Pensado a partir da anárquica cabeça de Dan O’Bannon, junto a Ronald Shusett, o filme do novato Ridley Scott exibe um futuro sujo, com o espaço atuando como campo ideal para caminhoneiros maltrapilhos ganharem suas vidas. O veículo Nostromo leva 20 milhões de toneladas de minério, e seus tripulantes são pessoas absolutamente descartáveis, parte integrante de uma sociedade que mal olhava seus convivas, especialmente os das camadas mais populares, como os sete tripulantes.
A versão de 115 minutos começa com a câmera sobrevoando a parte baixa da nave, como uma versão torpe de Guerra nas Estrelas, cujas tomadas são parecidas, mas com espírito diferenciado. A série de homenagens prossegue com os tripulantes levantando da hibernação, semelhante ao que é visto em Planeta dos Macacos de 1968. A arquitetura da Nostromo lembra o design das naves de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, assim como os painéis de controle têm a mesma tecnologia retrô.
A nave é danificada e obriga os viajantes a ficar mais tempo na locação. Na estranha superfície, encontram um “recipiente” estranho. Dentro da nave, os exploradores veem uma criatura grande, alta, fossilizada, com os ossos para fora, num prenúncio do mal que acometeria a equipe de sete passageiros. A viscosidade das ovas, concebidas pelo artista plástico suíço (e louco) H. R. Giger, lembra elementos sexuais, como quase tudo envolvendo a “criatura”, associando a figura nefasta, anunciadora da morte, ao pecado moral do coito, resgatando mais um dos elementos comuns nos filmes de terror.
Ridley Scott resgata a prerrogativa que Roman Polanski utilizou em Bebê de Rosemary, unicamente para pervertê-la em outros aspectos, apresentando a junção entre criaturas completamente diferentes, entre o homem e seu predador, com quase todas as consequências vistas no suspense em que o filho do Anticristo nascia. Entre as duas obras, há o foco na catástrofe e na inexorabilidade da existência do mal, além das enormes chances de que este vença com uma carga um pouco mais positiva do que a do filme de 1979.
Uma das cenas adicionais mostra Ripley encontrando a base da criatura, com Dallas agonizando, envolto em uma substância gosmenta, à espera de que uma das ovas se choque, antecipando o que seria mostrado na continuação de James Cameron, o que desagradou a vontade do diretor. Esta cena extra simboliza a transição entre a figura sexualizada da mulher para um guerreiro em preparação, como um cavaleiro andante rumo ao combate contra um dragão bravo, ainda que não tenha certeza do êxito de sua empreitada. A mudança de gênero é feita de modo genuíno e orgânico. Porém, o terror não acaba nem ao subirem os créditos, nem mesmo com o tranquilo sono de hibernação da heroína de ação.
A pontualidade da trilha de Jerry Goldsmith lembra o esmero utilizado em Nosferatu, com a mesma sinfonia de horror do clássico de F. W. Murnau, acrescida de um suspense atroz, proveniente das partes do filme que não possuem música. O silêncio é muito bem utilizado, fortalecendo a sensação de claustrofobia e extrema solidão tanto de Ripley quanto dos outros caçados.
O último diário de bordo anuncia que Ripley foi a única que sobreviveu, emulando a característica dramática dos clássicos teatrais shakesperianos. A obra, após uma odisseia emocional, entrega um desfecho trágico, cuja sensação de alívio é dada somente a um dos personagens retratados, quando muito. Constatando a produção do filme e comparando-a às suas obras atuais, percebe-se que algo do talento de Ridley Scott foi sepultado também, tendo reprisado momentos tão bons somente em Blade Runner – O Caçador de Androides. Seus ângulos de câmera favorecem a avidez pela sobrevivência, que não atenua ou abranda qualquer sensação ruim para o seu público. Os closes em Weaver, após esta perceber não estar sozinha no módulo de escape, são um resumo de toda a ópera do medo que o diretor resolveu imprimir em sua fita, sucesso este fruto da bestialidade do roteiro unida às figuras grotescas de Giger. O impacto é maximizado em termos de espanto pela câmera inquieta do realizador, sua especialidade em redigir momentos em que o senso de urgência é o mote da história.
Um filmaço, seja a versão original ou estendida. A cena “nova” do Dallas desagradou o Cameron porque estabelecia que qualquer alien poderia botar ovos, não apenas a Alien-Rainha.
Sim João, meio que inviabiliza a franquia inteira.
Mas é curioso, pq há uma ova na nave de Ripley, no começo de Alien 3, e não fica claro se a rainha, vista em Aliens, pôs a parada lá tb.
Ali, foi a Alien-Rainha que botou uns dois (ou três?) ovos quando pegou carona na nave espacial no final do segundo filme.
Sinceramente cara, faz tanto que vi Alien 3 que nem me lembro. Vi a Assembly Cut, mas não tenho certeza do que ali é considerado canon.
No segundo filme, não existe nenhuma cena mostrando a Alien-Rainha botando ovo, mas é o que fica sugerido no começo de Alien 3 (qualquer que seja a versão).
Parece que o Cameron implica bastante com este filme, já que todo o esforço que a Ripley faz para salvar a Newt (e também o Ricks) foi atirado pela janela.
Uma curiosidade é que o Neill Blomkamp (Distrito 9) gostaria de fazer um novo longa da franquia, mas ignorando o terceiro e quarto filmes.
Pô João, o terceiro filme foi tão complicado, me surpreende que tenha sido lançado.
Fincher brigou com toda a produção, e ele foi o terceiro diretor a pegar o projeto, que ja tinha o roteiro tratado por Vicent Ward, depois teve tudo alterado pelo Walter Hill e outro produtor…virou um balaio cara, tudo mt confuso.
Em breve publicarei um Idéias no Vortice sobre a franquia, onde abordarei essas coisas, e possivelmente no podcast temático do Fincher, rolará uma discussão sobre isso, que por si só, já vale um programa inteiro
João, reveja o segundo filme. Quando Ripley volta para resgatar Newt, lá embaixo daquela edificação, ela vê primeiro uma gigantesca “bolsa” que termina numa especie de cloaca, seguindo os olhos na direção oposta, ela percebe que aquilo que está grudado na Rainha (que inclusive faz um esforço para se soltar mais tarde e persegui-las), ok?
Faz aí que a franquia Alien é muito foda (menos os AVP, affe…).