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  • Review | Sakurasou no Pet na Kanojo

    Review | Sakurasou no Pet na Kanojo

    sakurasou-no-pet-na-kanojoJá mencionei em outros textos o quanto é difícil acompanhar todos os lançamentos de animações japonesas a cada temporada. Os animes e mangás fazem parte de uma indústria cultural poderosa dentro do Japão, e a qual está sempre produzindo bastante coisa nova. Porém, para quem simpatiza com essa mídia oriental, é muito comum darmos atenção para alguns títulos principais que acabam chamando mais atenção do que outros (seja porque já faziam sucesso antes nos mangás ou porque ganham maior destaque pelos estúdios de animação que os produzem). E é por esse motivo que às vezes vale a pena revisitar temporadas passadas e redescobrir títulos que eventualmente passam batidos.

    Em outubro de 2012 era lançado o anime Sakurasou no Pet na Kanojo (A Garota de Estimação da Pensão Sakurasou, em tradução livre), adaptado de uma série de 10 livros (também conhecidos como light novels no Japão), escrita por Hajime Kamoshida e desenhada por Kēji Mizoguchi. Sakurasou é um dos dormitórios do colégio Suimei conhecido por abrigar as personalidades mais excêntricas do colégio. Um dia, o estudante Kanda Sorata é mandado para lá, expulso do dormitório normal porque abrigava e cuidava de inúmeros gatos de rua em seu quarto. A vida de Sorata muda com a chegada da aluna Mashiro Shiina, uma garota que não consegue fazer nada sozinha, exceto pintar e desenhar. Mashiro é uma artista famosa mundialmente pelos seus quadros e Sorata se vê forçado a cuidar dela, dentro de um dormitório com diversas personalidades peculiares.

    Sorata é o típico adolescente comum: indeciso e angustiado com seu futuro. Seu contraponto direto na história é a própria Mashiro, que apesar de ser desajustada socialmente sonha em virar uma mangaka de sucesso (apesar de já ser uma pintora conhecida). Sorata tem dificuldade em aceitar o jeito de Mashiro e às vezes acaba sendo cruel, apesar de começar a nutrir um carinho especial pela garota Na mesma casa, temos também Misaki Kamiigusa, garota hiperativa e bastante talentosa que já tem sua própria série de anime sendo exibida na TV; Jin Mitaka, o mulherengo e, ao mesmo tempo, o mais maduro da casa, que sonha em ser um grande roteirista; e Ryuunosuke Akasaka, programador, gênio e completamente anti-social.

    Sakurasou no Pet na Kanojo é uma comédia romântica dramática leve, que mostra que a beleza está em seus personagens e nas relações que eles têm entre si. É uma história sobre maturidade, crescimento pessoal e relações humanas, que gera um sentimento agradável nas reflexões das situações ordinárias de nossas vidas.

    Sakurasou no Pet na Kanojo poster

    Na primeira impressão Sakurasou no Pet na Kanojo aparenta ser um anime cheio de fan service, com closes de calcinha e humor bobo, mas o anime vai além e busca conversar sobre assuntos delicados de nosso cotidiano. É uma obra sobre o dia a dia que navega muito bem entre o bom humor e dramas adolescentes, como nossas próprias vidas (talvez não com tantos exageros típicos de animações japonesas, mas enfim).

    Sakurasou esbanja momentos engraçados, mas não se envergonha em tratar o lado mais obscuro da vida. Impossível não se identificar com os anseios, medos e inseguranças dos personagens em algum momento, seja no amor não correspondido, nas amizades verdadeiras, nos fracassos profissionais, nos arrependimentos, nas escolhas certas e erradas e tudo o que soma às nossas experiências de vida.

