Crítica | A Família
Com um argumento interessante sobre uma ótica poucas vezes utilizada no filão Mafia Movies, Malavita traduz para a tela a rotina de uma família em que o patriarca Giovanni Manzoni – Robert De Niro – delatou seus paesanos, e está no presente momento realocada no programa de proteção a testemunha, migrando de cidade em cidade na França. A premissa chama atenção, mas o tom sério passa longe deste filme.
Luc Besson parece rememorar seus bons tempos de Quinto Elemento e apresenta uma comédia que parodia os inúmeros clichês de filmes de máfia, assim como o filme citado fazia piadas com ficção científica. É caricato e traz uma violência graficamente inverossímil e até engraçada em alguns pontos.
Os personagens são absurdamente agressivos, não só o pai, que era do crime organizado, mas também os dois filhos, Belle, interpretada por uma fetichista, Dianna Agron, e Warren feito por John D’Leo – o que leva a crer que a sanguinolência está no sangue, e é claro, por parte também de sua esposa Maggie – Michelle Pfeiffer, que possui uma personalidade sociopata tão agressiva e irascível quanto a do marido. O foco do filme é nessa relação familiar, que é mal construída.
O que também não ajuda a ambientar o espectador é a quantidade de incongruências. Giovanni é obviamente perseguido por seus antigos companheiros denunciados, e por isso troca de identidade, no entanto seus filhos e esposa permanecem com seus primeiros nomes intactos. Os Mafia Guys com metralhadoras não acertam as crianças, mas uma menina com pistolas consegue repeli-los e matar alguns, amedrontando os calejados bandidos – a inversão de papéis é uma piada clara, mas muito forçada. Usar a própria propriedade como cemitério para desafetos “apagados” também não é nada aconselhável. O modo como Don Lucchese descobre o paradeiro do traidor também é de uma conveniência absurda, mas é até tolerável em comparação com os outros problemas de roteiro.
Os momentos que retratam o período em que Giovanni estava com a sua “antiga família” são coloridíssimos – época áurea e de felicidade. Robert De Niro volta a fazer um pastiche da sua própria figura, o que é até interessante em dado momento. A relação entre sua vontade de escrever suas memórias é uma alegoria a ânsia por ser notado de novo e não passar o fim de sua vida no anonimato – o paralelo traçado com Os Bons Companheiros é de uma metalinguagem genialmente executada e escancara até para o espectador desatento que a motivação de Giovanni é fugir de ser mais um sujeito ordinário, em muito lembrando o protagonista de Goodfellas, Henry Hill, que não suportava a ideia de não ser alguém importante e que compartilha o mesmo destino de Gio, como protegido do governo federal sem muitos luxos.
Besson faz uma película de pura referência ao gênero, mas num formato caricatural, fazendo piadas com os elementos clichês comuns ao filão. A conclusão é deveras moralista, enfatizando a máxima de que o crime não compensa e que nunca é tarde para a redenção, uma pena, pois com um elenco que reúne De Niro, Vincent Pastore e Tommy Lee Jones, seria comum esperar algo mais maduro e não tão genérico.