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  • Crítica | Top Gun: Ases Indomáveis

    Crítica | Top Gun: Ases Indomáveis

    top-gun-posterMexer com Top Gun: Ases Indomáveis é mexer com a memória afetiva de praticamente uma geração. É impressionante o carinho que as pessoas possuem por esse filme que completou 30 anos no mês de maio passado. Talvez um dos filmes mais influentes da década de 80, uma vez que ditou moda ao popularizar os óculos escuros modelo aviador, Ases Indomáveis ainda transformou Tom Cruise em superastro e é devidamente reconhecido por suas espetaculares sequências de ação e sua excelente trilha sonora, que ajudam a deixar o filme ainda mais eletrizante.

    Na trama, Tom Cruise interpreta Pete “Maverick” Mitchell, um impetuoso piloto que juntamente com seu companheiro Nick “Goose” Bradshaw, herda uma vaga para poder ir para a escola de pilotos de Miramar, conhecida como Top Gun, para poder aprimorar suas habilidades aéreas. Na escola, passa a enfrentar a resistência dos outros pilotos, principalmente a de Iceman (vivido por Val Kilmer), devido ao seu ímpeto e ao passado de seu pai na aeronáutica e ao mesmo tempo, engata um romance com uma mulher que além de ser mais velha, é instrutora da academia.

    O roteiro idealizado por Jim Cash e Jack Epps Jr. não é dos mais intrincados, o que faz com que Top Gun seja de fácil compreensão e muito agradável de ser assistido. Os personagens principais criados por eles são de fácil simpatia, mesmo o antagonista Iceman, que vive atormentando a vida do esquentadinho Maverick. Há de se ressaltar o trabalho que a dupla de roteiristas teve em fazer com que os personagens principais do filme não fossem uma coleção de estereótipos ambulantes. Ninguém é exatamente mocinho ou vilão aqui, ao contrário do que acontecia nos filmes de ação populares na década de 80. Entretanto, os diálogos padecem de naturalidade, chegando ao cúmulo de acontecerem alguns duelos de frases de efeito. Porém, a química entre os personagens acaba eclipsando isso em alguns momentos. Outro ponto bem positivo é como a Guerra Fria é utilizada no filme. Ao contrário de muitas películas que usaram o período histórico para contextualizar suas tramas, em Top Gun ela é brevemente mencionada no início e no final do filme e não desvia a atenção do público da trama principal.

    Quanto à direção, Tony Scott (o irmão mais novo de Ridley Scott) entrega sequências maravilhosas de ação. Em conjunto com o diretor de fotografia Jeffrey L. Kimball, Tony orquestra cenas que primam pelo brilhantismo, ora que algumas são dotadas de grande suspense e outras de ação pura. Tudo fica ainda mais impressionante ao sabermos que praticamente não existem efeitos de computação gráfica nas sequências. Com relação ao drama do protagonista, denota-se mão pesada do diretor, mas nada que seja efetivamente comprometedor. O mesmo pode ser dito com relação ao romance entre Maverick e a protagonista Charlie. Há de se ressaltar negativamente a famigerada sequência do vôlei de praia, que não funciona praticamente pra nada. O próprio diretor afirmou que a intenção dele era ter uma sequência que mostrasse todos os pilotos interagindo, mas a cena simplesmente não funciona e fica parecendo totalmente gratuita.

    Tom Cruise esbanja carisma em sua interpretação de Maverick. Tudo bem que é apenas mais uma atuação dele como o esquentadinho incompreendido, mas aqui foi a sua primeira demonstração de que poderia ser um superastro e sustentar um filme. Cruise domina as cenas e chama a atenção toda para si, sendo somente desafiado justamente por Val Kilmer, o antagonista Iceman. Kilmer aproveitou-se do fato de que Cruise não era muito simpático a ele para criar um personagem realmente enervante e capaz de tirar o protagonista do sério. A tensão entre os dois é indisfarçável. Kelly McGillis se sai bem como o interesse romântico e entrega uma mocinha não convencional, porque é mais velha que o protagonista, muitas vezes dominante na relação e não é uma “donzela em perigo”, pois está em posições hierárquicas (ainda que não seja militar), intelectuais e emocionais superiores às do aviador Maverick. Anthony Edwards tem ótimos momentos como Goose, o companheiro de Cruise, e a participação de Meg Ryan como sua esposa é um ótimo acréscimo ao filme.