    Talvez esse seja a maior qualidade de Sakurasou no Pet na Kanojo: nos faz sentir em “casa”. Com o passar dos episódios, ver os personagens evoluindo e, apesar das dificuldades, se encontrarem cada um no contexto de suas vidas é gratificante e aquece a alma. Com certeza um título recomendável para quem aprecia animações japonesas de gêneros diferentes dos tradicionais animes de ação e super-poderes.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Review | Gosick

    Review | Gosick

    gosick

    Gosick me foi vendido como um anime totalmente diferente dos shonen comuns. Lembro como se fosse hoje, as letras do título do post de algum blogzinho sobre animes diziam, em CAPS: “GOSICK: DEATH NOTE DE CALCINHA!!”. Na época, não me lembro de ter lido todo o post, mas como gostei muito de Death Note, esse título marcou minha memória.

    Mas o que eu gosto de Death Note tanto assim que faria ver novamente em Gosick? Essa pergunta é muito fácil: Gosto da relação entre o criminoso e seu perseguidor, gosto de nunca saber quando os perigos enfrentados pelo personagem central fazem ou não parte do plano, gosto de como ele aposta em sua inteligência e arrisca sem medo de perder tudo que conquistou. Isso me surpreendeu em Death Note, e era justamente isso que eu esperava ver em Gosick. Não esperava violência e nem sangue, lutas violentas ou perseguições frenéticas como em Death Note, afinal o anime não era direcionado a mim, não era sua obrigação me agradar neste ponto. Impressionante como a linha título de um blog que eu nem me lembro mais o endereço me arrastou para dentro de Gosick, vendeu-me o anime tão bem que o começo arrastado do anime não me fez desistir. Vale dizer, ainda, que sou um fã de animação japonesa e assisto tudo até o final, independente de ser bom ou não. No caso de Gosick, fui adiante mais interessado do que decepcionado com o ritmo do desenho, esperando o momento “puta que pariu, velho, por essa eu não esperava!!”. Acho que estou me adiantando sobre as impressões do desenho, então vamos fazer uma pequena pausa para que eu possa contar o que anime tem a oferecer.

    A trama de Gosick foca seus acontecimentos em torno de um jovem japonês chamado Kujou Kazuya. Kujou é o terceiro filho de um oficial do exército japonês e o anime começa com sua chegada ao reino fictício de Saubure (um pequeno país no centro da Europa) para realizar intercâmbio na famosa Academia Santa Margarida. A academia reúne muito alunos de diferentes lugares e possui uma forte ligação com histórias folclóricas (que fazem muitas referências ao folclore japonês). Uma dessas histórias conta que o visitante que chega à academia durante a primavera traz, consigo, a morte e a destruição. Por ter chegado à Saubure justamente no início da primavera, Kujou passa a ser conhecido como “Shinigami Negro” e é evitado por quase todos os alunos da escola. Em uma de suas caminhadas solitárias pelo terreno da academia, Kujou encontra uma jovem garota loira de cabelos muito compridos. Esta jovem garotinha chama-se Victorique e, não se sabe por que, é evitadas por todas as pessoas da cidade. Para boa parte dos alunos e funcionários da escola, Victorique sequer existia, sendo tomadas por todos como a “fada dourada da biblioteca” (mesmo nome de um personagem em um dos muitos contos que fazem parte do cotidiano dos habitantes da Saubure). Durante boa parte de sua vida, Victorique ficou restrita ao ambiente da biblioteca da academia, por este motivo possui um vasto conhecimento e consegue as respostas para praticamente qualquer desafio que lhe propõem. Seu humor é sempre ácido e ela não se relaciona muito bem com outros humanos, evitando-os a todo o custo e afastando praticamente todos o que tentam se aproximar dela. Por ser muito inteligente e adorar desafios, A Fada Dourada trabalha prestando consultoria ao detetive de polícia Grevil de Blois. Com a chegada de Kujou, estranhos assassinatos e outros crimes começam a acontecer nos arredores de Santa Margarida e o detetive precisa constantemente driblar o mau humor da loirinha para fazê-la ajudar nos casos, enquanto os três (Kujou, Grevil e Victorique) procuram estabelecer uma relação entre os crimes e desvendar o mistério por trás dos acontecimentos misteriosos que arrastam o país para uma iminente guerra.

