre, O Artista do Desastre: Minha Vida Dentro de The Room, o Melhor Filme Ruim Já Feito).

    Greg iniciou sua trajetória no cinema desde o inicio da vida adulta. Nas inúmeras tentativas e erros, conheceu várias pessoas, entre elas um sujeito bem peculiar com sotaque diferente: Tommy Wiseau. Os dois criaram uma boa amizade e, em dado momento, Tommy convida Greg para participar de um filme de sua autoria. O nome do projeto era The Room.

    Em uma narrativa bem solta, sem palavreado rebuscado ou tentativas de formalidade, o livro se desenvolve de maneira bem fluida, onde Greg conta vários detalhes sobre a produção do filme e, ainda, de sua amizade com Tommy.

    Wiseau realmente é um ser humano fascinante. Algumas coisas ali contadas são difíceis de acreditar, mas fazem muito sentido quando assistimos a The Room. O filme é um reflexo pleno da personalidade e mentalidade de Wiseau, o que é assustador. O livro deixa bem claro que algumas coisas são floreadas para deixar a narrativa mais legal, porém acredito que a maioria do que é contado ali seja real.

    Um ponto interessante é a origem desconhecida do diretor, bem como de sua fortuna. Entre os bastidores de The Room e a própria trajetória profissional de Greg Sestero, temos algumas especulações sobre a origem misteriosa de Tommy, sua idade real, dentre outras coisas.

    Um exercício interessante é assistir a The Room, ler este livro e depois reassistir ao filme. Com isso, The Room ficará dez vezes mais divertido.

    Tommy Wiseau comete diversas atrocidades técnicas na produção do filme. A primeira é ousar atuar, escrever e produzir o filme. Ao invés de alugar, ele comprou duas câmeras, sendo cada uma de filme 35mm e outra HD. Tommy quis gravar com as duas simultaneamente e tornar isso um fato inédito na indústria do cinema. No final das contas, a filmagem em HD sequer foi utilizada.

    Não bastasse a falta de talento, Wiseau se mostrava um tremendo ditador durante as filmagens. Fazia todo o elenco estar no set de filmagens o tempo todo, mesmo que não houvesse cena programada envolvendo aqueles atores. São aleatoriedades que apenas a mente estranha do realizador é capaz de produzir. Outro bom exemplo é ter nomeado o próprio Greg Sestero para ser o Line Producer do filme, mesmo que Greg confesse não fazer ideia do que é isso.

    O livro é um relato bem descontraído sobre a carreira de Greg, sua amizade com Tommy e as desventuras das filmagens de The Room, embora alguns trechos não sejam tão interessantes assim. Se você curte cinema, vale muito a pena conferir este livro, e claro, assista ao filme antes de ler. Por enquanto, o livro não possui tradução para o português brasileiro, entretanto, se você tem um inglês razoável, vale a pena arriscar. A melhor parte de ler em inglês é a facilidade de imaginar Tommy Wiseau dizendo aquelas palavras. Uma fonte inesgotável de sorrisos.

    Compre: The Disaster Artist – Greg Sestero e Tom Bissell.

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  • Crítica | The Room

    Crítica | The Room

    The Room é um caso a ser estudado. Dentre milhares de filmes ruins e mal feitos, ele se destaca por ser horrivelmente bom. E não significa qualidade, muito pelo contrário. O longa é um caso onde todos os planetas se alinharam para fazer o pior filme possível, entretanto o resultado foi uma comédia involuntária, e não o drama planejado.

    O responsável por cometer esta obra é Tommy Wiseau, um cidadão americano proveniente de algum lugar da Europa (?), sotaque estranho e fortuna de origem desconhecida. O sonho de Tommy era ser ator, então decide produzir, dirigir, escrever e atuar seu próprio filme. Acontece que ele está mais próximo de Ed Wood do que de Orson Welles. Eis que surge The Room.

    Os bastidores de produção são tão interessantes quanto a obra em si. Quando mais se sabe dos bastidores, mais legal o filme se torna, pois você assistirá notando cada bizarrice e sabendo “Ah, esta parte foi inserida depois, e ficou muito pior do que deveria”.

