E finalmente a primeira temporada de The Mandalorian chega ao fim, não sem anúncio de que ela retornará no final do ano de 2020. A expectativa em torno de Redemption era grande, especialmente porque caberia ao realizador Taika Waititi a direção desse capítulo. A trama começa imediatamente após ao plano do Mando de Pedro Pascal ter dado errado, com o acréscimo do Moff Gideon de Giancarlo Esposito chamando o grupo de anti heróis a ação.
As primeiras cenas dão conta de uma engraçada inteiração e discussão de troopers em bicicletas speeders, as mesmas vistas em O Retorno de Jedi. Eles tem armaduras deterioradas, sujas e surradas, como a dos rebeldes em Uma Nova Esperança, mostrando o declínio do que antes era um grande, numeroso e portentoso governo tirânico.
É incrível como em meio aos pouco mais de quarenta minutos de exibição ( o maior entre os oito) ao mesmo tempo que há muito drama, há também um clima leve e piadista. Jon Favreau acerta demais no roteiro e na escolha do seu condutor, seja na reutilização de IG-11, na exploração do passado do personagem-título de Pedro Pascal ou simplesmente nas piadas sobre a falta de pontaria dos artilheiros imperiais. Há um equilíbrio no que toca as referências aos fãs de uma maneira muito cuidadosa, diferente da total falta de sutileza dos filmes recentes, em especial A Ascensão Skywalker, mas um pouco de Han Solo – Uma Historia Star Wars também.
Esse é obviamente um capítulo mais expositivo, que faz referências ao mito do Super Homem, a Moisés e até a Jesus Cristo. Toda a mística em volta do estiloso Boba Fett é finalmente justificada na cena em que o Corpo de Combate da elite mandaloriana aparece em massa ajuda a explicar toda a idolatria visual que as crianças e adolescentes tinham com o caçador de recompensas pós Império Contra Ataca – e também faz perguntar o motivo de terem transformado ele em um clone bobo, em Episodio 2- Ataque dos Clones – o encanto do pequeno Mando é exatamente o mesmo que o dos que compravam os bonecos da Kenner e achavam aquele personagem que emboscou Han Solo um sujeito sensacional.
As lutas que Waititi coloca em tela são secas, diretas e visualmente lindas. Quase todos os embates do seriados são de um apuro absurdo, mas essa em especial tem um peso diferenciado, pois há realmente um temor pelos personagens que foram apresentados, mesmo que nenhum deles seja exatamente o mocinho.
A vilania de Gideon não é super exposta. O que se sabe é que ele era um governador imperial bastante agressivo em abordagem, que punha a mão na massa tal qual Tarkin, e que é claramente mais imponente que o General Hux ou Pryde, que são alguns dos opositores da mais nova trilogia. Há mais receio no que se fala sobre o cerco a Alderaan e a Noite das Mil Lágrimas do que o visto nas ações da Primeira Ordem como um todo, inclusive referenciando um momento de conflito tal qual ocorreu no Episódio IV com as tais Guerras Clônicas. Espera-se que jamais tentem filmar tais conflitos, pois certamente a feitoria desses não corresponderia a imaginário de quem gostou de The Mandalorian.
Todos os aspectos técnicos são ótimos, a fotografia ajuda a montar uma atmosfera de tristeza e melancolia, os personagens novos mesmo sem muito tempo fazem diferença, há para quem torcer e por quem se importar, os efeitos práticos são ótimos e por mais que haja na figura do Baby Yoda um resquício de ligação com a força – além de uma breve explicação sobre as habilidades de sua raça – não há uma condição de refém dos jedi ou da religiosidade que era comum na época da antiga república.
A segunda metade do season finale é carregada de emoção, de despedidas e sacrifícios dos personagens. A probabilidade disso tudo soar piegas era grande, mas é incrivelmente bem encaixado em todo o trama previamente estabelecido. Há muito cuidado em toda a produção de The Mandalorian, fato que faz preocupar ter um segundo ano, pois esse é tão auto suficiente, auto contido e foge tanto a histrionismos, sendo basicamente o maior acerto da Disney junto a Os Últimos Jedi, e o longa citado foi tão surrado ao longo do tempo, ao ponto de terem descreditado quase tudo que ocorreu nele no filme subseqüente. O que se espera é que Favreau e seus colegas de produção tenham tempo e não pressão para lidar com a historia e com todos os aspectos que rondam Mando e outros personagens. O que se viu até aqui é algo de beleza ímpar, um objeto cuidadoso e bonito.