    A animação da série de mangás criada por Kazuki Sakuraba (Gosick foi o segundo trabalho da autora e o único que fez mais sucesso) ficou a cargo de Nanba Hitoshi (diretor de um OVA de Hajime no Ippo e algumas outras obras bem menores) e do estúdio Bones (Full Metal Alchemist, Soul Eater). O traço aproveitado do original ficou excelente, a coloração é muito bem feita. Victorique tem traços extremamente infantis e, por vezes, passa-se até mesmo por uma boneca, e neste ponto o estúdio acertou bastante no desenho. A animação é bem feita, visto que o roteiro não apresentava grandes dificuldades para ser adaptado. Ainda sobre o roteiro, devo dizer que não me agradou tanto quanto eu esperava, mas tem os seus momentos inteligentes. A comparação com Death Note é injusta e não deveria ter sido feita. Gosick possui um andamento infinitamente mais lento (com exceção de um ou outro episódio que tem uma cena acelerada) e as sacadas de Victorique saem muito mais de uma cartola mágica do que dedução lógica. Durante todo o anime, a loirinha tenta desmistificar o pensamento dos envolvidos nos casos, que tendem sempre a dizer que o que aconteceu foi alguma maldição ou magia. De fato, a única magia do anime está na linha de dedução impossível que Victorique traça em todos os casos. Durante todo o anime, ainda, você observa a Fada e o Shinigami enfrentando casos aleatórios, mas continua assistindo com a esperança de que, ao final dos 24 episódios, todos os crimes vão se cruzar em uma trama maior de algum supervilão, e isso não acontece como você espera. De fato, a única dúvida que anime deixa durante alguns episódios é se Victorique existe no mundo real ou é um produto da mente de Kujou. Neste e em alguns outros pequenos pontos da trama, Gosick consegue exalar um ar “Sherlockeano” e isto é o segundo melhor ponto a se destacar.

    Gosick, ao contrário de Death Note, não é sobre os crimes ou sobre a caça aos criminosos. Ao final do desenho, fica muito claro que a animação fala sobre a interação de dois personagens. O temperamento forte e ácido que Victorique ostenta durante os primeiro episódios do anime vai sendo quebrado pela insistência de Kujou em protegê-la e ajudar nos casos. Como era de se esperar em um anime para menininhas, Gosick fala sobre o casal principal, e sua transformação de dois desconhecidos que convivem apenas para se alfinetarem em um casal que não admite sua relação mas que está profundamente ligado. Provavelmente, se tivessem feito a comparação de Victorique com o doutor Gregory House ao invés de confrontá-la com o personagem L de Death Note, teriam conseguido um resultado mais correto: Victorique é genial e tem conhecimento de sua genialidade. Durante inúmeras situações no desenho, assim como o personagem vivido por Hugh Laurie, a loira se irrita com a ignorância daqueles que estão ao seu redor. Seus sentimentos por Kujou e por Grevil ficam sempre atrás de uma parede espessa feita de ironia, sarcasmo e irritação, tal qual o médico que dá nome à série.

    Se, na época, o título daquele post naquele blog fosse “Gosick: as Aventuras da Dra. House!” eu não criaria expectativas de ver mais um Death Note. Criar expectativas quando se vai começar a ver alguma série geralmente traz problemas para a avaliação ao final mas, neste caso, a comparação com a série da Fox apenas o prepara para o que virá na tela: Um anime que trabalha ao redor um tema (crimes e puzzles em Gosick, doenças em House M.D.) mas que se propõe a mostrar a relação entre personagens e como uma pessoa pode mudar seu comportamento, dependendo de como for tratada pelos que a cercam. Um ótimo anime sobre pessoas, um mediano drama policial.

    gosick poster

  • Review | Denpa teki na Kanojo

    Review | Denpa teki na Kanojo

    denpa-teki-na-kanojo

    É sabido que, atualmente, a mais expressiva parcela daquilo que se entende por entretenimento de massa no Japão tem como protagonistas de suas histórias crianças e adolescentes.Tal fato possuí razões tanto culturais quanto mercadológicas, mas, indubitavelmente, trata-se de um fato. Entretanto, raramente vemos os jovens retratados nas obras como pessoas que poderiam existir em nosso meio de convívio, sendo estes, em sua maioria revestidos por grande nobreza e diversos outros aspectos que pouco condizem com nossa realidade, seres que, mesmo habitando um mundo similar ao nosso – ou, por questões obvias, uma versão amenizada do mesmo –, jamais poderiam existir na caótica sociedade na qual, teoricamente, estão inseridos.

