É sabido que, atualmente, a mais expressiva parcela daquilo que se entende por entretenimento de massa no Japão tem como protagonistas de suas histórias crianças e adolescentes.Tal fato possuí razões tanto culturais quanto mercadológicas, mas, indubitavelmente, trata-se de um fato. Entretanto, raramente vemos os jovens retratados nas obras como pessoas que poderiam existir em nosso meio de convívio, sendo estes, em sua maioria revestidos por grande nobreza e diversos outros aspectos que pouco condizem com nossa realidade, seres que, mesmo habitando um mundo similar ao nosso – ou, por questões obvias, uma versão amenizada do mesmo –, jamais poderiam existir na caótica sociedade na qual, teoricamente, estão inseridos.
O que acabo de expressar é uma das razões primárias para que muitos evitem animes, mangás e derivados, generalizando-os como histórias bobas e infantis, tal como aqueles que normalmente as protagonizam. Essa é até que uma razão compreensível, mas não cabível, vide que animes como Denpa teki na Kanojo, que exibem um atrativo enredo unica e exclusivamente através da ótica de adolescentes, estão disponíveis a qualquer um.
Quando uma desconhecida garota aproximasse e, não mais do que de repente, jura-lhe obediência, Juuzawa Juu, um notório delinquente juvenil, vê-se arrastado para uma espiral de estranhos eventos, que lhe seriam de pouca relevância caso a garota que agora o serve (contra a sua vontade) não fosse suspeita da serie de brutais assassinatos que assola à cidade. Esse é o ponto de partida da trilogia de novels de Katayama Kentarou (também autor da singular serie Kure-nai) no qual os 2 OVA’s aqui tratados, lançados em meados de 2009, se baseiam. Trata-se de dois instigantes contos de suspense e ação, que, nos quarenta minutos dos quais cada um dispõe, conseguem surpreender com sua casualidade e forma inusitada de narrar os fatos, apresentando mais uma estranha história sobre estranhos colegiais, que, em um divertido contraste, mantem-se imponente como trama investigativa.
Apesar do que acaba de ser dito, é importante ressaltar que trata-se de um anime deveras pesado, que, por mais que adicione momentos engraçados e extrovertidos a seu roteiro, aborda temas como assassinato, estupro, suicídio, bullying e demência; o que é muitíssimo bem apresentado logo à principio, com a belíssima sequência de cortes iniciais. Isso caracteriza um dos grandes méritos da serie: sua visão seca dos fatos e personagens, mostrando que, tal como nós, eles prezam por suas vidas, carregam seus traumas e escondem seus segredos – alguns dos quais jamais tomaremos conhecimento. Todavia, os personagens não são reflexos de jovens comuns do dia a dia. De forma alguma. Eles mais se assemelham a caricaturas dos mesmos, valendo-se de um ou mais aspectos interessantes, gerando assim não personagens realistas, isso não, mas personagens críveis; recurso visualmente bem retratado pelo traço rústico; pesado, mas não incômodo.
Uma vez citadas as qualidades, vejo-me, afim de não gerar expectativas errôneas, obrigado a alerta-los que este anime encontrá-se muito distante do excepcional, extraordinário ou de qualquer outro termo além de bom, ou, quem sabe, muito bom. Pois, por mais virtuoso que seja em determinados aspectos, Denpa teki na Kanojo não agrada tanto em alguns outros, como na animação pouco fluída ou na falta de explicações para com certos ocorridos, como, por exemplo, aquele que ilustra qualquer sinopse à respeito da serie. As poucas respostam podem ser atribuídas a uma representação do inexplicável, algo não tão incomum já visto de forma abstrata em Paprika, Bungaku Shoujo e, como exemplo mais palpável, Sev7n; mas, pela corrida condução do roteiro – o que é plausível, vide a duração de cada OVA–, nesse caso tal artificio, que definitivamente obtêm êxito em intrigar o espectador, pode, infelizmente, acabar por frustra-lo ora ou outra.
As duas histórias, baseadas, respectivamente, no primeiro e terceiro volume das novels de Katayama, mostram-se bem elaboradas e competentes; culminando em uma animação que não requer muito tempo ou dedicação, mas que entrega, pontual como em suas viradas, cenas de ação, comedia e tensão constante, algo deveras satisfatório. Em meio a seus acertos e falhas, Denpa teki na Kanojo comete apenas um erro inaceitável: não possuí ou dá margem à continuações. O que é bastante triste, pois a industria clama por material desse nível.
–
Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.
Resenha muito bem escrita.
Fiquei curiosissima pra conferir. Valeu a dica.
Excelente review!
Não assisti Denpa mas, apartir do escrito aqui, pretendo colocá-lo na minha lista de animações japonesas por vir. Provavelmente alguns animês melhor resenhados acabem entrando da lista na frente deste, mas um dia eu o assistirei.
Nunca havia sequer ouvido falar de Denpa Teki na Kanojo e fico muito grato ao amigo Noots por ter a coragem de trazer ao vortex uma animação japonesa mais underground para um público que, em sua maioria, não curte nem mesmo a animação japonesa mais mainstream.
Dito isto, assumo a enorme parcela otaku de minha personalidade e peço por mais resenhas deste tipo sobre essas obras japonesas pouco conhecidas…
Faltou o Tourinho aqui para dizer: “e tem no filmes com legenda”… :P~~
Parabéns pelo post.
Ja ne!