    Ainda que aparente a idade que possui, principalmente quanto ao figurino, Top Gun é uma espetacular diversão e um grande filme romântico de ação que merece sempre ser revisitado, ou mesmo visto pela primeira vez.

  • Crítica | Amor à Queima-Roupa

    Crítica | Amor à Queima-Roupa

    Amor à Queima-Roupa

    Em 1993, Tony Scott assinou seu nome na indústria do cinema ao dirigir Amor à Queima-Roupa, uma história de amor pra lá de distorcida, que contava com um elenco impecável e um roteiro original em mãos. O dono desse roteiro era um certo atendente de locadora, fascinado por cinema e aspirante a diretor. Quentin Tarantino.

    Tarantino já havia dirigido Cães de Aluguel em 1992, que não foi tão bem de bilheteria, mas muito bem aceito pela crítica e pelos astros de Hollywood, que ficaram impressionados com o trabalho do diretor e estavam ávidos para trabalhar com ele, deixando de lado até mesmo os cachês exorbitantes que recebiam, apenas para trabalhar com o homem.

    Porquê estou dizendo tudo isso? Porque o roteiro de “Amor à Queima-Roupa” proporcionou ao Tarantino filmar seus “Cães de Aluguel” e como dizem, o resto é história. O fato é que na época em que o roteiro foi vendido, ninguém deu muita importância para ele, até que acabou nas mãos do diretor de Top Gun.

    O filme conta a história de Clarence (Christian Slater), um vendedor solitário que mora em uma loja de quadrinhos e que sua rotina se resume a assistir filmes de artes marciais e passar a noite em lanchonetes. Em uma dessas noites, ele encontra Alabama – interpretada por Patricia Arquette (simplesmente linda) – em uma sessão de filme de Kung-Fu. Alabama é recém chegada na cidade, partiu do interior para conseguir um lugar ao sol na cidade grande.

    A intensidade do amor dos dois é tamanha que ambos decidem se casar no dia seguinte. Porém, Clarence fica incomodado com o passado da garota, que tinha se tornado prostituta a mando de Drexl (Gary Oldman), e Clarence seria seu primeiro cliente. O recém-noivo decide dar às caras ao antigo “patrão” de Alabama, e a coisa termina em massacre e uma mala cheia de cocaína para Clarence, que decide partir rumo a Hollywood para vender toda essa droga para algum grande astro do cinema. Só que essa cocaína tem dono, e são ninguém menos que a máfia italiana.

    Após esse pequeno resumo da trama do filme, é fácil notar o porque ele tem a assinatura de Tarantino. Amor à Queima-Roupa tem todos os elementos que veríamos em seus filmes futuros: Sua paixão por filmes asiáticos e western spaghetti, referências aos quadrinhos de super-heróis, violência desenfreada, diálogos marcantes e sua paixão quase adolescente pelo cinema. A princípio, o roteiro era fragmentado, outra característica típica do Tarantino, mas Tony Scott preferiu deixá-lo linear, o que funciona muito bem. As referências que Tarantino visitaria novamente são inúmeras.

    No longa ainda temos as participações de James Gandolfini, Dennis Hopper, Samuel L. Jackson, Val Kilmer, Brad Pitt, Christopher Walken, apenas para citar alguns. É fácil notar que todos estavam se doando para suas personagens e se divertindo muito com isso. As sequências de diálogos são memoráveis, entre o ponto forte está uma cena onde o pai de Clarence (Hopper) se encontra com o mafioso siciliano (Walken). Brilhante.

    É interessante notar que sempre que comentado sobre Amor à Queima-Roupa, muito se é falado sobre o roteiro de Tarantino e pouco sobre a direção de Tony Scott, porém, isso acaba desmerecendo o trabalho de Scott, que faz uma direção com grandes tomadas e um ótimo trabalho do elenco, é claro, que o roteiro ajuda muito, mas outro diretor poderia destruí-lo, o que não é o caso de Tony Scott.

    Obrigatório para quem quiser entender um pouco do Tarantino antes de ser aclamado pelo mundo como diretor e confirmar que a genialidade do cara, já estava ali desde sempre, repleto de referências que só ele mesmo saberia utilizar por muito tempo.