    O que acabo de expressar é uma das razões primárias para que muitos evitem animes, mangás e derivados, generalizando-os como histórias bobas e infantis, tal como aqueles que normalmente as protagonizam. Essa é até que uma razão compreensível, mas não cabível, vide que animes como Denpa teki na Kanojo, que exibem um atrativo enredo  unica e exclusivamente através da ótica de adolescentes, estão disponíveis a qualquer um.

    Quando uma desconhecida garota aproximasse e, não mais do que de repente, jura-lhe obediência, Juuzawa Juu, um notório delinquente juvenil, vê-se arrastado para uma espiral de estranhos eventos, que lhe seriam de pouca relevância caso a garota que agora o serve (contra a sua vontade) não fosse suspeita da serie de brutais assassinatos que assola à cidade. Esse é o ponto de partida da trilogia de novels de Katayama Kentarou (também autor da singular serie Kure-nai) no qual os 2 OVA’s aqui tratados, lançados em meados de 2009, se baseiam. Trata-se de dois instigantes contos de suspense e ação, que, nos quarenta minutos dos quais cada um dispõe, conseguem surpreender com sua casualidade e forma inusitada de narrar os fatos, apresentando mais uma estranha história sobre estranhos colegiais, que, em um divertido contraste, mantem-se imponente como trama investigativa.

    Apesar do que acaba de ser dito, é importante ressaltar que trata-se de um anime deveras pesado, que, por mais que adicione momentos engraçados e extrovertidos a seu roteiro, aborda temas como assassinato, estupro, suicídio, bullying e demência; o que é muitíssimo bem apresentado logo à principio, com a belíssima sequência de cortes iniciais. Isso caracteriza um dos grandes méritos da serie: sua visão seca dos fatos e personagens, mostrando que, tal como nós, eles prezam por suas vidas, carregam seus traumas e escondem seus segredos – alguns dos quais jamais tomaremos conhecimento. Todavia, os personagens não são reflexos de jovens comuns do dia a dia. De forma alguma. Eles mais se assemelham a caricaturas dos mesmos, valendo-se de um ou mais aspectos interessantes, gerando assim não personagens realistas, isso não, mas personagens críveis; recurso visualmente bem retratado pelo traço rústico; pesado, mas não incômodo.

    Uma vez citadas as qualidades, vejo-me, afim de não gerar expectativas errôneas, obrigado a alerta-los que este anime encontrá-se muito distante do excepcional, extraordinário ou de qualquer outro termo além de bom, ou, quem sabe, muito bom. Pois, por mais virtuoso que seja em determinados aspectos, Denpa teki na Kanojo não agrada tanto em alguns outros, como na animação pouco fluída ou na falta de explicações para com certos ocorridos, como, por exemplo, aquele que ilustra qualquer sinopse à respeito da serie. As poucas respostam podem ser atribuídas a uma representação do inexplicável, algo não tão incomum já visto de forma abstrata em Paprika, Bungaku Shoujo e, como exemplo mais palpável, Sev7n; mas, pela corrida condução do roteiro – o que é plausível, vide a duração de cada OVA–, nesse caso tal artificio, que definitivamente obtêm êxito em intrigar o espectador, pode, infelizmente, acabar por frustra-lo ora ou outra.

    As duas histórias, baseadas, respectivamente, no primeiro e terceiro volume das novels de Katayama, mostram-se bem elaboradas e competentes; culminando em uma animação que não requer muito tempo ou dedicação, mas que entrega, pontual como em suas viradas, cenas de ação, comedia e tensão constante, algo deveras satisfatório. Em meio a seus acertos e falhas, Denpa teki na Kanojo comete apenas um erro inaceitável: não possuí ou dá margem à continuações. O que é bastante triste, pois a industria clama por material desse nível.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.