Os mais de trinta minutos de episódio tem sido pouco para explorar a pecha de emulação de produto western que Jon Favreau propõe em seu The Mandalorian de Deborah Chow já começa no espaço, a borda da nave de Mando, com o mesmo recebendo mais ordens de Greef Carga (Carl Weathers), para se dirigir até o cliente e finalmente entregar sua encomenda. No caminho, se percebe o risco e vasto cenário suburbano de Star Wars pós queda do Império de Palpatine, em uma observação contemplativa digna de Star Trek, que aliás, também tinha uma ideia de exploração de faroeste espacial tal qual a saga de George Lucas.
Antes de pousar o personagem de Pedro Pascal fala ao seu tripulante, o filhote verde cinquentenário que não mexa com os produtos da nave, afinal aquilo não é um brinquedo, possivelmente um paralelo do roteiro que iguala o alvo citado a pecha de action figure ou as pelúcias que certamente as empresas da Disney venderão baseadas nesse derivado da franquia, mas também é um lembrete de que essa é uma historia seria, sobre pessoas e eventos marginais.
Werner Herzog é imponente ate sem silêncio, seu personagem, sem nome parece um sujeito perigoso e autoritário mesmo com as breve aparições. Sua postura, apesar de não revelar muito de suas intenções, passado e ligações, faz o espectador pensar que ele ou tem ligação ou teve no passado com os imperiais, já que seus capangas usam uniformes de stormtroopers, e já que ele faz experiências com criaturas. O The Sin do subtítulo talvez converse com a questão que emula o Gabinete do Dr Caligari durante o capítulo, mas provavelmente essa pecha esconde outras intenções do personagem vilanesco.
Há mais cenas com a figura misteriosa (e mascarada) que dá ordens e ajuda o mandaloriano de Pascal, e nesse ponto se abre um bocado a questão mitológica do seriado, mostrando que o secretismo dos que restaram da Mandalorian é uma estratégia de força, poder e principalmente sobrevivência. É curioso, porque mesmo amarrando pontas soltas, como a perseguição ao seu passado, não é exatamente didática ou explicita, e a forma gradativa como os segredos se revelam favorecem o lado emocional da trama, que aliás, é muito mais explorada.
A busca por novos trabalhos busca preencher seu vazio, por não ter certezas sobre seu passado, uma versão pretérita de si onde era presa e não predador. Mesmo ao tentar fugir desta situação ele se vê refletindo, sobre quem era, sobre como foi e sobre a entrega que fez, enxergando no alvo um semelhante ao seu eu do passado. Comprometer os outros não parece ser uma enorme preocupação para ele, ao menos não tão grande quanto a de reaver o que havia entregue.
A ação do episodio beira a perfeição, ele é violento, os ataques são secos, a troca de tiros em espaços pequenos faz lembrar demais os combates nos saloons dos clássicos de Sergio Leone e Sergio Corbucci, cuja tensão mora pela possibilidade da morte do “herói” e pela pouca mobilidade que o ambiente claustrofóbico lhe causa.
Chow mistura bem demais elementos de inspirações básicas de Lucas para a franquia, é quase poética a mistura entre Os Sete Samurais e Sete Homens e Um Destino que é empregada, onde a amalgama não é voltada para a trama que se repete em ambas versões, mas sim nos dois estilos diferentes de contar a mesma historia. Clone Wars era pródiga em mostrar ações de caçadores de recompensa, mas ver os mercenários se combatendo aqui é algo único, o sonho de qualquer garoto que assistiu Império Contra Ataca e queria saber mais de Dengar, Boba Fett, Bossk e IG-88, com direito a exploração visual de novas armas novas e visores que não eram explorados quase desde Uma Nova Esperança.
O final do capítulo talvez seja o ponto mais baixo do episódio, apesar de não ser exatamente algo ruim, afinal, sobra tensão e momentos épicos. Até a apelação ao famigerado clichê de Deus Ex Machina, mas a ação mostrada é absurda, e mesmo que a ajuda que o herói recebe sendo de certa forma injustificada. Chow certamente conduz até aqui o melhor dos capítulos, não à toa, já que ela é bem acostumada ao formato de programas de televisão, equilibrando bem o revelar da mitologia, o espelho de expectativa de Mando com o bebê e claro o combate entre contrabandistas e caçadores de recompensa.