    Para início de conversa, Wiseau é um péssimo ator, um péssimo diretor, péssimo roteirista e não tem/tinha noção alguma de como produzir um filme. Ele gastou pequenas fortunas ao prolongar desnecessariamente as filmagens, comprou duas câmeras ao invés de alugar, modificava cenas de forma completamente aleatória, exigia que todo o elenco estivesse presente nas filmagens de todas as cenas, raramente ouvia opiniões dos outros, dentre outros desastres.  É inacreditável como o resultado final tenha ficado tão ruim, e por isso tão divertido.

    Podemos notar problemas até no poster do filme, onde temos a bela face de Tommy Wiseau com cabelos mais curtos, sendo que no filme ele tem cabelos longos. Mas existe uma justificativa plausível: esse foi o poster de divulgação do filme, que permaneceu em uma grande placa cinco anos antes da estréia do filme, ou seja, ele deixou o cabelo crescer até o início das filmagens. E o aluguel dessa placa custou milhares de dólares por mês. Isso mesmo, cinco anos antes da estréia. Quando as filmagens estavam longe de começar.

    A ideia do filme seria um drama sobre Johnny (Wiseau), um cidadão americano médio, relativamente bem sucedido, que estava prestes a se casar com sua amada Lisa (Juliette Danielle). Porém, Lisa inicia um caso amoroso com o melhor amigo de Johnny, Mark (Greg Sestero), e tudo isso culmina em um desfecho trágico. A história é simples, nada especial, poderia ser contada em cinco minutos. Porém, o roteiro de Wiseau tentou desenvolver os personagens, fazer o público criar empatia com Johnny e apresentar um drama bem forte. Ao invés disso, 95% do filme é um amontoado de cenas que não agregam nada, absolutamente nada, à trama. Personagens aparecem e somem do nada, situações que serão completamente ignoradas no minuto seguinte, mudanças de comportamento repentinas, nada dá certo. E por causa de todos esses absurdos é que o filme se torna tão engraçado!

    Mesmo quando a mãe de Lisa diz, do nada, que tem câncer, Lisa reage da forma mais indiferente possível, e tal informação nunca mais é citada. O jovem Denny (Philip Haldiman), além de se mostrar um amante do voyeurismo, diz que ama Lisa, e na frase seguinte diz que ama outra pessoa e que deseja se casar com ela. Johnny pede conselho para seu amigo psicólogo Peter (Kyle Vogt), e na mesma cena, quando Peter dá um conselho, Johnny fica nervoso porque o amigo “vive bancando o psicólogo”. Incongruências de roteiro, frases extremamente artificiais, tudo isso reflete o talento patético do diretor.

    Menção honrosa para as várias cenas de sexo longas, chatas e que, obviamente, não agregam nada ao roteiro.

    As atuações são um show de horrores à parte. Grande destaque ao próprio Wiseau, com suas caras e bocas, entonações péssimas, desenvoltura inexistente e, claro, o jeito de falar bem peculiar. É o pior ator do filme, com folga. Para agravar ainda mais as péssimas atuações, os diálogos não funcionam, são mal escritos e utilizam palavras e expressões que são corriqueiras apenas na mente dele mesmo. Quem assiste ao resultado final deve pensar que o filme foi gravado em 2 dias. Ledo engano. Algumas cenas de poucos segundos demoraram horas devido à incapacidade de Wiseau decorar falas simples, ou até de querer regravar algumas cenas pelo simples fato de querer. O famigerado chroma key do terraço daria um texto à parte. Por que não gravar num terraço real? Porque não.

    Não se limite a assistir compilações de “melhores” cenas no Youtube. Ignore as notas baixas (e altas) que estão pela internet. Assista a esta obra na íntegra e ria de cada momento que transborda falta de aptidão cinematográfica. Diferente de vários filmes trash, este tentou ser de alta qualidade, gastou cerca de seis milhões de dólares para ser produzido e o resultado é simplesmente uma das maiores obras de comédia involuntária da história. Tommy Wiseau prova, de uma vez por todas, que não basta ter uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Ele tinha duas câmeras, alguns milhões de dólares, muitas ideias e nenhum talento. Agora pare de ler este texto e faça um favor a si mesmo: assista The Room.

    PS.: o trailer abaixo é oficial. Confira no site do filme caso duvide.

    https://www.youtube.com/watch?v=EE6RQ8rC8hc

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